DO MOÇO E DO BÊBADO LUNA
Márcio Braz
A chuva que caiu no penúltimo espetáculo do Seminário Internacional de Crítica Teatral não desanimou os atores e, muito menos, o público que se fez presente no Pátio São Pedro, no dia 04 do corrente mês. Pelo contrário. A águas caíram para abençoar o talentoso elenco de “Do Moço e do Bêbado Luna” do Grupo de Teatro de Rua Loucos e Oprimidos da Maciel. O “último dos beatniks”, como era considerado Erickson Luna, poeta pernambucano, era o pendor poético da encenação como “a lama das chuvas” dos céus de Recife.
As obras do famoso poeta recifense foram tranpostas para o palco (rua) de modo sério e acanhado. Uma vez que a montagem acerta em adaptar para a rua o espetáculo (o poeta era um conhecido “bebum” e atraía toda a sorte de intelectuais, artistas e políticos) por outro lado erra na construção narrativa, lembrando, muitas vezes, um sarau.
Os poemas de Erickson Luna são livres, soltos, irônicos e de uma musicalidade causticante, lembrando, em alguns momentos, o poeta amazonense Aldsío Filgueiras, o mais “torto” dos poetas da região norte. Na transposição para o palco, faltou, contudo, um jogo maior de elementos que pudessem trazer à tona um pouco da familiaridade e da popularidade do poeta. Ficamos diante de um recital de poesias e o jogo estabelecido com a marcação de cenas e o uso de adereços ficou restrito à ilustração dos textos e não ao jogo dramático.
O espetáculo cresce quando o público é chamado a participar. Talvez seja seu ponto alto onde a roda é aberta para que o público interfira de modo direto seja criticando algo sobre a cidade, seja recitando um poema, uma canção, em suma, trata-se de um momento que nos liga diretamente a psiqué do poeta.
A narrativa ficou distante exigindo um pouco mais do público no que diz respeito à compreensão do que era dito e as ferramentas utilizadas para tanto. Sabemos da tradição dos poemas que, na época dos rapsodos gregos e medievais, a poesia era cantada e, só posteriomente, passou a ser escrita, mas até hoje a métrica é musical. Como estamos tratando de uma outra conjuntura seria interessante, por exemplo, a personagem do poeta ser vivificada. Não se trata, é claro, de uma novidade cênica, mas talvez, dentro da proposta pretendida pelo grupo que é recitativa, a presença da personagem Erickson Luna poderia trazer um pouco de prosa (ácida e polêmica como ele) de modo a dar um ritmo e colorido ao espetáculo alem de conhecermos esta outra faceta do poeta que é a de um proseador autêntico, personagem dos bares e querido pela intelligentzia recifense.
No mais, o espetáculo “Do Moço e do Bêbado Luna” tem muito o que caminhar principalmente no que tange a tradição de espetáculos de rua (ou na rua, o que é outro formato) no Brasil. Com a certeza de vê-los afinados no discurso, respaldo a integridade e a sinceridade do projeto.
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