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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Premiados do 7º Festival de Teatro da Amazônia

Premiados e Indicados do 7º Festival de Teatro da Amazônia


Vencedores Temática Infantil

Melhor Maquiagem – Douglas Rodrigues (Essa Tal Natureza)
Melhor Pesquisa Musical – Paulo Marinho (Flicts – o Musical)
Melhor Iluminação – Chico Cardoso (Flicts – o Musical)
Melhor Cenário – Douglas Rodrigues, Dione Maciel e Rivaldo Monteiro (Essa Tal Natureza)
Melhor Figurino – Dione Maciel e Douglas Rodrigues (Essa Tal Natureza)
Melhor Texto – Francis Madson (Por que Pular Degrau Se A Gente Pode Voar?)
Melhor Direção – Ana Cláudia Motta (A Princesa e a Lua)
Melhor Atriz Coadjuvante – Raquel Santos (Essa Tal Natureza)
Melhor Atriz – Carol Santana (Por que Pular Degrau Se A Gente Pode Voar?)
Melhor Ator Coadjuvante – Diego Monzahho (Por que Pular Degrau Se A Gente Pode Voar?)
Melhor Ator – Vicente Henrique (Uma Aventura Mágica contra o Monstro Brigueiro)
Melhor Espetáculo – Brincadeiras (Cia de Teatro Metamorfose)

Vencedores Temática Adulta
Melhor Maquiagem – (OFF) Inferno ou Lave os Céus Para Que Eu Morra (Cia Cacos de Teatro)
Melhor Pesquisa Musical – Suely Rodrigues e Tino Alves (Tira Canga do Boi)
Melhor Iluminação – Daniel Mazzaro (É Proibido Jogar Lixo Neste Local)
Melhor Cenário – Daniel Mazzaro (Flores D’America)
Melhor Figurino – Sibele Gomes (Flores D’America)
Melhor Texto – João Denys (Flores D’America)
Melhor Direção – Diego Monzahho ({OFF} Inferno ou Lave os Céus Para Que Eu Morra)
Melhor Atriz Coadjuvante – Eliézia de Barros (Flores D’America)
Melhor Atriz – Suely Rodrigues (Tira a Canga do Boi)
Melhor Ator Coadjuvante – Alexandre Lemos (Tira a Canga do Boi)
Melhor Ator – Arnaldo Barreto (Dama da Noite)
Melhor Espetáculo – (OFF) Inferno ou Lave os Céus Para Que Eu Morra (Cia Cacos de Teatro)

Indicados Temática Infantil
Melhor Maquiagem
Essa Tal Natureza
Era Uma Vez...
Por que Pular Degrau Se A Gente Pode Voar?

Melhor Pesquisa Musical
Flicts – o Musical
Essa Tal Natureza
Era Uma Vez...
De P...A P...da Paquera ao Parto

Melhor Iluminação
Flicts – o Musical
Essa Tal Natureza
Era Uma Vez...
Brincadeiras
A Princesa e a Lua

Melhor Cenário
Essa Tal Natureza
Brincadeiras

Melhor Figurino
Essa Tal Natureza
Brincadeiras
Era Uma Vez...
A Princesa e a Lua
Por que Pular Degrau Se A Gente Pode Voar?

Melhor Texto
Por que Pular Degrau Se A Gente Pode Voar?
Flicts – o Musical
A Princesa e a Lua
Brincadeiras
Essa Tal Natureza

Melhor Direção
A Princesa e a Lua
Essa Tal Natureza
Brincadeiras
Por que Pular Degrau Se A Gente Pode Voar?

Melhor Atriz Coadjuvante
Essa Tal Natureza

Melhor Atriz
Por que Pular Degrau Se A Gente Pode Voar?
De P...A P...da Paquera ao Parto
Era Uma Vez...
Brincadeiras

Melhor Ator Coadjuvante
Por que Pular Degrau Se A Gente Pode Voar?

Melhor Ator
Uma Aventura Mágica contra o Monstro Brigueiro
Essa Tal Natureza
Brincadeiras
A Princesa e a Lua
Por que Pular Degrau Se A Gente Pode Voar?

Melhor Espetáculo
Brincadeiras
Essa Tal Natureza
A Princesa e a Lua
Por que Pular Degrau Se A Gente Pode Voar?
Flicts – o Musical

Indicados Temática Adulta
Melhor Maquiagem
(OFF) Inferno ou Lave os Céus Para Que Eu Morra

Melhor Pesquisa Musical
Tira Canga do Boi
Eretz Amazônia
Gilda, o Romance da Moça Morta na Cidade Flutuante

Melhor Iluminação
É Proibido Jogar Lixo Neste Local
Feliz Ano Novo
(OFF) Inferno ou Lave os Céus Para Que Eu Morra
Dama da Noite

Melhor Cenário
Flores D’America
(OFF) Inferno ou Lave os Céus Para Que Eu Morra
Dama da Noite
É Proibido Jogar Lixo Neste Local

Melhor Figurino
Flores D’America
Feliz Ano Novo
Hoje Sou Um, Amanhã Outro
Tira A Canga do Boi
Dama da Noite
É Proibido Jogar Lixo Neste Local

Melhor Texto
Flores D’America
Tira A Canga do Boi
Eretz Amazônia
Dama da Noite
Gilda, o Romance da Moça Morta na Cidade Flutuante

Melhor Direção
(OFF) Inferno ou Lave os Céus Para Que Eu Morra
Hoje Sou Um, Amanhã Outro
Tira A Canga do Boi

Melhor Atriz Coadjuvante
Flores D’America
Hoje Sou Um, Amanhã Outro

Melhor Atriz
Tira A Canga do Boi
Hoje Sou Um, Amanhã Outro
Gilda, o Romance da Moça Morta na Cidade Flutuante
Flores D’America
Feliz Ano Novo

Melhor Ator Coadjuvante
Tira A Canga do Boi
Gilda, o Romance da Moça Morta na Cidade Flutuante

Melhor Ator
Dama da Noite
Feliz Ano Novo
Hoje Sou Um, Amanhã Outro
Tira A Canga do Boi
(OFF) Inferno ou Lave os Céus Para Que Eu Morra
Eretz Amazônia
É Proibido Jogar Lixo Neste Local
Gilda, o Romance da Moça Morta na Cidade Flutuante

Melhor Espetáculo
(OFF) Inferno ou Lave os Céus Para Que Eu Morra
Hoje Sou Um, Amanhã Outro
Tira A Canga do Boi
Dama da Noite

*Informações retiradas do Jornal Diário do Amazonas, assim mesmo, constando apenas o nome dos espetáculos

domingo, 17 de outubro de 2010

7º Festival de Teatro da Amazônia / Flores D'América

FLORES D'AMÉRICA

FLORES D’AMÉRICA: ESTREIA DE TEXTO DE JOÃO DENYS NO TEATRO AMAZONAS


*Jorge Bandeira

João Denys é um dos principais dramaturgos do Nordeste, do Brasil. O autor, diretor e professor potiguar, radicado em Pernambuco legou para nosso teatro Deus Danado e Encruzilhada Hamlet, marcos incontestáveis do Teatro feito em nosso país. Agora temos FLORES D’AMÉRICA, dirigido por Daniel Mazzaro e que teve estreia nacional no Teatro Amazonas, no 7º Festival de Teatro da Amazônia. O texto de João Denys é de 2005, quando venceu o cobiçado prêmio “Hermilo Borba Filho” de dramaturgia do Recife.

Os temas que se destacam nesta história bem elaborada e encenada são aqueles do mormaço sertanejo, o cangaço, a dura peleja das mulheres, a religião que encobre tudo, e escamoteia tantas outras coisas. A protagonista deste drama sagaz é Dona América, uma mulher destemida e ousada, que viu filhos morrendo e que luta pela dignidade das filhas Soledade e Das Dores, onde o criador dramatúrgico inspira-se na linguagem popular e no cordel para florear seu texto de uma riqueza vocabular extraordinária. É, antes de tudo, uma lição para todos do cabedal de termos e adjetivos que constituem-se numa cosmogonia da vida nordestina, uma literatura de alto valor antropológico. O texto já seria importante só por este elemento, mas vai além com esta montagem, permeada de ousadias e de um calibre cênico tão forte quanto as armas sertanejas de Dona América.

A velha América, calejada pela vida e cotidiano implacável é o que conhecemos como carola, uma católica que preenche sua calejada vida com as santificações, com os quadros de imagens sagradas, com os terços e rosários, e que devota sua vida, em primeiríssima instância, aos deveres desta devoção. América é fruto direto desta tradição ibérica, de uma religião católica carregada de catolicismo, mas que possui um “charme” histórico que nenhuma vertente do protestantismo consegue alcançar, pois os condicionantes milenares deste culto católico está impregnado em nossa memória, sejamos ou não católicos. É este Brasil mítico de que trata a peça de João Denys, e ele, sabiamente, busca amparo na visão genial de Federico Gárcia Lorca para ter suas criaturas de cena no patamar digno da esfera shakespereana, algo que já fez com primor com sua “Encruzilhada Hamlet”.

O coro que percorre e costura todas as cenas garantem o relevo cômico do espetáculo, aliviando a tensão do drama, valorizando a cena subsequente. E nisso tudo, nesta costura eterna protagonizada pela atuação vívida de Socorro Andrade, mas uma tradição literária nos é brindada neste palco iluminado pela boa direção de Mazzaro: o Realismo Fantástico, nas idas e vindas desta história, entre o real e o imaginário, onde a verdade é feita da e pela boca dos personagens, em especial da própria América e de suas filhas dissimuladas e emuladas ao cataclisma do cinismo e da possessão.

A força do ritual e seus desvios entre o sagrado e o profano é outro achado magistral desta dramaturgia tão máscula e vigorosa, sem dúvida uma das mais vinculadas ao universo do nordestino, pelo poder de comunicação, pela capacidade de colocar em cena a fabulosa tradição oral e das narrativas fabulares do repente, do cordel e dos contadores de história. O espaço cênico é um lugar sagrado, mas que é democraticamente profano, com atos coletivos de celebração, seja nas orações, nos cortejos do coro ou no novenário.

O cenário é esta projeção de um certo desbotamento dos elementos desta religião opressora, mas que não se despreende tão facilmente de seus adeptos, é da cor da terra, de um fauvismo, de uma elaboração de naif estigmatizado como as chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo, diria Dona América. É o triunfo do kitsch cristão, dos quadros de Nossa Senhora, do Sagrado Coração. De um tempo que se cristalizou, por isso o relógio sem ponteiros, parado, centralizado no meio do palco, aprisionando aos personagens em sua “hora eterna”.

A direção de Mazzaro, nesta estreia, conseguiu levar seus atores e atrizes ao desencadear das situações desta sacralidade e profanidade, desta teogonia satírica, o que a afasta de um Milagre, pois as santificações todas são meros exemplos para a superação via Realismo Fantástico, e é nessa Macondo nordestina que adentramos, espectadores cientes do jogo, que emociona e acalenta, que nos assoberba, mas que também nos bate com a palmatória. A atuação de todos os agentes cênicos foi organica, com alguns deslizes no texto, numa estreia compreensíveis, e todos fizeram um trabalho de interpretação emoldurando a atuação de Socorro Andrade dos “socorros” que a protagonista precisou, o que fez de sua performance algo bom de se apreciar.

Confesso que no início achei que a voz de Socorro Andrade não aguentaria o jorro de clamor do personagem, num rebento de histerismo vocal que pensei que afetaria a voz da atriz. Enganei-me, pois Socorro Andrade manteve, ao longo do espetáculo, sua voz audível, sem enfraquecer a sua atuação. A maquiagem de Jonatas Sales também foi precisa neste trabalho, sem carregar em demasia as faces, e o trabalho de sonoplastia de Leonel Worton fez com que as passagens sonoras fluíssem naturalmente, destaco as partes incidentais mais intimistas, onde a sensação de estar num local calmo e tranquilo logo em seguida era quebrado pelas situações de conflito tão bem engendradas pelo dramaturgo, e nisso, neste contraste, a sonoplastia teve seu mérito. O figurino, assinado por Sibele Gomes, captou as essencias da atmosfera do texto, com seus mantos e roupas carregadas da ensolação, de um traje que carregava, em si, o peso de uma situação desconfortével. E aqui vou falar da nudez das irmães, da naturalidade tão brilhantemente alcançada pelas duas atrizes, que em nenhum momento deixaram suas dignidades cair por terra. Foi uma cena linda, com lindas mulheres nuas, mas não aquela nudez feita para o deleite dos leitores de revista masculina, mas a nudez como arte, a nudez em seu aparato naturista, natural. Com este espetáculo Daniel Mazzaro insere, definitivamente, a nudez num patamar cênico que há tanto tempo ela merecia, pois estamos no Amazonas, onde esta tradição cultural indígena raramente é posta em cena com este despojamento, com esta coragem. E o público compreendeu perfeitamente o valor intrínseco desta nudez, e se divertiu com a situação das duas irmães nuas, armadas e vestidas de pele, e que saem, naturalmente nuas, pelo corredor iluminado do Teatro Amazonas. Um marco de nossa cena para não esquecermos. Apelativo? Jamais, da maneira precisa com que Mazzaro o fez, trata-se de arte de alto quilate, e aplaudo as atrizes por este pacto sincero de seus corpos com a proposta do espetáculo. O público viu naquela nudez natural um vínculo perdido com a naturalidade do corpo, sem apelações, sem segundas intenções, e por ter a verdade cênica frente a seus olhos, não esqueceu a trama para ver apenas as atrizes nuas. Tudo transcorreu naqueles minutos de nudez total, na mais santificada paz dos sentidos estéticos. Ponto para a direção.

A face de Dona América é calejada, e ela tem sua fortaleza em sua religião ancestral, ela se refugia em seu santuário, com as bençãos do “Padim Ciço”, com sua idolatria amada, seu coração e sua mente são vias sacras de sua existência, de suas dores e decepções. A trama de sua pretensa morte é feita de forma brilhante por João Denys, são diversas e variadas visões, visagens da tradição oral, envolvendo a mitificação, as lendas rurais de um distante nordeste perdido no tempo de nossas memórias, o mito e seu poder de convencimento e uma tradição oral que representa a história em si deste nordeste.

O uso de planos alternados no cenário demonstram que esta ritualização foi pensada em nível cênico nos moldes dos altares sacros, sendo esta visão perceptível ao público no formato de palco italiano. O eterno girar dos pedais das máquinas de costura, de uma urdidura que jamais cessa, de um trabalho de Sísifo na tradição de Albert Camus, este absurdo existencial, são outras referências que destaco, além, obviamente, da shakesperiana projeção das três mulheres nesta imagística de suas imagens figurativas. É o grotesco em cena, e seu vínculo com a morte, onde a cabeça degolada de Dona América foi alvo de um cem número de situações, até ser costurada pela própria. É o cataclisma do caos e do absurdo, onde o jogo mágico e surreal ganha ares de obra-prima.

As costureiras cosem seus infortúnios, jogando suas mandingas e maldições, num círculo interminável de trapaças, de desvios de conduta, de profanidades, fugindo da severidade cristã medieval de Dona América, a matriarca, a mãe da cruzada cristã contra as inutilidades do mundo físico. A linguagem nordestina em sua dignidade “além TV Globo”, não colocando aqueles sotoques animalescos tão comuns pelos novelistas, é outro mérito da direção e do trabalho interpretativo do elenco. A força desta palavra é exatamente não ser caricatural, pois as circunstâncias cênicas já apontam para estas aleivosias, e o excelente texto de João Denys é o principal mote para o funcionamento deste Teatro.

Por conveniência estilística estaciono aqui esta escrita crítica de FLORES D’AMÉRICA, estou na metade de minhas considerações sobre a peça bem oquestrada e dirigida, numa estreia com os erros naturais de uma estreia, mas erros que não redundaram em prejuízos da encenação. Muita coisa anotei, vou continuar, com certeza, este pensar crítico sobre um trabalho de alta magnitude dramatúrgica, belo e perspicaz, que só eleva a nossa tradição nortista e nordestina na História do Teatro feito no Brasil. Merda a todos! Parabéns ao elenco.

*Jorge Bandeira é amazonense de Manaus. Apreciador do Teatro local. Escreve sem se aborrecer, tem na escrita uma forma de prazer .

Manaus, 17 de outubro de 2010.

Encerramento do 7º Festival de Teatro da Amazônia.

sábado, 16 de outubro de 2010

7º Festival de Teatro da Amazônia / Por Que Pular Degraus se a Gente Pode Voar?


PORQUE PULAR DEGRAUS SE A GENTE PODE VOAR?

SE A GENTE PODE VOAR, PORQUE TROPEÇAR NOS DEGRAUS?


* Por Chico Cardoso

O ambiente é estranho, deveria nos situar na garagem de um edifício, entretanto, o palco desnudo, rasgado do sonho, imprime uma sensação demasiado realista, enquanto o onírico é evocado para um jogo teatral que propõe uma transição do mundo real, para o imaginário. Nele, uma rainha cheia de feitiços decretou exílio aos personagens que poderiam, juntos, lhes dar a eternidade. Nessa garagem duas crianças ou quase adolescentes, ficam presas pela queda de energia e tentam usar os degraus da escada do prédio, mas a menina cai gravemente machucada no pé, o que parece ser a chave para a entrada dessa rainha má no mundo real e os arrasta para o seu mundo. Quando os garotos se dão conta de que estão em outro universo, é tarde para voltar ou acordar do pesadelo. Daí começa uma aventura nada empolgante. Mas explico porque mais adiante.

Para alcançar a eternidade, a rainha manda que os meninos embarquem numa viagem estranha para apanhar um pelo do gato prateado, um pedaço da fita do vestido da mulher cara de leque e uma chave com uma espécie de lorde inglês futurista e, caso fracassem, jamais retornariam à garagem do edifício.

Sim, é um espetáculo infantil. Ou pelo menos, na visão da Cia Cacos e do autor/diretor Francis Madson. O que é muito interessante é a liberdade com que essa companhia de teatro, formada por jovens artistas, vem experimentando no palco amazonense. Propõem sair das convenções do teatro infantil e oferecem um quebra cabeça com peças nada convencionais que discutem medo, angustia e o temor que a maldade se torne perene. Ainda que de forma estranha, a cena é fascinante.

Tim Burton, no cinema, por exemplo, criou uma linguagem muito distante da Disney, para contar suas estórias. Seu mundo é macabro e sombrio, mas sempre calçado no onírico, que abranda a linguagem e a deixa poética para o publico infantil, está nos filmes “A Noiva Cadáver” e no mais recente “Alice no País das Maravilhas”. Assim, penso que a Companhia poderá dar um tratamento mais radical na proposta, para que ela se feche e encante mais.

Agora explico porque não empolgou. O que ainda impede a amarração da proposta é a direção acanhada e descuidada, principalmente, com as técnicas vocais necessárias para desnudar o palco. Isso fez com que o texto escapasse, prejudicando a construção cênica da estória. O público não entrou no jogo. A Rainha exagerada em suas expressões, voz esganiçada e ilegível, apagou o brilho do figurino criativo e da própria personagem. Totalmente ilegível ficou a voz do ator que interpreta o Lorde. Ele jogou todo seu texto fora. A mulher cara de leque, que pareceu ser belíssima, interpretada por Taciano Soares, toma distância do espectador, justamente por não deixar fluir a voz e por vezes, esconder as falar que tornariam mais claras as intenções da personagem, neste caso foi o figurino, que mete o leque na frente da boca do ator. Destaque para o gato, interpretado por Dyego Monzzaho, cuja projeção vocal alcançou o espectador e foi a personagem mais cativante, paradigma a ser seguido na companhia. Quanto a menina e menino, não fica claro se crianças ou adolescentes, posto que o ator proponha em sua interpretação uma limpeza daquele irritante traço infantilóide, para o qual a atriz resvalou. Descuido, portanto, da direção.

O texto é contemporâneo, a soma de seus ingredientes fortalece a proposta inovadora para o jogo teatral. O resultado no palco acaba não valorizando o que é simples na dramaturgia, pois o diretor tentou colocar-se à frente do autor. Se nos é permitido voar na imaginação, a direção não poderia ter tropeçado nos degraus. Esse é o ponto em que a companhia deverá se debruçar nos próximos laboratórios. A direção deste espetáculo precisa redimir o elenco dos tropeços e realinhá-lo para uma interpretação limpa e clara. De qualquer forma temos um belo insight a caminho e, no futuro da Cia Cacos, podemos ter revelações surpreendentes para o teatro infantil.

* Chico Cardoso, diretor teatral.

7º Festival de Teatro da Amazônia / Gilda

GILDA

QUANDO O CINEMA VIRA TEATRO, E O TEATRO REVIVE O CINEMA


Por Jorge Bandeira*

Já estava mais que na hora de escrever sobre GILDA, O ROMANCE DA MOÇA MORTA NA CIDADE FLUTUANTE, escrita pelo dramaturgo dramático Sérgio Cardoso, o nosso mais profícuo escritor para o Teatro no Amazonas. E que também é um de nossos espectadores mais assíduos, o que é invejável, pois assistir o Teatro atual feito por nossos artistas só engrandece a nossa cena. E a dele, que sabe de nossos problemas e busca, em seu Teatro, as soluções possíveis.

Sérgio Cardoso, por isso, talve seja um dos poucos representantes deste Teatro da emergência, da atualidade, do século XXI. Saudosismo não combina, em nada, com este furacão de cena, deste escritor ácido e sarcástico, deste avatar que atira em todas as direções, mas que nos faz pensar sempre sobre a Manaus de nossos sonhos pueris. Gilda, seu trabalho em cartaz, sob a direção de Douglas Rodrigues e com produção de Sérgio Lima, exacerba estas sensações de profundo pesar que recai sobre nossa história. Sérgio é também, neste sentido, um historiador. Sua trama perpassa esta Manaus construída de forma atuleimada, com matizes desbotados pelo tempo e que retorna, triunfal, pela ótica do encenador e de um elenco bastante coeso e firme, onde a atriz Amanda Paiva revigora o papel feminino neste caótico universo em que se engendra a história tragicômica de sua personagem.

Apesar de ser a protagonista destes causos escabrosos, deste comércio desenfreado de seu corpo pelos figurões arrastados pelo crime e pelo vício e taras e manias, temos uma Gilda ciente de que para funcionar a contento, Amanda rebaixou-se ao mesmo nível de seus algozes. Ponto perfeito, nota singular de sua atuação, que estaria num nível confortável mais perigoso se caisse na fácil premissa de ser “a dona da cena”. Ainda bem que esta tentação não vingou em seu trabalho. É uma atriz generosa com seus colegas de cena. E que coadjuvantes de luxo e talento.

Sérgio Lima faz entrar em cena um Lopevega tacanho e irrascível, mas de feitura cênica gentil, feito uma raposa. Roberto Carlos e seu patético inspetor Cintra, na trama selvagem que busca um mundo de lixo e de malversações, aliás, situação que permeia do início ao fim do espetáculo. Por trás de tudo o fétido cheiro do dinheiro podre invade os corpos e as mentes dos devassos comerciais e sexuais. Júlia Soutello é uma Alice que vive dos sonhos gosados por Gilda, de suas práticas sexuais, sendo a cafetina sórdida, manipuladora desta bolsa de valores da putaria generalizada. Fu(o)der é poder!

Gilda, teatro que somente comprova o óbvio, nosso Teatro não deixa nada a desejar aos outros centros produtores de uma cena taetral, capaz de surpreender a muitos que ainda vão ao Teatro pensando numa simples diversão sem reflexão. Agora este modelo está completo, você ri descontroladamente de muitas cenas de Gilda, mas ao sair, creio eu, em minha inútil pretensão de crítico, que algo se preencheu ao seu ser, que aprende um pouco mais de nossa história citadina pelo fio cortante e esclarecedor do dramaturgo e desta montagem. Voltemos ao elenco, pois a valorização destes atores é o que me importa, e não escrevo de encomenda, o que me move é minha emoção e a razão que faço prevalecer quando sinto que estou saindo do foco crítico. E escrevo somente sobre o que me inquieta, que me faz pensar.

O ator Cleinaldo Marinho detém a rara qualidade de uma voz vigorosa em nossa cena local, e seu trabalho de ator certamente um primor neste Gilda, especilamente a delirante cena em cadeiras de roda como Pontes Corvo Morgado, o poeta “poeteiro”, aleijado e pernóstico. Sérgio Cardoso, digitei linhas atrás, não está preocupado em ser politicamente incorreto, pois a política já é carregada por si mesmo de incorreções. Sérgio Cardoso extrapola os limites para chocar mesmo, é um profano, nosso Aristófanes da floresta amazônica, para detonar as falsidades encontradas nos mais escondidos esconderijos do poder, seja o poder político ou da intelectualidade, dos figurões que se locupletam nesta Manaus feita de um passado sempre presentificado. Papel de um dramaturgo que resvala pelo viés da História. Sérgio Cardoso é um historiador, insisto.

Hely Pinto, Arnaldo Barreto, Richard Harts, Jean Palladino, Larissa Rufino, Antonio Carlos Junior e Paulo Altallegre completam esta obra cênica, este lampejo de um turbilhão que adentra no teatro amazonense a cada nova investida deste autor que produz vulcanicamente, forjando ásperas cenas que ora são de puro cinema, ora diminuem o diafragma de nossa retina para que nosso foco histórico e crítico alcance com maior precisão(e diversão, senão seria entediante) o labirinto histórico de Manaus. Ao fazer sua ficção, Sérgio Cardoso toca no ponto fucral deste real, através de suas imagens acordamos para brindar este Teatro, estes artistas, nós mesmos.

*Jorge Bandeira é espectador do Teatro Amazonense.

Manaus, 1 de setembro de 2010.



sexta-feira, 15 de outubro de 2010

7º Festival de Teatro da Amazônia / Flicts


FLICTS - O MUSICAL



UMA OUTRA FANTASIA PARA FLICTS


Por Leidson Ferraz*


Já perdi as contas de quantas versões teatrais do Flicts, obra magistral do mineiro Ziraldo, pude assistir. Lembro, em especial, de uma ousada encenação alagoana, com texto onomatopaico e objetos animados em cena. Aquela experiência me marcou muito! Neste ano de 2010, acompanhando pela primeira vez a programação do Festival de Teatro da Amazônia, com o evento em sua sétima edição, eis que me surge, de Manaus, mais um mergulho cênico partindo do livro deste cartunista e escritor de clássicos da literatura para crianças de todas as idades, agora sob o título Flicts – O Musical, uma realização da Companhia de Teatro Apareceu a Margarida, sob direção de Chico Cardoso. É ele o responsável por quase todos os elementos em cena.

A obra original do Ziraldo foi escrita em 1968, ano de revoluções em todo o mundo, e editada já no ano seguinte, exatamente quando o homem chegou a Lua (este é um dado importante). No enredo, Flicts é uma cor frágil, até então não catalogada em paleta alguma de cores, que decide encontrar sua própria identidade. Dialogando com outras cores de uma caixa de lápis de cor, ela parte pelo mundo, tentando inserir-se em algum lugar que a compreenda e a aceite. No texto original, Flicts, depois de muito vagar, se depara com um astronauta que a leva para o espaço. Somente próxima à Lua, ela descobre resposta para os seus por quês. Confesso que várias vezes me emocionei com esse achado poético, afinal, “tudo no mundo tem cor”, e até mesmo a incompreendida Flicts pode desfrutar deste sentimento de pertencimento.

No palco do Teatro Amazonas, Flicts – O Musical, adaptação mais do que personalíssima do próprio Cardoso a partir dos escritos “ziraldianos”, passa a ser uma outra fantasia, que veste esta cor como se fosse diferente do original, sendo o mesmo em sua essência. Uma adaptação com muitas qualidades, que aposta num clima bastante festivo (apesar de estarmos tratando da terrível exclusão e da eterna busca que nos coloca em existência), mas sem esquecer a poeticidade também. No conjunto, mesmo com algumas referências locais e até uma certa espetacularização ou carnavalização dos figurinos – a peça é fruto de uma cidade que respira opulência –, o espetáculo supera essa territorialidade e dialoga com os públicos mais diversos. Vale ressaltar as belas canções originais de Paulo Marinho e do próprio Chico Cardoso, que pontuam toda a trama, com os atores cantando ao vivo sob uma excelente gravação instrumental em play-back.

Se há senões nesta dramaturgia própria, apenas as inserções de personagens que, no meu entender, não dialogam com o caminho percorrido pelo protagonista. Refiro-me aos momentos em que há uma clara valorização pela busca do sucesso, seja no mundo dos negócios ou do esporte. Os encontros que Flicts mantém com o papel reciclado, as folhas dos livros de uma biblioteca ou as possíveis misturas de cores em tecidos, ganham muito mais sentido nesta procura de um “eu” interno e não de expor-se “aos outros”. No entanto, há achados em todo o desenrolar da história, principalmente na homenagem que o dramaturgo faz a própria arte, pontuando a peça, em seu início e final, com a voz sonora de um pintor que ainda não utilizou Flicts em seus quadros por não ter encontrado o momento especial que necessitará desta quase impensável cor – é a boa voz do próprio diretor quem personifica a personagem.

Com esta referência, impossível não lembrar da figura mítica de alguém ou algo que provavelmente rege nosso mundo, mas espera que tracemos o nosso próprio caminho, mesmo diante de percalços vários, como o faz a singela corzinha Flicts. A direção de arte também merece destaque, principalmente nestes momentos. A cena é aberta com uma profusão de telas vazadas em perspectivas, com o palco quase sempre nu e negro em todo o restante, o que valoriza a profusão de cores dos figurinos e adereços. O único elemento sempre presente na cenografia da peça é um guarda pincéis que serve de camarim para as três cantoras/bailarinas coadjuvantes viverem várias backings, de uma energia vibrante. São elas: Tina Cristina, Magda Carvalho e Hammyle Nobre.

No papel-título de Flicts – O Musical, Zezinho Corrêa, esbanjando simpatia em cena, com ótima voz, mas precisando apenas fugir de uma certa linearidade em sua fragilidade, tanto corporal quanto de intenções, no desenrolar da trama. Os outros atores (Márcia Siqueira, Michel Guerrero, Ana Cláudia Mota, Vicente Henrique e Arthemys Moreno), além de excelentes vozes, dão o tom certo na personalidade de cada uma das cores, com movimentação coreográfica precisa e divertidíssima. É preciso ter cuidado apenas com as enormes pausas que pontuam as cenas em que o conjunto de intérpretes não está presente. Ao final, depois de percebermos que o azul é sinônimo de harmonia; o amarelo, otimismo; o verde é atitude; o laranja, equilíbrio; e o vermelho é revolução, a corzinha Flicts ganha um significado antropofágico com essa nova dramaturgia que, pautada em uma bem cuidada produção, passa a ser um deleite para olhos, ouvidos e pensamento. Autenticamente singular.


Algumas curiosidades que não posso deixar de registrar:
- O Chico Cardoso integra a comissão de direção do Boi-Bumbá Garantido de Parintins;
- O Zezinho Corrêa (Flicts) era o vocalista da Banda Carrapicho (Bate Forte o Tambor...).
- A montagem foi realizada graças ao incentivo do Prêmio Myriam Muniz, da Funarte, e do Programa Proarte, da Secretaria de Estado de Cultura do Amazonas.


*Leidson Ferraz é jornalista, ator e pesquisador teatral.

7º Festival de Teatro da Amazônia / É Proibido Jogar Lixo Neste Local


É PROIBIDO JOGAR LIXO NESTE LOCAL





MUITO ALÉM DO ARCO-ÍRIS : É PROIBIDO JOGAR LIXO NESTE LOCAL


Por Jorge Bandeira

Existe uma espécie de conspiração mágica quando as coisas insistem em existir, apesar dos reveses e obstáculos enfrentados. E o Teatro é pródigo em nos demonstrar sabiamente essas sutilezas da existência em doses estéticas inesperadas, e aqui coloco a noite iluminada em que floresceu esta centelha criativa, da qual o público foi brindado pelo competente e primoroso jogo teatral de É PROIBIDO JOGAR LIXO NESTE LOCAL, texto de Wagner Melo e com a direção de Leonel Worton. Num espaço exíguo onde a coexistência está sempre por um fio, surgem dois personagens que muito se assemelham aos condenados existenciais e sociais de um Plínio Marcos, relembro imediatamente a “Dois Perdidos Numa Noite Suja”. Saliento que a comparação não desmerece em nada este teatro de fortaleza interpretativa e de uma dramaturgia que sobrevive pela permanência do sofrer comum ao povo, ao artista. Este elemento de comparação e analogia ergue como ode triunfal ao nome do dramaturgo, nome tão importante ao Teatro amazonense como o de Plínio Marcos no cinturão cultural de São Paulo e da região Sudeste.

Grata satisfação é a do crítico que entra no Teatro e sai dele com uma respiração melhor, depois de ter visto e escutado as trombetas heroícas desta arte teatral que perpassa eras. Ocorre uma organicidade feliz entre estes artífices da nobre arte, pois o resultado é de todo convicente, mesmo com os deslizes insignificantes de uma mudança de cena, espaço e temporalidade. Nada diminui a beleza trágica desta peça, feita de uma argamassa tão sólida, que prende a atenção dos espectadores do início ao fim do espetáculo. E este texto vertido em imagens e sons ganha uma força e dinamismo que somente os que se dedicam com amor e paixão podem exemplificar. As palavras, aqui não bastam para orientar o leitor da grandeza desta obra levada ao palco de um teatro, onde o cenário e a iluminação de Daniel Mazzaro funciona de forma econômica, segura, sem arroubos e exacerbações desnecessárias, e aqui Mazzaro, também ator renomado na cena local, foi de uma grata generosidade com os intérpretes Eduardo Gomes(Mário) e Tony Ferreira(Fifi), estampando cada detalhe de sua função sem encobrir as atuações, tornando, assim, seu trabalho ligado naturalmente à cena, sem eclipsar nenhuma vez as pugentes e urgentes ações dos personagens deuteragonistas, visto que é impossível estabelecer um desiquilíbrio que coloque a balança cênica pendendo a um ator ou outro.

Os dois atores são eixos de um mesmo motor de explosão teatral, carne e unha, cara e coroa, e a vida do outro confunde-se com a própria, como diria um certo Arthur Rimbaud, “O Eu é um Outro”. A primorosa obra artística é despojada, porém encontra seu porto seguro com as pesquisas de um figurino de corte histórico exato(assinado por Adroaldo Pereira e Sibele Gomes), e de uma economia cromática que o deixa clean aos olhos do público, e mesmo os farrapos carregam uma estranha luminosidade e brilho, o que torna as cenas ora suaves, líricas ou violentas, dependendo das situações enfrentadas por Mário e Fifi, num jogo sádico, cruel, sadomasoquista, e que transita entre uma pancadaria inesperada que eclode por um simples gesto ou fala, desencadeadores de momentos fortes, mas não vulgares. Aliás, a vulgaridade passa longe, mesmo nos terríveis lampejos da violência e do sadismo, eis que o lírico aparece, inesperadamente, infringindo ao espectador mais uma das muitas surpresas, e esta é uma das vitórias estéticas deste espetáculo.

A complexidade no nível do simples, mas não simplório, o que a sensibilidade de um diretor como Leonel Worton soube captar de forma grandiosa. A direção de atores feita por Mazzaro responde por esta cumplicidade de acertos, e aqui permito-me observar que a juventude destes atores já está é “velha”, pois não reconheço níveis de insegurança, parecendo que estes “jovens velhos” já estão no palco há tempos, o que me impressionou sobremaneira, pois não esperava uma estreia tão avassaladora a meus sentidos, e isto senhores, não há tempo ou idade que compre, e a isto chamo de entrega consciente a um projeto estético. Algo raro de encontrar-se, em qualquer ponto onde brota um afã teatral com vontade de superar-se a si mesmo. Claro, as vozes não atravessam do início ao fim com a mesma galardia, mas isso não importa, a certeza que este não será um obstáculo aos “jovens velhos atores” me convence de uma inevitável e substancial melhora e aprimoramento de deslizes eventuais, facilmente alinhados, um galho fraco para a equipe.

Atento fiquei ao trabalho corporal dos atores, de uma simbiose perfeita, mesmo quando o figurino teimava em não obedecer aos seus ditames e trocas nas transferências cênicas, o corpo destes intérpretes falava pelos poros, as quedas, os tapas, os espancamentos conduziam as cenas numa progressão de sinceridade e realidade, sendo um fio condutor, mais um critério que a encenação soube valorizar em níveis de convencimento satisfatórios, e algumas vezes senti meu corpo ser vitimado pela capacidade da catarse que os atores jogavam à plateia, atenta aos seus percalços e superações.

Existe uma precipitação em tratar o texto teatral produzido na época da ditadura militar como um texto “de um passado datado”, e que não se inseri nesta dramaturgia, por mais que ela insista em alguns rótulos passadistas. O texto de Wagner Mello vai além de uma denúncia, pois apavora a uma direita pudorosa e envergonha uma esquerda que hoje é a sombra do que foi neste passado recente. A massa preparada por Wagner Mello é uma condicionante da existência dos seres marginalizados, nos planos sociais e sexuais, e aqui não se levanta uma bandeira por uma causa, pois isso tornaria tudo um planfeto irrisório, ideológico, trata-se de um pensar sobre a existência, sobre um trancendente, sobre os preconceitos que não se resolvem, seja do capitalista da TFP ou do comunista que pensa na revolução vinda do exterior, e não de uma revolução mais sútil e ao mesmo tempo mais duradoira, a transformação da alma, do espírito, sem usar o termo aqui na esfera do misticismo, mas do existencial.

Por isso que este Teatro de Wagner Mello incomoda até hoje, é que ele como Teatro tem uma carne flácida e apodrecida, feito um amontoado de cores disformes e estonteantes de um Francis Bacon, e que ganha vida com montagens audaciosas e despretenciosas como esta de Leonel Worton. Não é a nudez dos personagens que agride aos incautos, é a vestimenta desavergonhada de um teatro tacanho, pequeno, o oposto de É PROIBIDO JOGAR LIXO NESTE LOCAL. Se você nunca viu uma cena de sexo explícito sem penetração, assista a esta peça, o lirismo de um ato sexual penetrará em você, se o seu coração estiver desarmado para fortes sensações. Os lixos são recolhidos nas madrugadas da alma...

Manaus, 27 de julho de 2010. Jorge Bandeira 3233-7316 / 9116-6775 / vicaflag@hotmail.com



quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Seminário de Crítica Teatral - Edição Manaus 2010

Palestra Wlad Lima
Teatro da Floresta

7º Festival de Teatro da Amazônia / A Dama da Noite


A DAMA DA NOITE


RODA GIGANTE NUM PARQUE DE DESILUSÕES


*Jorge Bandeira

O monólogo A DAMA DA NOITE, dirigido por Paulo Altallegre, com Arnaldo Barreto, é uma narrativa teatral a partir do famoso conto do escritor Caio Fernando Abreu. Dama da Noite, originalmente, faz parte do livro de contos “Os dragões não conhecem o paraíso”, publicado em 1988. O conto repercute as tendências dos anos 80, incluindo a questão sexual naqueles momentos iniciais da propagação do vírus da AIDS.

A incompletude do amor é claro na encenação, onde as tentativas ao prazer são sempr e interrompidas, numa vertente de solidão que conduz o personagem nos 50 minutos de espetáculo a questionar sua angustiante situação, interpelando o boy imaginário, causando momentos patéticos de sua situação, entre o desespero e a angústia. A atuação de Arnaldo Barreto começa em um ritmo claudicante, mas que logo vai ganhando ares de conquista no espectador, pois sua atuação concentra momentos de humor e sarcasmo, e sua personagem vai se revestindo da fortaleza necessária a um texto de extremo zelo estilístico, de um mestre do conto, Caio Fernando Abreu.

É um monólogo da solidão, dos que são feitos vampiros que percorrem as noites em busca de corpos e que se banham de sangue contaminado. Uma das características da verve de Caio Abreu, inserindo seus personagens neste universo das causas perdidas e que são ensaios e tentativas que sempre serão frustradas nesta busca pelo amor e pelo prazer. É feito um coito que não se completa, um tantra mental que faz o corpo desfalecer pela falta do contato real, de sensações muito particulares ao mundo do homoerotismo.

Caio Fernando Abreu é um escritor dos classificados como derrotados e perseguidos, mas que curiosamente tem uma grande aceitação nos mais heterogêneos leitores, fruto sem dúvida alguma de seu gênio como escritor que não se basta por um rótulo, é excelente literatura que fala por si mesma, não precisa de bandeiras que se levantem para sua defesa. Seu magnânimo estilo é a sua defesa.

Dama da Noite é um monólogo feito com apuro, com intuição estética, e é claro seu aparato homoerótico, onde a Dama posta em cena é na verdade uma DRAG, nesta abordagem como um performista que encena um personagem. Daí o simbólico da exclusão, de pessoa que ficou “fora da roda”, da vida normal, da normalidade, dos condicionantes sociais, de uma exclusão que se faz até na finalização do pazer, onde seu gozo é uma pálida sombra de uma satisfação sexual. É este espaço de urbanidade onde vive a Dama da Noite que é revestido de um perigo assustador, a insegurança aos comportamentos ditos “desviantes” pela sociedade conservadora fazem da Dama uma vítima em potencial da AIDS, seria mesmo a própria Dama uma espécie de personificação da AIDS.

A opção do diretor Paulo Altallegre foi ter esta dicotomia no palco, ora fazendo de sua Dama uma companheira para o boy imaginário, ora fazendo a plateia ser seu interlocutor imediato.O Belo Indiferente, de Jean Cocteau, é uma referência que logo aparece, neste tipo de monólogo onde o invisível boy é alçado ao patamar de coadjuvante que jamais aparece, sendo elemento de sonho e delírio da Dama.

A tensão de cena é permanente, recurso sensório conduzido por uma Iluminação em penumbra, que algumas das vezes deixa o semblante do ator refém desta escuridão, lembrando que a personagem é caracterizada pela escuridão até pelo nome, Dama da Noite. É uma drag-vampira, que se anuncia logo de cara como ser do elemento crepuscular. Crepuscular que necessita copular, que preciso de sangue de homens, que tem ânsia de prazer.

O ambiente de cabaré e music-hall é típico dos anos 80, e as inserções musicais elencadas pela ensenação percorrem estilos dípares, de uma banda como o Tom Tom Club, formado por integrantes do Talking Heads, passando pela passional e visceral canção de Jacques Brel Ne me qui té pá na voz bela de Maysa, e Maria Bethânia, estilos diversos, que criam as atmosferas necessárias nos momentos de comoção da personagem.

Uma personagem que está aprisionada a um tempo de reminiscências nostálgicas, é uma múmia que anda pela noite, que tem um boy, um garoto novo, que é tratado com ironia pela Dama, um menino bonito, mas que não gosta de ler, somente assiste televisão, joga videogames, navega na internet e tem comunidades no orkut. Usa, inclusive, as pulseiras do sexo que foram proibidas em muitas escolas. Estes achados de atualização do texto de Caio é um mérito da encenação, que insere estes elementos contemporâneos com muita propriedade, não descaracterizando a obra de Caio.

A Triangulação Boy invísivel/Dama/Plateia foi a responsável pelo controle da audiência, um público que acompanhou com atenção esta triste história da Dama da Noite, suas forças e fraquezas. Logo no hall do Teatro Amazonas o público é recebido pelos anunciantes da “Roda Gigante”, da esfera opaca da vida e da morte, e Caio Fernando Abreu nos brinda com uma das mais belas visões poéticas sobre a ceifadeira, a Morte que acometerá a todos. A Entrada com 2 travestis e uma prostituta recepcionando ao público preparam para uma volta na roda gigante da solidão, um figurino com cores vibrantes, e um ator com um “feeling” e “timing” adequados para conduzir o sentimento do público aos giros intermináveis desta roda gigante da existência dos excluídos.

*Jorge Bandeira é escritor, autor de A Fabulosoa Loja dos Bichos, levada aos palcos pela Cia de Teatro Apareceu a Margarida, dirigida por Michel Guerrero.
Manaus, 14 de outubro de 2010.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Seminário de Crítica Teatral - Edição Manaus 2010

Palestra de Leidson Ferraz
É Proibido Jogar Lixo Neste Local

7º Festival de Teatro da Amazônia / A Princesa e a Lua


A PRINCESA E A LUA

Pasme, a lua é ele!
*Por Chico Cardoso

A lua, agora composição de um Clown, observa distante e poeticamente a trajetória de uma trupe de um circo muito pequeno criado no espetáculo “A princesa e a lua”, escrito e dirigido por Ana Cláudia Mota, para a Cia Arte Brasil. O que a Lua não espera é que nesta trupe circense, a Clown Princesa, desperta uma paixão transformadora em si própria (o).

Aliás, “poetas, seresteiros, namorados correi! É chegada a hora de escrever e cantar...”, porque o espetáculo “A Princesa e a Lua”, mostra a Lua como um Príncipe à espera do amor.

A inversão desses valores veio de uma livre inspiração de Ana Cláudia, na lenda amazônica da vitória régia, onde a flor se apaixona pela Lua, representada no universo indígena, como um guerreiro transformado por Tupã. Embora o texto tenha ingredientes belíssimos, ainda precisa de ajustes, desde uma carpintaria mais dinâmica, até a construção mais definitiva de suas personagens, o que é comum numa experimentação como esta que está apenas em seu início.

A Lua, colocada ao fundo do palco suspensa por uma escadaria/balcão, só vai se relacionar com a trupe, através dos sonhos da Princesa. Essa trupe instala seu circo para o grande show, onde números mambembes e hilariantes atraem a Lua para o picadeiro, para perto da Princesa, portanto. Esse plano, entre os Clowns e a Lua Clown, fica espacialmente distanciado, para simbolizar dois universos paralelos que, no decorrer do espetáculo, se encontram para desaguar no imaginário do espectador. E, mesmo que o desnível nas interpretações seja atenuante, o elenco consegue segurar o interesse do espectador até o fim.

O destaque está justamente na forma como a Lua foi concebida, tanto pela diretora, quanto pelo ator Hely Pinto. O Clown Lua é de uma doçura, capaz de despertar no espectador, os mesmos sentimentos em que poetas e seresteiros se inspiram para falar de amor.

O que parecia impossível no plano real é transportado para o possível pelo imaginário, que permite o encontro da Princesa e da Lua, para o final feliz - mesmo sendo habitantes de universos diferentes. Essa proeza dramatúrgica cresce na autora e vai se fortalecer ainda mais, quando ajustar sua carpintaria teatral, trabalhando os detalhes que são tão raros ao aprimoramento do jogo dramático do ator e lhes permite achar o time adequado ao espetáculo circense.

É muito bom ver os atores respondendo, ainda que de forma embrionária, ao estilo clownesco empregado na encenação, que teve o auxílio luxuoso de Selma Bustamant, defendido com vigor pelo jovem elenco. Se os pequenos buracos que aparecem durante os intervalos de quadro para quadro fossem tapados, o espetáculo estaria no ponto.

Mas torna-se um pouco linear, quando a direção não observa os times e permite blackouts entre cenas, tornando o espetáculo mais longo que o necessário. Figurinos simples e precisos, na cenografia um circo minúsculo ao centro do palco e muitos adereços compõem a vestimenta do espetáculo. A trilha composta por Paulo Marinho é precisa e bem humorada, poderia ser mais econômica em alguns momentos, entretanto.

O espetáculo vai amadurecer e tornar-se impecável, com certeza. Cláudia é criativa e sensível, não se conforma com pouco, por isso aposto no sucesso deste espetáculo. Apenas uma preocupação funesta paira sobre o bom reino do Arte Brasil. Será que o elenco irá conseguir firmar-se desta vez?

Três de seus atores estão em pelo menos outros dois espetáculos, Hely Pinto, Jean Paladino e Dennys Carvalho. Isso acontece em quase todas as Companhias. A Fetam precisa conversar com seus Grupos federados, para que fortaleça o teatro local com o mínimo de compromisso dos atores e suas companhias, e essas por sua vez com suas estéticas e planos de formação de seus elencos.

Essa migração é positiva por um lado e esmagadora por outro. Cabe uma reflexão sobre o processo de comprometimento com as experimentações e fortalecimento das linguagens do teatro no Amazonas.


* Chico Cardoso, diretor teatral.



7º Festival de Teatro da Amazônia / Eretz Amazônia

ERETZ AMAZÔNIA

OS JUDEUS NO TEATRO AMAZONENSE

*Jorge Bandeira

O TESC apresenta mais uma produção teatral, num trabalho que praticamente emenda uma produção teatral com outra, demonstrando fôlego na atualidade do Teatro Amazonense, elevando seu repertório, garantindo, desta forma, a continuação de sua jornada teatral. Temos agora em Manaus a montagem de ERETZ AMAZÔNIA, dramaturgia de Márcio Souza elaborada a partir de obra do importante pensador da economia amazônica, o saudoso professor Samuel Benchimol.

Eretz é um termo hebraico que remete, historicamente, aos caminhos e descaminhos do povo judeu à Terra de Israel, e não seria necessário lembrar neste pequeno artigo de crítica teatral que as andanças judaícas foram responsáveis pela formação de vários povos, entre eles, o brasileiro, e ERETZ insere esta importância ao rincões da Amazônia, de Belém a Manaus a influência decisiva da cultura hebraica fincou raízes sólidas nestas ensolaradas paragens.

A incorporação dos elementos ritualísticos, de aspectos econômicos, do prosaico e de um certo humor judaíco fazem de ERETZ uma peça didática e objetiva sobre os percalços deste povo na densidade calórica amazônica, e a densidade aqui refere-se não só ao clima tórrido, mas às atribulações dos judeus amazônidas, nas mais diversas categorias de inserção(ou não!) social. Márcio Souza soube tirar proveito do cabedal de reminiscências de Benchimol e colocou em palco um texto aprazível, com atores e atrizes percorrendo de forma eficaz este “túnel do tempo” que levou, leva e continuará transportando uma história feita de intensas lutas para fugir do preconceito e do racismo, o que infelizmente não acabou, vista que até hoje pensamentos anti-semitas transitam feito um câncer que se espalha a partir do ódio e do rancor.

São sete sessões ou quadros, divididos em Celebração do Shabat, Na Solidão Amazônica, Vítimas da Migdal, A Vida de Regatão, Que Venga Los Otros, O Encontro dos Irmãos, Judeus Perdidos na Selva. Estes quadros, feito esquetes que se interligam pela narradora/cantora soprano Carol Martins e sua bela voz, com o acompanhamento sempre eficiente da Banda do Tesc, que preenche o espaço sonoro a partir de um praticável suspenso(mezzanino), o que dá um tom plástico muito bonito ao “teatrinho do Sesc”, local que funciona de forma ininterrupta, com várias peças ao longo do ano. A música é charmosa e bem executada, o espanhol é escutado em sua dramaticidade, na língua falada pelos primeiros judeus que aqui aportaram, oriundos do Marrocos espanhol. Lembro aqui, aos fazedores teatrais, que Fernando Arrabal nasceu em Melilla, no Marrocos espanhol.

O processo histórico-religioso percorre ao longo da peça os anos de 1880, em pleno auge do extrativismo da borracha amazônica, até 2010, com um evento recente e de grande repercussão na imprensa local, quando membros de uma tradicional família judaíca perdeu-se numa excursão, numa mata fechada e de difícil acesso, sendo resgatados depois de algum tempo em meio aos perigos da Floresta Amazônica, entre feras selvagens e mosquitos.

A maquiagem pesquisada por Franck Padilha é feita na medida exata para rompantes de sofrimentos, como na cena tocante do regatão judeu e sua querida esposa. O figurino de Denise Vasconcelos consegue projetar aos espectadores todo um conceito de vestimentas que são dinâmicas, como a passagem do tempo histórico, e não exagera ou amplifica nenhum adereço ou roupa de personagem, o que torna a encenação de Márcio Souza vívida nos aspectos do Teatro Realista.

O trabalho do elenco, de forma geral, é de uma limpeza cênica que somente se intensifica nos momentos de euforia ou confusão, ou mesmo nos silêncios de um sentimento de perda ou dúvida quanto ao papel de um determinado personagem. Aliás, esta angústia existencial, é outro mote esclarecedor do texto que se coloca em cena com muita precisão, lembrando a trajetória de um ilustre judeu, Franz Kafka. E os atores e atrizes desempenham suas funções sem apelos dramáticos desnecessários, e Márcio, mais uma vez, foge do lugar comum e não tranforma seu ERETZ num panfleto feito de choro por um passado recente devastador aos judeus, seu Teatro, perspicaz, foge deste viés e coloca os judeus em um plano de grande importância, e o que é melhor, fragmenta os protagonistas em pequenas células histórico-teatrais, onde todo o povo judeu é contemplado dentro de sua diversidade.

É uma visão não fundamentalista do judaísmo, o que, em matéria de arte, muito nos enobrece, muito nos enriquece. A mensagem é SHALOM, a paz necessária, seja em qualquer religião deste planeta, em qualquer agnosticismo, inclusive. Lembro que nos anos 80, na ZONARTE do SESC, assisti deslumbrado ao trabalho da ISKON(Associação Internacional para a Consciência de Krishna) numa destas importantes mostras de Teatro, e assim como ERETZ, a centelha da diversidade religiosa tocou a muitos que assistiram ao ritual Hindu que tratava de uma de suas inúmeras deidades.

Por isso ERETZ tem tanta importância em nossa cena atual, que nos aspectos da religião está contaminda de sectarismos, seja por um “teatro cristão de circunstância estética duvidosa ou mesmo por sandices e crenças absolutamente ultrapassadas e retrógadas, onde um Teatro vira um pastiche fútil na mão destes artistas que tem uma viseira de cavalo nos olhos, indo sempre numa direção maniqueísta de eliminar o diferente, e isso sim, creio que seria um nazismo teatral!”.

ERETZ faz a redenção do povo judeu sem precisar de um caçador de nazistas, um Simon Rosenthal, a força de sua encenação já é um tiro certeiro é lírico, uma forma bem mais eficaz de levar a história do povo de Israel, o velho e bom Teatro feito com apuro, dedicação e pesquisa. E só, basta.

A cena final em que os perdidos na selva encontram ao “Rabino Santo” é um dos pontos altos de ERETZ, um momento onde o humor judaíco transborda no palco, levando ao riso aos espectadores, numa cena antológica que se finaliza com uma piscadela, no fechar do olho esquerdo de um ator talentoso, o “Rabino-Santo Muyal, Emerson Nascimento”. Só faltou uma coisa em ERETZ, de quem senti falta: daquele baixinho de óculos iluminando mais um vez a cena amazonense. Obrigado Lázaro! Pronto, terminei este texto chorando...



*Jorge Bandeira é escritor, dramaturgo e naturista.
Manaus, 29 de setembro de 2010.

7º Festival de Teatro da Amazônia / Off Inferno...

OFF INFERNO, OU LAVE OS PÉS PARA QUE EU MORRA



SINTONIZANDO OFF INFERNO
*Jorge Bandeira
As peregrinações de um corpo em estado de emergência, que sai às ruas e atravessa o primeiro círculo no próprio quarteirão onde adentrará para cumprir, inapelavelmente, seu atroz destino. Ao entrar, cabisbaixo, com o corpo enterrando-se dentro de si, com os nervos vitimados por castigos provindos do invisível da alma, ou de um ser que o vitima sem escrúpulos, eis o nosso penitenciado. Ele é o espelho de cada um, muito familiar aos nossos sentidos. A Companhia Cacos de Teatro retira um fragmento ósseo da poética de Dante Alighieri, o poeta do absoluto medieval, o homem que, sozinho, “criou o purgatório” em nossa mente, o mais medieval dos artistas, e também o mais contemporâneo de todos. Ousadia de quem teve o cuidado de não entregar ao espectador o óbvio, o costumeiro de Dante, suas visões que hoje fazem parte do imaginário universal. “OFF Inferno ou Lave o Céu para que eu Morra” é um surpreendente veículo artístico da exacerbação, aqui tido como um trunfo nas mãos de um hábil intérprete, o convincente Francis Madson.


As proliferações de signos desta concretude imagética não são dispersos aleatoriamente, os objetos cênicos foram pesquisados com minúcia, tornando a apresentação desta obra clara, limpa, e terrivelmente inquietante. Aqui a alegria não é bem-vinda. A diversão principal é a purgação deste ser, ensejando o retorno da catarse em seu sentido magno, em níveis potenciais para a reflexão sobre a condição humana, sobre a prisão existencial em que a sociedade aprisiona o ser capacitado ao caos. OFF INFERNO nos brinda com uma estadia no inferno, numa jornada de imagens, sons e performance que paradoxalmente nos cativa, nos hiberna nestes círculos infernais, nove jornadas que são descortinadas pelas caixas de pandora, pecados retirados de antigos baús, tornam as vicissitudes de nosso personagem sofredor, como se encomendadas de nosso próprio passado, nestes recipientes que nos fazem lembrar de nossa infância, dos velhos baús e caixas antigas que não se apagam nem se apagarão de nossas memórias mais queridas. Um mérito do encenador, que teve a perspicácia de não pensar num depositário de queixumes e castigos de maneira a nos afastar deles, ao contrário, ele aproximou este sofrer de nós, atentos que estamos em capturar a trajetória caótica do infeliz condenado. Os baús são nossas recordações.

As profundas transformações deste corpo estigmatizado foram acompanhadas por uma suavização dos movimentos, numa economia gestual que nos remete às partituras de um corpo no viés oriental de um Teatro de “condensação gestual”. Os inúmeros penitentes do inferno dantesco transformam-se em um único ser, uno corpo, numa explosão de almas penitentes e amalgamadas, o que torna este corpo em emergência, com suas quedas, seus engasgues e suas contorções doloridas.

O sofrimento é uma característica humana, uma proeza de pensar na vida como findável, finita. OFF INFERNO é uma leitura da possibilidade de um corpo em expansão a partir do momento angustiante de perceber-se vivo e mutável, dos músculos que terão suas fibras abaladas pela ação do tempo infernal, de um calendário vertiginoso chamado perenidade. Apenas sobreviverá a arte, e mesmo assim nesta efemeridade de nossas lembranças. Somos conduzidos a uma câmara de horrores, mas que representa, em cada um de seus sinais, um pouco de cada um de nós. A gula, a ambição, a usura, o fanatismo, todas as formas de preconceitos que ainda teimam em estarem presentes na sociedade aparecem em etapas, em uma seqüência circular, em uma atuação estilizada e segura. A habilidade do intérprete Francis Madson em tornar tudo plausível, natural, é outro paradoxo desvendado pelo encenador Dyego Monnzaho. Tudo se reveste em uma crueldade criativa, um sofrer saudável, esteticamente bem-vindo ao espectador. A estranha alegria pelo sofrimento do outrem, o nosso reflexo, a nossa cara-metade. Atire a primeira pedra quem nunca visitou este Inferno, quem jamais “pecou” neste mundo de regras e condicionantes conservadores, nesta sociedade patriarcal, limitada, de uma visão deturpada do diferente, que só “purifica” as almas extremamente dóceis, inertes, que não possuem este sofrer consciente.

A atmosfera de melancolia, onde nosso herege, luxurioso, avarento, suicida, blasfemo, sodomita e usurário, adulador, nosso ARTISTA se encontra, eis o limbo da configuração espectral destas vertigens da cena. Ao espectador, resta refletir sobre este sofrimento, se é merecedor dele, e neste caso, tornar-se seu juiz, condição esta que o coloca na função básica deste terror nesta câmara obscura e estranhamente translúcida: ser Deus ou Lúcifer. Não estamos no purgatório ou no Paraíso. Requesquat In Pace.

Post Scriputum

No 7º FTA, OFF INFERNO começa do lado de fora do Teatro, onde o público participa desde lá das conjunções performáticas, jogando trigo(Cof!Cof! Inferno) no padecente e objetos “dejetos” da ostentação. No palco, as reações da plateia foram as mais variadas, tais quais os círculos infernais de Dante. Alguns demonstravam asco, piedade, compaixão, rejeição, nojo, medo, inquietude, desconforto, repulsa, etc. Poucos, porém, se retiraram do local dos sofrimentos infinitos. A sonoplastia do DJ Marcos Tubarão se coaduna com as situações, um zumbido de alta frequência que fica no limite do audível suportável, é um som realmente infernal, lembrando as sonoridades de interferêcia de alguns filmes clássicos do surrealismo de Luís Bunuel. Algo para se refletir: no plano abaixo do Inferno Central, no sistema arena desta apresentação, ficou também uma boa parte do público, público este que infelizmente deve ter perdido boa parte das sensações vividas pelos que estavam no palco. Aqueles, então, ficaram no sub-inferno, perdendo o desencadear da trama performática do ator. Outro ponto que destaco nesta apresentação e que não teve o efeito desejado foram as projeções, a maioria ficou indecífravel, prejudicando a leitura total da cena proposta pela encenação. Fica claro que, para funcionar na sua integralidade, OFF INFERNO precisa e necessita de um Inferno menor, mas como fazer isso, se já habitamos um inferno?

Jorge Bandeira
Manaus, 10 de julho de 2010. 12 de outubro de 2010





terça-feira, 12 de outubro de 2010

Seminário de Crítica Teatral - Edição Manaus 2010

Palestra de Wellington Júnior
Carmen de La Zone

7º Festival de Teatro da Amazônia / Brincadeiras


BRINCADEIRAS

A Metamorfose do Teatro Infantil

Por Chico Cardoso*


Justamente no dia das crianças o Teatro Amazonas recebeu, dentro do 7º Festival de Teatro da Amazônia, o espetáculo infantil Brincadeiras, escrito por Raimundo Matos de Leão, dirigido por Socorro Andrade para a Companhia Metamorfose. O dia já favorecia a comunicação com um teatro voltado para a “gurizada”. O autor baiano destaca seu envolvimento com esse gênero de teatro que, segundo ele, é considerado menor pelos próprios artistas de teatro. Discordo número 01. Essa consideração não se aplica à Manaus, por exemplo. O Teatro Infantil aqui é tão ou mais vigoroso que o teatro para adultos. Muitas vezes, é até difícil decidir o gênero, posto que algumas companhias trabalham essa relação tão aberta na comunicação de seus espetáculos, que o gênero dissolve no ar.

Outra consideração do autor é que o teatro para criança deve incluir todos os temas, e que eles encontrem a forma adequada para ir à cena. Discordo número 2. A dramaturgia em Brincadeiras revela essa vastidão que o autor segue como regra para sua criação, entretanto, “Brincadeiras”, tem como espinha dorsal, quatro crianças que se divertem em várias jogos e brincadeiras. Já para a diretora, trata-se de uma trupe que viaja contando estórias e brincando pelo mundo. Se o autor tivesse amarrado melhor, o espectador não ficaria na dúvida se são crianças no faz de conta ou saltimbancos adultos brincando de ser criança para divertir crianças. Essa é uma confusão do espetáculo. Então é preciso que a dramaturgia feche rigorosamente o tema, seu desenvolvimento e sua conclusão, para que direção e elenco não caiam na cilada de estar percorrendo caminho avesso ao do autor. E como as brincadeiras propostas no espetáculo não se fecham, suspeito que este realmente tenha sido o primeiro texto de Raimundo Matos.

Fora essas discordâncias, é preciso que se registre a qualidade com que o espetáculo é interpretado. Não se tem como dizer quem está melhor em cena. Camila Duarte, Sidney Fernandes, Dinne Queiroz e Idelson Mouta são os atores que brilham nas brincadeiras. Alguns com mais experiência, como é o caso do Sidney, emprestado pelo TESC para compor este elenco da Metamorfose. O que não chega a provocar desnível na unidade da representação, pois os outros atores estão tão bem quanto. Isso se deve a batuta da Paula Andrade, que arregaçou as mangas e fez o tralho que sabe fazer com precisão cirúrgica, dirigir atores.

Os ricos figurinos e adereços vão compor o cenário, aquele varal típico dos saltimbancos nordestinos, de onde surgem vários universos. A luz, assinada por Daniel Mazzaro, enquanto foi permitido o fornecimento de energia, esteve surpreendente (faltou energia durante o espetáculo e os atores tiveram que continuar no escuro). Iluminação simples e cheia de detalhes que ajudaram as cenas a crescer nos olhos atentos da “curuminzada”.

Acredito que o primor com que a produção chegou ao palco do Festival, merece que a dramaturgia se resolva melhor, fechando as brincadeiras e conduzindo-as para algum lugar. Resolvido isso, sucesso na certa. É daqueles espetáculos de repertório que nunca deveriam sair de cartaz e não precisa de todos aqueles “efeitos” que sobem e descem para contagiar de alegria o publico. A Cia Metamorfose tem uma trajetória em teatro infantil desde sua fundação, em 1993. Entretanto, percebo que é na dramaturgia que a Cia deva radicalizar sua investigação. Os outros campos da encenação já defendem com técnica e qualidade. A FETAM deveria propor um seminário específico de teatro infantil para toda Região Amazônica ainda este ano. Aproximando os vários olhares para um teatro que, por via de regra, precisa dizer-se para criança.

*Chico Cardoso, diretor teatral.



segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Seminário de Crítica Teatral - Edição Manaus 2010

Palestra de Jorge Bandeira
Panorama da Dramaturgia Amazonense

7º Festival de Teatro da Amazônia / Essa Tal de Natureza


ESSA TAL DE NATUREZA

Desejo, morte e ressurreição na natureza

Essa Tal de Natureza, encenada por Douglas Rodrigues para a companhia Arte & Fato foi baseada no livro de mesmo título da jornalista Leyla Leong, e concorre na categoria infantil no 7º Festival de Teatro da Amazônia. O enredo do drama, numa só linha, narra a trajetória de um pássaro da Amazônia que resolve descobrir o que tem além da floresta e encontra um reino de pedra e metal, onde se fere mortalmente e ressurge para reconhecer a natureza como a própria vida. O livro está em sua terceira edição e, em dias de devastação, propõe que as crianças de hoje sejam, num futuro próximo, seres melhores, que respeitem a vida, conscientes da importância da preservação da natureza. A encenação segue com fidelidade a proposta da autora em diálogos elaborados com maturidade, na adaptação dramática de Douglas Rodrigues.

Premiadíssimo nas edições anteriores do Festival de Teatro da Amazônia, entre outros prêmios importantes conquistados a nível nacional, a Companhia Arte & Fato, tem uma linguagem muito própria, baseada na limpeza de elementos cênicos, na simplicidade com que cria e executa a estética de seus espetáculos. É um teatro que encanta e estimula o espectador na reflexão do mundo que nos cerca. Dentro dessas características particulares, que a cada montagem vai radicalizando mais, ressalta-se a música ao vivo, que aparece grandiosamente em seus espetáculos e sublinham as emoções desenhadas nas ações das personagens, o que ajuda a mexer com os sentidos da platéia. Uma Companhia estável e respeitada pelo seu trabalho, portanto.

Essa tal de Natureza, o espetáculo, tem momentos simbólicos de grande beleza plástica, como a ritualização da travessia do reino da Natureza até o reino de pedra e metal da personagem Senhora do Limiar, interpretado por Elines Medeiros, que borrifa um perfume peculiar da floresta na platéia, simbolizando a essência da vida e da Natureza.

Outro momento onde a poesia é companheira do encenador mostra o jovem Pássaro, em coreografia que utiliza diversos planos, aprendendo a voar com o Pássaro Transitório, interpretado por Weldson Rodrigues, e parte num vôo para o reino de pedra e metal onde encontra sua própria morte. Com essas cenas fantásticas, a trama nos remete aos clássicos da arte, como Dersu Uzala, filme de Akira Kurosawa, onde um explorador salvo por um velho caçador, decide levá-lo para a cidade, confrontando seus costumes de forma esmagadora com o modo de vida burocrático na cidade, fazendo-o questionar diversos padrões da sociedade. No desfecho dessa trama, o Rei resolve aprisionar a Natureza e acaba perecendo junto com ela, quando uma bomba explode e devasta a vida. Mas a esperança ressurge no Jovem Pássaro que volta à vida, completando o ciclo dramático sustentado pelo tripé desejo, morte e ressurreição.

Mesmo diante de tantos acertos, alguns ingredientes teatrais no espetáculo ainda estão em formatação, principalmente no que diz respeito à interpretação. Existe uma overdose na construção dramática das personagens, que pode ser reparada até o ponto onde não seja incomodo para o espectador. O exagero não remete à emoção, ao contrário, provoca o distanciamento crítico na platéia e a encenação pode perder o jogo dramático essencial do teatro. Douglas é um encenador talentoso, criativo, pode corrigir e nivelar a interpretação do elenco, a fim de que a lanterna de todos acenda durante a próxima sessão d´Essa Tal de Natureza.

*Chico Cardoso, diretor teatral.





7º Festival de Teatro da Amazônia / Era Uma Vez


ERA UMA VEZ...



Se a arte alimenta a alma, porque o crioulo doido samba?


Vamos começar! Pegue um fauno, junte a seis seres encantados da floresta, suprima sete anões, coloque duas rainhas, sendo uma, fruto da mente criativa dos irmãos Grimm e outra vinda da África com seus orixás, adicione um espelho mágico, um caçador que se multiplica sem nenhuma lógica, retire aquela bruxa fora de moda e, em seu lugar, valorize a terceira idade na vendedora de maçãs, mate um rei e, já próximo do final, dê uma pitadinha de sarcasmo e, ao invés de um príncipe que despertará a princesa com um beijo, coloque outro rei, mais chato que o primeiro. Melhor ainda, use a “Xangô” para despertar a princesa adormecida, isso cai bem pro discurso de inclusão racial. Agora junte tudo num mesmo espetáculo, misture o mais que puder, sem ligar muito para a trilha sonora e sua importância cênica. Não ligue também para o estilo do figurino ou da concepção estética de cenografia, de coreografia, da adereçagem, nada! Continue misturando Vangelis com Era e canção popular, tudo ao vivo, no melhor estilo Arte e Fato... Agora dê um título a esse espetáculo.

Vamos entender! Didha Pereira é dramaturgo pernambucano, especialista em ensino de artes, de crítica literária, professor de línguas, literatura e artes. Foi jurado no 4º. Festival de Teatro da Amazônia e é autor do espetáculo “Era uma vez...”, apresentado neste domingo, por uma jovem companhia de teatro, anunciada com o nome de um dos diretores, Roberto Carlos Junior. Acredito ter havido desencontro na hora da inscrição, de fato se chama Cia Amatthores Eventos Artísticos. Pois bem, Didha, em seu original, dá o título de “Branca de Neve e os Sete Anões”. Provavelmente, a companhia após constatar que seria impossível encontrar sete anões em Manaus, resolveu, deliberadamente, reorganizar a carpintaria do texto e propor uma co-autoria ao Didha, trocando o título de seu texto para “Era uma vez...”. Ainda não se sabe ao certo, se o professor passou recibo ao que sucedeu. De qualquer forma, pergunto: sabe o crioulo doido? E respondo: Pois é, maior samba!

Lastimo que essa jovem companhia, não tenha sido paciente para seguir os passos necessários na construção de um espetáculo de teatro. Lastimo mais ainda, ver que os diretores Fabiene Priscila e Roberto Carlos Junior, não dedicaram mais tempo ao seu próprio aprendizado no teatro e já saltaram numa incursão precipitada para direção teatral, como se fosse muito fácil escalar os degraus necessários a esta função. Não se pode, sequer, calcular o potencial dos atores, já que os diretores em cena são muito fracos e desafinados.

Não existe cenário, seu improviso, foi aleatório. A floresta não tem nenhuma conexão com o salão do trono, ambientes em que se dá o episódio. O arranjo de ramos verdes onde o espelho mágico surge, foi colocado tão a ermo, que insulta os piores decoradores de festas de salão da cidade. Há uma confusão generalizada de linguagem no figurino, ora futurista, como é o espelho e a rainha em sua “mágica” e enfadonha transformação, ora absolutamente tradicional como nas conhecidas representações dos contos de fada. Quanto à interferência negra no figurino, da outra rainha, que veio da África e virou escrava, difícil viu. A coreografia é simplória, mas entra justamente nos momentos certos, para que o espectador possa descansar de tanta confusão. A luz, ah! Cleinaldo, tanto esforço e criatividade... Intrigante como desde que se entra no teatro a luz fala sozinha e assim vai até o final, criando o monólogo de focos e cores.

Com mais atenção, a companhia Amatthores, pode cometer menos erros, pode buscar uma linguagem própria, sem querer ser outro. Teatro, por mais livre que possa parecer, em sua execução, tem rigor. Se não cobrada pelo júri ou pela classe, dentro do Festival, fatalmente a companhia será cobrada pelo próprio publico. A Fetam precisa abrir seminários, quase que permanentes, para discutir processos e linguagens teatrais. Contribuindo para a formação intelectualmente dos artistas de teatro. Assim, os jovens podem conhecer e respeitar mais a função do ator e do teatro na alma de seus espectadores.

* Chico Cardoso, diretor teatral.

Seminário de Crítica Teatral - Edição Manaus


*Leidson Ferraz

Pela primeira vez, o Festival de Teatro da Amazônia (FTA) abre espaço em sua programação para receber um Seminário de Crítica Teatral. Organizado já há quatro edições na capital pernambucana, o evento, realizado pela Renascer Produções Culturais, contou com a presença do historiador amazonense Jorge Bandeira em agosto último. “Foi através deste contato, e graças a parceria com a Federação de Teatro do Amazonas, que conseguimos expandir o evento para além do Recife, uma ideia que nos perseguia já há alguns anos, principalmente por conta da nossa presença em Manaus desde 2006, em eventos como o próprio FTA e a Mostra de Teatro do Amazonas”, diz Luciano Rogério, um dos produtores da iniciativa.


No Recife, o Seminário de Crítica Teatral já possui um caráter internacional e dele já participaram importantes críticos e pensadores da arte teatral, como Sábato Magaldi (SP), Barbara Heliodora (RJ), Kil Abreu (SP), Vivian Tabares (Cuba) e Ian Herbert (Inglaterra). Nesta primeira edição na capital amazonense, de 11 a 14 de outubro, das 15 às 17h, no Centro Cultural Palácio da Justiça, com entrada franca, o evento tem seu foco na dramaturgia nortista, com a presença do jornalista e pesquisador teatral Leidson Ferraz, do professor de teatro e crítico Wellington Júnior, ambos do Recife, de Wlad Lima, dramaturga e diretora teatral do Pará, além do manauara Jorge Bandeira. “Esta é uma oportunidade não só para nós mesmos conhecermos melhor o trabalho de alguns importantes dramaturgos do Norte, mas do próprio público que frequenta o FTA perceber detalhes destas escritas”, lembra Luciano Rogério.

Na programação, além de um olhar apurado sobre a atual dramaturgia nortista, obras de Wagner Mello (É Proibido Jogar Lixo Neste Local) e Sérgio Cardozo (Carmen de La Zone) serão analisadas, traçando paralelos com outras peças teatrais, não só brasileiras, mas de vários países também. Após esta inserção em Manaus, o Seminário de Crítica Teatral já mantém negociação com cidades em outros estados, como Londrina, no Paraná, São Paulo e Rio. “Estamos muito felizes por esta expansão de um evento criado no Recife, mas com vistas a acontecer em todo o país, afinal, a crítica teatral é um importante diálogo entre os criadores artísticos, a imprensa, e o público, que deve ser valorizada e apreciada em todo o território brasileiro”, conclui Luciano. O evento conta com produção local da própria FETAM.

Confira a programação:

1◦ Seminário de Crítica Teatral do Amazonas

Dia 11 de outubro
Panorama da Dramaturgia Amazonense (por Jorge Bandeira)

Dia 12 de outubro
Carmen de La Zone, de Sérgio Cardozo (por Wellington Júnior)

Dia 13 de outubro
É Proibido Jogar Lixo Neste Local, de Wagner Mello (por Leidson Ferraz)

Dia 14 de outubro
A Dramaturgia da Floresta (por Wlad Lima)

Mais informações: renascerproducoesculturais@bol.com.br

*Leidson Ferraz, é jornalista, ator e pesquisador teatral