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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

7º Festival de Teatro da Amazônia / De P... a P...

DE P... A P... DA PAQUERA AO PARTO



TUDO CABE NO SONHO

“Meu coração, não sei por que,
bate feliz, quando te vê...
E os meus olhos ficam sorrindo,
E pelas ruas vão te seguindo,
Mas mesmo assim, foges de mim...”
Pixinguinha

Sem nenhuma pretensão o Baião de Dois levou a platéia para o palco do Teatro Amazonas e fez com que vivesse um momento sublime do teatro, um sonho. Três clowns costuram cenas que sustentam a linha mestra do espetáculo e, apenas as luzes invertidas da ribalta, nos lembram, constantemente, que o picadeiro tornou-se lugar imaginário. O que impressiona, de saída, é a desconstrução de qualquer possibilidade de uma produção mais elaborada, que procura o glamour para dar suporte à realização do teatro infantil. Figurino ou objetos cênicos mais elaborados estariam em conflito com o contexto escolhido pela direção do espetáculo, tamanha é a simplicidade com que os atores brincam em suas fabulosas estórias e manipulam seus adereços.

Ao início, pois.

“De P... a P... Da Paquera ao Parto”, criado por Selma Bustament e Cleyton Nobre, para o Grupo de Teatro Baião de Dois, alcançou todos os seus objetivos. Divertiu, emocionou e despertou boas sensações nos espectadores que foram na manhã do último sábado, assistir a essa apresentação, concorrendo na categoria infantil, dentro do 7º. Festival de Teatro da Amazônia. O texto, em verdade, é apenas um roteiro, um guia que dá possibilidade para que pantomima cubra toda a ação do espetáculo, sublinhado por uma suave trilha musical que liga os quadros. Palavras, em alguns momentos apenas. Enredo simples. Uma trupe de clowns vai de cidade em cidade, contando estórias que mostram o processo da paquera, passando pelo casamento e finaliza no parto.

O laboratório que revela o clown no Baião de Dois, vem de longe. Selma trouxe em sua bagagem quando trocou os palcos de São Paulo por Manaus. Trouxe a experiência vivida com o Lumis, escola de palhaços, e divide agora com Clayton Nobre e Dennys Carvalho o aprendizado. Nasce assim, o trio de personagens que vive diversas situações em torno do amor, tendo a paquera, o ciúme e a paixão como ingredientes que aquecem as sensações do espectador e provocam boas gargalhadas. Trata-se do mesmo trio, recorrente em diversos momentos da dramaturgia universal, que vem desde a Commedia Dell´Arte com a Colombina, o Pierrot e o Arlequim, por exemplo, até os dias de hoje, quando a clown Candura, interpretada por Selma Bustamante, faz promessa a Santo Antônio que lhe dê um casamento.

Dois pretendentes se apresentam e vivem situações hilárias como a cena da Serenata, da branca de Neve, de Romeu e Julieta, ou a de Rapunzel. Mesmo que exista liberdade entre os quadros, podendo ser apresentado em partes, constata-se uma costura, com linha grossa, que permite ao espectador acompanhar os conflitos amorosos do trio em seus quadros, até que Candura escolha seu amado e tenha seu (s) filho (s), como sendo uma só estória. Aí é que reside o trunfo do espetáculo. Foi elaborado com tanto zelo que mesmo reconhecendo algumas fragilidades na interpretação do elenco e na amarração das cenas, nada tira o brilho e o vigor do trabalho desses três atores. Afinal, quando o palco é usado pelo sonho, tudo cabe nele. Parabéns ao Baião de Dois, melhor dizendo, parabéns ao Baião de Três.

*Chico Cardoso, crítico teatral.





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