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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

sábado, 16 de outubro de 2010

7º Festival de Teatro da Amazônia / Por Que Pular Degraus se a Gente Pode Voar?


PORQUE PULAR DEGRAUS SE A GENTE PODE VOAR?

SE A GENTE PODE VOAR, PORQUE TROPEÇAR NOS DEGRAUS?


* Por Chico Cardoso

O ambiente é estranho, deveria nos situar na garagem de um edifício, entretanto, o palco desnudo, rasgado do sonho, imprime uma sensação demasiado realista, enquanto o onírico é evocado para um jogo teatral que propõe uma transição do mundo real, para o imaginário. Nele, uma rainha cheia de feitiços decretou exílio aos personagens que poderiam, juntos, lhes dar a eternidade. Nessa garagem duas crianças ou quase adolescentes, ficam presas pela queda de energia e tentam usar os degraus da escada do prédio, mas a menina cai gravemente machucada no pé, o que parece ser a chave para a entrada dessa rainha má no mundo real e os arrasta para o seu mundo. Quando os garotos se dão conta de que estão em outro universo, é tarde para voltar ou acordar do pesadelo. Daí começa uma aventura nada empolgante. Mas explico porque mais adiante.

Para alcançar a eternidade, a rainha manda que os meninos embarquem numa viagem estranha para apanhar um pelo do gato prateado, um pedaço da fita do vestido da mulher cara de leque e uma chave com uma espécie de lorde inglês futurista e, caso fracassem, jamais retornariam à garagem do edifício.

Sim, é um espetáculo infantil. Ou pelo menos, na visão da Cia Cacos e do autor/diretor Francis Madson. O que é muito interessante é a liberdade com que essa companhia de teatro, formada por jovens artistas, vem experimentando no palco amazonense. Propõem sair das convenções do teatro infantil e oferecem um quebra cabeça com peças nada convencionais que discutem medo, angustia e o temor que a maldade se torne perene. Ainda que de forma estranha, a cena é fascinante.

Tim Burton, no cinema, por exemplo, criou uma linguagem muito distante da Disney, para contar suas estórias. Seu mundo é macabro e sombrio, mas sempre calçado no onírico, que abranda a linguagem e a deixa poética para o publico infantil, está nos filmes “A Noiva Cadáver” e no mais recente “Alice no País das Maravilhas”. Assim, penso que a Companhia poderá dar um tratamento mais radical na proposta, para que ela se feche e encante mais.

Agora explico porque não empolgou. O que ainda impede a amarração da proposta é a direção acanhada e descuidada, principalmente, com as técnicas vocais necessárias para desnudar o palco. Isso fez com que o texto escapasse, prejudicando a construção cênica da estória. O público não entrou no jogo. A Rainha exagerada em suas expressões, voz esganiçada e ilegível, apagou o brilho do figurino criativo e da própria personagem. Totalmente ilegível ficou a voz do ator que interpreta o Lorde. Ele jogou todo seu texto fora. A mulher cara de leque, que pareceu ser belíssima, interpretada por Taciano Soares, toma distância do espectador, justamente por não deixar fluir a voz e por vezes, esconder as falar que tornariam mais claras as intenções da personagem, neste caso foi o figurino, que mete o leque na frente da boca do ator. Destaque para o gato, interpretado por Dyego Monzzaho, cuja projeção vocal alcançou o espectador e foi a personagem mais cativante, paradigma a ser seguido na companhia. Quanto a menina e menino, não fica claro se crianças ou adolescentes, posto que o ator proponha em sua interpretação uma limpeza daquele irritante traço infantilóide, para o qual a atriz resvalou. Descuido, portanto, da direção.

O texto é contemporâneo, a soma de seus ingredientes fortalece a proposta inovadora para o jogo teatral. O resultado no palco acaba não valorizando o que é simples na dramaturgia, pois o diretor tentou colocar-se à frente do autor. Se nos é permitido voar na imaginação, a direção não poderia ter tropeçado nos degraus. Esse é o ponto em que a companhia deverá se debruçar nos próximos laboratórios. A direção deste espetáculo precisa redimir o elenco dos tropeços e realinhá-lo para uma interpretação limpa e clara. De qualquer forma temos um belo insight a caminho e, no futuro da Cia Cacos, podemos ter revelações surpreendentes para o teatro infantil.

* Chico Cardoso, diretor teatral.

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