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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Experimentos cênicos do segundo dia do RECIFASTTEATRO


Por George Carvalho

O segundo e último dia do RECIFASTTEATRO, dentro da programação do Seminário de Crítica Teatral, no Teatro Capiba, no SESC de Casa Amarela, reservou melhores surpresas que o primeiro, de um modo geral. A maioria das cenas apresentou melhor coerência e também performances mais profissionais, apesar de algumas incongruências que causaram certa estranheza. A primeira delas está mais para esta última definição.

Sobre-viver, vi-ver, ver apresentou uma história confusa, inacabada, com atuações sofríveis e uma dramaturgia frouxa. Muito cenário e muitos atores para um enredo aquém do que prometia a sinopse. Demarcações de palco clichês e um jogo de cena mal explorado completam a esquete. Só a aparição do repórter Nostradamus Pereira perece digna de algum elogio. A performance é interessante, apesar de exagerada, e o ator mostra uma energia que não é compartilhada pelo resto do elenco.

Já em A outro, o que não falta é energia no monólogo de uma travesti que compartilha com a platéia suas lembranças, desejos e frustrações. No palco, uma cadeira, um cabide e uma penteadeira. Cenário enxuto para não desviar atenção do texto forte e preciso, muito bem vivenciado pelo ator em cena. A iluminação é discreta, um pouco clichê, não influi nem contribui tanto. O jogo de luz poderia ter sido explorado mais em favor da carga dramática que o texto carrega.

Na pele de uma prostituta desgraçada pelo próprio irmão, Hermínia Mendes surge na pela de Giorgia, terceira cena da noite. Sua interpretação firme, cheia de nuances distintas, que vão do temor ao prazer, é encantadora. A transformação da ingenuidade feminina na força de uma mulher marcada pelas intempéries da vida se faz aos olhos da platéia, diante de uma iluminação objetiva e uma marcação cênica forte e coerente. Pena que essa não tenha sido a única participação da atriz no segundo dia do RECIFASTTEATRO...

Mas antes disso, Manu Costa, Rogério Vanderley e Manoel Francisco levaram a cena Dois pra lá, dois pra cá. O que seria a consolidação carnal de um encontro proibido entre dois colegas de trabalho, acaba virando frustração quando o rádio anuncia a morte da estrela da Música Popular Brasileira, Elis Regina. A trilha sonora com interpretações da cantora, dubladas por um rádio inusitado posto em cena, delicia o ouvido da platéia. A sintonia do casal em cena impressiona. E a atuação é primorosa, assim como o cuidado com o figurino. O primeiro encontro amoroso se descortina em uma história sutil e cômica, plena de poesia cênica que a voz de Elis ajuda a declamar.

Mancha de Sangue foi uma experiência cênica superficial e sem graça. Na época da Inquisição, quatro prisioneiros que seriam mortos na fogueira na manhã seguinte travam uma discussão e são influenciados por um deles a se matarem, em vez de aguardarem pela fatídica sentença. A morte de três deles revela a salvação do quarto, através de um acordo. Música alta e uns pulos antes de iniciar a cena. Um líquido altamente letal, que faz um prisioneiro tremer e outro não na hora da morte. O contexto da obra é capaz de suscitar inúmeras discussões e reflexões que passam despercebidas na cena que foi apresentada, do modo como foi tentado.

Por fim, E se fosse você... Aqui, exatamente agora? trouxe ao palco o monólogo cômico de Léo Castro. Com uma presença cênica impressionante, ele conta histórias inusitadas e brinca com personagens do meio teatral, entre outros perfis urbanos do cotidiano. Sacadas inteligentes, como o motivo do figurino engravatado, e uma mensagem divertida aos críticos teatrais.

O teatro para falar do próprio teatro foi um recurso que o Clã de Nós (RJ) já tinha mostrado com Mais um, apresentado nesse mesmo festival. No entanto, enquanto da primeira vez, tal recurso servia como pano de fundo para uma reflexão mais contundente, em E se fosse você... o metateatro aparece mais como uma saída para situações cômicas. Nesse ponto, a proposta do primeiro me parece mais louvável.

De um modo geral, os interessantes experimentos cênicos apresentados no RECIFASTTEATRO demonstram o quão louvável foi a iniciativa da organização do seminário em promover esse espaço para exibição de performances tão distintas, nos mais diversos aspectos, sejam eles dramatúrgicos ou temáticos. Essa diversidade merece ser ressaltada e repetida anualmente, assegurando a importância de ações como essa, que a Renascer Produções Teatrais tem proporcionado ao movimento teatral, junto aos outros inúmeros atos que envolveram execução desta edição do Seminário de Crítica Teatral.

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