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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Leitura Crítica - Mãe In Loco

michelotto locuto, causa infinita®
Mãe - in loco

LOCUS como TEORIA

Aristóteles dixit que a gente só pensa lugar. O lugar de nascimento da teoreia é o teatro, uma vez que o termo designa a comissão de representantes de algum lugar que ia participar dos festivais na Grécia.

O grupo Cacos de Teatro poderia, por exemplo, ter sido a teoreia de Manaus, nesse Seminário

Iam andando por entre os olivais, conversando, conversando, daí a metáfora dessa andança (meta-odos) para a nossa teoria de hoje. Quando escolhemos um caminho para entrar num lugar e entramos no caminho, tornamo-nos metódicos. Teoreia ficou sendo, escolhido o caminho, o percurso onde se fala, o percurso da fala no lugar do percurso da comitiva.

Convoco-vos pois, a irmos junto conversando, parolando, papeando sobre nossos lugares, um dos quais se chamou Mãe- in loco.

Os ladinos latinos copiaram a imagem e a deslocaram de seu caminhar e sacanearam com tudo, criando pela primeira vez a imagem de lugar fora de lugar. O que é bem mais amplo que margem e marginalidade- a imagem alimentada dessa vez pelo sistema capitalista que bota para fora, exclui, o operariado, mas precisando dele para tirar-lhe a força de trabalho, prende-o numa faixa tênue, ás margens, à borda do sistema: o capitalismo inventou os marginais. Quando Hamlet, pré-capitalista fala O mundo perdeu seu equilíbrio, maldição eu ter nascido para consertá-lo, não fala apenas dos trabalhadores da Dinamarca, coveiros, pajens, palafrerneiros e tais, fala de algo bem mais marginal que toda marginália que conhecemos e definimos hoje.1

Já disse o bastante sobre isso citando grego à torto e à direita, topos, tópica freudiana, tópicos analíticos, espaço textual barthesiano, topologia coreográfica, lugar teórico, punctum barthesiano inserido dentro do conceito matemático de Locus, como conjunto de pontos que satisfaz uma determinada condição, o entre-lugar como espaço do corpo, busca abandonada de meus estudos doutorais dos anos 80, depois retomado por Silviano Santiago após conversas em meu apê de Candeias. E por fim, o lugar dos infindáveis quase tapas & discussões entre César Leal(*) e Ariano e outros menos conhecidos sobre o espaço kantiano, o Auditório do CAC. Discutia-se filosofia no auditório do CAC, sim senhor, honra a eles. Hoje é que não se discute mais nada. O único problema deles é que aquele locus era auditório, isso é: eles discutiam entre eles, o resto que ouvisse, e esse locus faz parte de um mundo que já dei como extinto. Um mundo terrivelmente chato para mim, porque a seu nome sempre acrescentamos apenas alguma perda e por isso, juro, a estou abandonando.

Tou mêrmo!

Já insisti também, na maioria de meus textos acadêmicos, que o maior eixo de transformação do pós-dramático foi uma nova concepção de espaço. E que isso não aconteceu primordialmente a partir de homens de teatro que Lehman cita, mas espalhadamente.

O movimento de deslocamento, distanciamento ou contestação, gerado por alguns poucos velhos dos 50, beatniks3 e outros, era um deslocamento interior em direção ao eu e assim foi seguido pelos jovens dos 60 duplamente.

Inicialmente um deslocamento para seu interior (drogas), fora do locus social (hippie),

depois deslocamento para fora do velho espaço e para dentro de novo espaço social (socialismo das esquerdas).

Essa foi a mudança de locus que me precedeu e da qual fiz parte. O resto é consequência. A consequência em teatro levou, açodadamente, o nome de pós-dramático. Estou tentando dar para vocês o sabor dos debates do Auditório usando termos como açodadamente, sacam? Tentando produzir em vocês o mesmo incômodo que produzia em mim.

Em teatro o deslocamento básico também foi duplo: distanciamento de nosso centro geográfico, o palco italiano, distanciamento do texto. Esse último, o mais barulhento pois texto como espaço, foi um conceito nascido nas novas teorias linguísticas e semiológicas despontadas nos anos 60, Barthes meu amor de então à frente, e em sua retaguarda o velho e suave Estagirita. (sentiram de novo o auditório?)

Se lerem o Japão de Barthes terão uma imagem razoável do que falo e quem sabe começaremos a ocupar a mesma sala quente, chão de Gerrah Tenfuss & a mesma sala gélida, metáfora, entre-lugar de Carol Santa Ana, dessa vez sem o olhar acadêmico de hiena, dessa vez com o prazer e sabedoria de um Artaud e do Oriente que o fascinou. Entender Mel ou Mãe- in loco, é deixar-se ocupar, deixar-se abordar, deixar piratas tomarem conta de nossas naus de velhos bucaneiros elisabetanos! Shakespeare também escrevia para piratas, era um pirata, e nós o deixamos entrar em nossas casas, não?

“Toda forma nova é sempre um assalto.

Leva sempre alguma coisa da gente”. [Michelotto citando michelotto]

Se pensarmos em cena, cenografia como lugares óbvios do locus cênico, veremos o quanto o pós-dramático cavou nesse solo para minar seu locus italiano, o palco. Esse “conceito” do Lehman é uma titica pois cabe qualquer coisa nele do Brecht ao teatro grego e polinésio, afe!! Brecht resumiu todo seu marxismo em exigir como marca constante o Ostranye/Verfrendung/ Distanciamento. Em insistir “ Isso é um palco, isso é um palco, isso é um palco”, como sua tentativa de evitar nossa alienação, a do público. A mudança em relação a Brecht é que hoje nós sabemos- e ele nem suspeitava- que o palco italiano de onde ele nunca saiu, não aliena apenas o público, mas também os atores, escritores e o danado do Brecht.

Em verdade não conseguiu tirara o seu da reta, então seu Verfrendung ficou incompreensível e injustificável para nós. Artaud que o diga.

Mas a geração dos rebordosos se agarrou a Lehman, rebordosos até porque que nunca leram Marx e sempre desejaram suavemente nossa morte. E desejaram ficar em nosso lugar teórico e aí se chamaram pós, pouco tendo a ver com o que cheirávamos, titicas comportados e bem integrados que são. Essas gracinhas bem comportadas textual, cênica e politicamente é que portam hoje o estandarte brechtiano que nos roubaram.

Portam-no não por Brecht, não por Marx, deus-nos-livre, não pelo teatro, não por uma ideologia de esquerda, mas pelo charme discreto da burguesia, seja lá o que ainda for teoricamente isso.

Ontem, ser Brecht dava cadeia com os milicos, que podiam até ser burrinhos mas intuíram certo que isso é mais que uma teoria teatral, é uma aplicação da teoria do conhecimento [errada ] de Marx e de seu corolário nas definições de Ideologia. Hoje, ai frisson, “ser Brecht” é um charme, especialmente se você acha que já esteve lá nos porões da liberdade por ter assistido 200 encenações de Barrela, e consegue ganhar uma boa grana brechtiana, discutindo por aí festivais de Verfrendung, ui!

Digo, fui.

Porque falar a partir desse espaço teórico nomeado Brecht?

Por que tem centro e seu centro é o distanciamento do público. Como se ator, personagens, textos, público já não fossem termos para práticas de distanciamento: profissão é sempre sobre diferenças de solos, personagem é sempre apenas o ressoar de outra coisa, persona, máscara, duplo, distanciamento. Público é sempre espaço de desencontros, distancias, diferenças. É isso que meu bom Pessoa define e nos convoca à distância de escritor para que outra vez conquistemos a Distância, do mar ou outra, mas que seja nossa, convocatória que já espargi aqui nesse locus de nosso sêmem, semanário.

Se até o espaço desta linha, vocês e eu conseguimos ficar juntos,

Se até aqui percorremos um caminho, mesmo e sobretudo barulhenta, festiva e alegremente gays [ing.: alegre] e festivais que todos somos- então nós podemos ser designados como teoreia de nosso teatro, então

nós podemos nos sentir indicados como grupo que porta momentaneamente a fala e a aborda e luta com ela e a conquista e a leva e trás, entre um palco e um público,

e como grupo, juntos outra vez,

outra vez teremos conquistado a Distância, do mar2 ou essa, mas que seja nossa!


Mãe –in loco

Iniciei com esse arrazoado inteiro aí acima sobre o espaço concebido pela Cacos de Teatro.

Espaço teórico sobre o qual edificaram seu texto que se converte em seu espaço cênico, esse corpo gelado de mulher, corpo im-próprio, fora de seu lugar, fora de si, sobre o qual transita essa Carol. Permitam-me mais uma vez falar Rimbaud, o menino que aos 16 anos assim cantou Ophelia, glosando uma frase de Shakespeare:

Eu sou apenas bela como a neve

E morrerei criança

E as águas me levarão em suas vozes loucas

Gritos agonizantes quebrarão meus seios de criança

Por demais humanos e por demais doces..

Há um frio que passa em nossa espinha, nessa encenação sensual, encenação que se coloca em lugar de nossos sentidos, move nossos sentidos de um lugar a outro, e esse frio é o lugar. O lugar foi pré-definido Mãe. Um título sempre faz parte da obra, não? A peça já começou quando lemos o programa. E eu já esperava pela Mãe e seu lugar ao me assentar com Polly na poltrona macia do Muda, frente a aquela groenlândia inóspita. Groenlândia é o único país que tem nome irônico. É branco, gelado e se chama green.

Mais ou menos como essa peça, essa personagem, essa atriz, esse chão, esse ajudante, esse espaço Muda: branca, gelada, mas incrivelmente green.

Vou aproveitar para falar dela Carol. Meuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu deeeeeeeeeeeeeeeeeeeus! Eu adoro ver gurias que a gente não consegue comparar com ninguém. Uma Polly, uma Carol e várias que andaram em cena nesse seminário. Eu vi todas grandes do teatro brasileiro, isso queria dizer carioca e paulista. Eu já recebi cusparadas de Fernada Montenegro e Kassia Kiss em peça “grega” de Boal e me orgulho disso, apesar desse Boal ter sido uma bela droga, um malentendido grego, uma porcaria que só Boal conseguiria fazer4, eu vi Elba nua e beijei Zizi ambas iniciando em Ópera do Malandro . Eu vi grandes do teatro pernambucano, vi Augusta Ferraz, a Guilhermina mais forte entre as que viveram Recife conosco, vi Sá Nana Diná, vi Geninha Borges e a vi em meu palco do Teatro Milton Baccarelli, e quem vê Geninha viu uma Rosa e quem viu rosas viu grandeza.

E fico eufórico, bem falante, a palavra é essa, quando vejo essas outras meninas: com 20 anos já estão na mesma altura que essas grandes divas, que gastaram a vida toda para chegar lá. Eu fico eufórico. E me digo: se com 20 anos são assim, meu deus, o que não serão quando as chamarem divas? Claro, se não forem para a TV por precisar ganhar mais grana do que os outros... Ali é o cemitério das divas. Vocês não sabem o que eram aquelas meninas ANTES de ficarem sentando e levantando, fazendo caretas improvisadas com Viola Spolin5.

Carol tem segurança total em cena. Carol tem domínio absoluto de si, do público, da cena. Carol é a que aquece tudo. Que mais se pode querer?

“Mãe- in loco é uma peça hard, de difícil compreensão”- dirão apenas os de Recife pouco afeitos ao novo mundo que se estabeleceu desde a década de 50 e insistem que estamos no ano 900, em plena Idade Média. Quando estamos na era do espaço genético.6

“Como então pode vir de Manaus?”- dirão os pouco afeitos ao admirável novo mundo cujas fronteiras são apenas essa telinha que nos separa, e não mais os limites territoriais de uma geografia insana, nacionalista e estúpida. Manaus é hoje um porto fluvial do Universo. Navega- se lá em @.com. Insisto: tudo é questão de definição do espaço, locus, topos, onde queremos viver. Por isso que Recife, muitas vezes, é apenas um porto fluvial do sujo Capibaribe, apenas um cão sem plumas. E só.

Mãe-in loco é uma peça extraordinária. O que significa que contém um ou outro senão, que me reservo o direito de conversar com a Cacos quando eu estiver em Manaus, são coisas que só a eles interessam e não lhes desmerecem o trabalho. Sempre achei sugestão de crítico para os grupos uma aberração, apesar de praticá-la de quando em vez. A relação fundamental do crítico especializado é com seu leitor especializado, isso é o público desse media- esse espaço- onde ele escreve. Não somos meyerholds de teatro, apesar de termos que entender de teatro, isso é óbvio. Em Manaus, ou em e-mails, conversaremos como gente grande de teatro. Aqui conversamos como crítico jornalista profissional e público.

Mãe-in loco é uma peça extraordinária. O espaço sonoro (alguns chamam-no trilha, caminho no meio do mato) é extraordinário. Da pequenina gaita ao ruído de passos, orientado pelo espelho d´água gelada, ao ritmado ruído de garfos e facas em pratos, tudo é uma incansável sinfonia heroica da cozinha, antigo locus de escravidão branca feminina, metáfora, espaço-em-redução, casa-cômodo-gelado-quatro-paredes-brechtianas-limites-controladores da corretíssima coreografia de Carol7.

Mãe-in loco é uma peça extraordinária. Composta por uma sucessão de imagens que vão se reconstruindo em nossa cabeça lentamente ao ritmo exasperante de um dia a dia qualquer.

Sabem o que achei melhor?

É que de alguns poucos anos para cá estou vendo uma meninada gerando dramaturgias novas, ricas, modernas, com uma espantosa facilidade. Facilidade não quer dizer rapidez, quer dizer que acertam tudo ou quase tudo e meu deus, se dermos uma olhada naquilo que chamavam “nossas grandes atrizes e grandes atores”, a tuia toda não passava de um enorme amontoado de sem-cérebros, repetindo marcas criadas por outros meio sem-cérebros que fingiam entender do texto que liam em um português de lixo, “mas nos emocionavam, ah como emocionavam!”- seja lá o que se queira entender de bom por essa expressão chula.

Honestamente, se colocarmos tantas Mãe Coragem que rolaram por aí, ao lado dessa Mãe- in loco, entenderão direitinho o que estou falando.

Só acho que está na hora de chutar o balde do Brecht, também.

Vocês conseguem.

Vamos lá, meninada, coragem!

(1) A psicologia da Gestalt, comportamental, foi a mais generosa em chorar sobre coisas marginais, seguindo a mania romana de individualizar o que é espaço social. Produziu versões de Topos (vide tópica freudiana) como locus, altamente discutíveis. Kurt Lewin pensava que o comportamento humano é uma função da pessoa e do ambiente. Nada de novo nessa sua teoria de campo. Se leram Os Sertões, essa era já a tese de Euclides. Pense-se em campo de jogo, área, dimensão geométrica, solo, e nosso entendimento de Lewin não será curto. Esse locus teve um estreitamento do campo teórico com Wenzel, por exemplo, que disse em 1993, ser Locus, um lugar de controle e algo divisível por 2: 2 locus, interno e externo . Locus de controle refere-se ao modo com uma pessoa percebe a relação entre seus esforços e o resultado de um evento. Interno se a pessoa sente mais controle de sua própria vida e sucesso, exigindo mais de si mesmo e se concentrando no que pode fazer por conta própria para lidar com os problemas atuais. Externo se a pessoa sente que fatores externos tem um controle maior na sua vida, exige mais dos outros, tem uma maior dependência emocional e funcional e são mais afetadas por críticas e elogios. Se você estiver chorando de raiva por estar esperando que eu fale SOBRE a peça e julgar com seus critérios pessoais que eu não o estou fazendo, quero lhe lembrar que você está muito descontrolado emocional e funcionalmente { isso é lá função da crítica!) e que será muito afetado por minha escrita de crítico. Tá dito aí em cima, que horror.

Conceito intimamente ligado ao de Coerção. Coerção é o ato de induzir, pressionar ou compelir alguém a fazer algo pela força, intimidação ou ameaça. O centro de seu poder é a dor. Viram, sentiram, dor em MÂE – in loco? Foi coerção.

(2) Escrito em Barra de Jangada, hoje, sábadão ,15:30h, distante 30 metros do mar, e eu me perguntando agora porque escolhi vencer essa distância entre mim e meu leitor, navegando minha nau catarineta digital por entre essas águas metafóricas, entre-falares que metáfora é isso, em vez de mergulhar de vez na outra, natural e indigenamente? Ah como fui tolo, dirão um dia que não meu!

(3) “A Beat Generation, foi uma visão que nós, John Clellon Holmes e eu, e Allen Ginsberg tivemos, numa maneira ainda mais selvagem, no final dos anos 40, de uma geração de loucos, iluminados hipsters, fez subitamente a América ascender e avançar, seriamente a vadiar e a pedir boleia em todo o lado, esfarrapada, beatificada, bonita de uma nova forma graciosamente feia — uma visão colhida da forma como ouvimos a palavra "beat" pronunciada nas esquinas da rua em Times Square e na Village, na noite dos centros de outras cidades da América pós-guerra — beat, que significa em baixo e de fora mas cheio de uma convicção intensa. Nós até ouvimos o velho 1910 Daddy Hipsters das ruas falar na palavra dessa forma, com um sorriso de escárnio melancólico. Nunca quis dizer delinquentes juvenis”... Kerouac dixit

(4) Outra: teorizar um teatro invisível kákákákaká. Se invisível porque teatro? Outra: virar o guru do teatro na rua, do teatro que discute o mundo, sem nunca ter citado meu mestre e amigo do coração, com o qual tive a honra de dividir uma paixão na mesma época e todos entenderam que, no meu estrito caso, paixão teu nome é mulher, e eu nem sei se ele era corno ou o corno era eu, mas quem se interessava por tais balelas e preconceitos que fazem os arianescos rirem nos teatros, éramos felizes e isso não tem preço de mastercard, da qual menina roubei a dedicatória de Gatti, esse sim o cara! O Gatti criou esse negócio todo de teatro fórum, reviveu o teatro político de Piscator, enfim todo o “legado” de Boal era puro Gatti, esse sim o guy, desconhecido aqui e um pouco desconhecido depois, porque aquele deslocamento que os jovens em Paris fizeram à esquerda, morreu, foi truculentamente assassinado pela Ordem que –a maioria dos pais de vocês apoiou- mas opraí na ignorância que deu....

“― ... deve ficar claro: Teatro Invisível é teatro! Cada peça deve ter um texto escrito, que servirá de base para a parte chamada fórum (...) os atores devem interpretar seus personagens como se estivessem em um teatro tradicional, representando para espectadores tradicionais. No entanto, quando o espetáculo estiver pronto, será representado em um lugar que não é um teatro e para espectadores que não têm conhecimento de que são espectadores...” Sei vocês estudaram isso, o mundo leu isso com o sangue ainda quente dos anos de chumbo, mas já não está na hora de ver que isso é um amontoado de bobagens? Já dissemos, de Brecht o que diremos do tolo do Boal: o lugar, o palco italiano –e nele incluem-se as peças escritas para ele e a forma de atuação lá em cima, que é dele e portanto qualquer troço que seja interpretado como se estivessem em um teatro tradicional, tudo é empesteado por ele. Como preparar algo “tradicionalmente ” e isso poder ser representado em um lugar onde os espectadores não saibam que são espectadores? Gatti, o gênio louco que amávamos, nunca disse tal asneira. Mas ele era de esquerda, a boa , a radical. Os outros foram os que ficaram com os lucros e descobertas, claro, ajeitando aqui e ali o que poderia desagradar à inteligência do sistema, não? Teatro do Oprimido é o que oprime o público, assim é legítimo, assim se deu tanto teatro de agressão nos anos 60. O oprimido de Boal é o mesmo de Dom Helder e do Anchieta, se ele conhecesse a palavra. Com todo respeito às figuras, eles apenas sujaram a palavra com seus sonhos de redenção. Claro que é o que dá fama, contanto que não atinja O salvador, o mais famoso de todos eles, o Inri.

(5) A Viola ganhou fama e desgraçou definitivamente o improviso em teatro ao ser contratada pelo recente Actor´s Studio, do Marlon Brando e tudo que ela fez foi ensinar Marlon Brando e o povo do Actor´s a fazer caretas decentes. Como no cinema mudo não se falava, o que é óbvio, os atores de cinema faziam horrores com a cara, as mãos , os braços, para a gente entender o que se passava ali. Quando veio a fala, maravilha que só a técnica consegue por estar sempre à frente dos homens usuários: os atores não sabiam falar. Ai inventaram jeitos meio bizarros, aí veio o Actor´s e deu um padrão de algo melhor, mas ainda muito exageradamente antigão. Um Brad Pitt , um J. Deep faz tudo aquilo com aquela mesma carinha lavada de bebê chorão, sem precisar ficar olhando para ponto fixo nenhum , ou se concentrar a partir de outra coisa que o próprio texto. Ele seque a técnica do DIG, que fazer. Mas, para a época do Ator´s , Viola foi um achado e virou um monte de dinheiro. Agora hoje...Tem quem siga esperando virar um monte de dinheiro também. Mas como se com data vencida?

(6) Em genética dizemos que locus gênico é o local certo invariável que cada gene ocupa no cromossomo e loco gênico é a posição que o gene ocupa no cromossomo. Mãe-in loco é uma mãe mutável, e talvez por isso seja ainda bastante brechtiana.

(7) O Márcio Braz notou bem esse espaço ao afirmar corretamente a meu ver “consideramos dispensáveis toda tentativa de relação com o Outro.“ Falei coreografia, pois para mim Mãe –in loco é dança pós-contemporânea. Entenda-se por pós-contemporâneo apenas o que eu entendo por pós-contemporâneo, já que fui eu quem inventou o termo para designar isso, algo bem pós todos os pós que acabam sendo limites estreitos de críticos estreitos. Pós-contemporâneo é um termo inventado por um senhor de cênicas [no caso: eu] para quem faz cênicas: não significa nada a não ser liberdade total, vital, incondicional. E nada pode ser pós isso.

(*) Acabei de saber por Virgínia, filha de Cesar que ele não está nada bem. Lamento profundamente

e quero registrar isso aqui.

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