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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Painel Crítico / Fio Invisível da Minha Cabeça

Puxando o fio [invisível] desde a minha cabeça até o bonde da história


Paulo Bio Toledo
(Obs.: Edição coletiva do texto com Juliene Codognotto em operação semelhante aos processos de colaboração e edição de textos na revista Bacante – www.bacante.com.br)


“quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados”

(Manuel Bandeira)

Conhaque barato e maço de cigarros molhado... Frio cortante, as árvores secas do inverno e ainda chove... garrafa apertada contra o peito, pedra, garrafa quebrada, lama... “Um fio invisível saindo da cabeça dele até a minha”. (e uma “navalha pros meus olhos”)

O acúmulo das metáforas e das imagens é duro e concreto, lirismo-material que não se perde em tergiversações “híbridas”, “ambíguas”, “regurgitadas” e abstratas da alma, do ser, do espírito, do amor... Tudo é absolutamente determinado – avalanche de concreto, frio e conhaque – por uma simples definição de gênero: o fio invisível que sai da cabeça DELE ... e não DELA; uma única letra (E... e não A) faz de toda e cada sentença uma nova lírica pautada por uma luta interna, mas encarniçada, no campo da sexualidade.

Henrique é um ator simples (nu), objetivamente seguro, e mastiga a dureza de cada palavra de Caio Fernando Abreu... Cospe as imagens; cria universos narrativos; compõe, solitário, o frio, a lama e o “ponto” a ser ultrapassado; com poucas palavras Henrique materializa – sobre o vazio do palco – a rua escura por onde caminha; o faz de maneira mais lírica e pungente do que se víssemos de fato a rua, a chuva e o conhaque barato numa película cinematográfica (ou em nossas próprias vidas).

Por outro lado, entre o contexto de ontem e o de hoje há abismos conjunturais... tantas incisões cirúrgicas, evoluções e involução social, recriação de imaginário... (empresas de conhaque barato vão e voltam da bancarrota; os cigarros são e não são bem-vindos), que o “ponto a ir além” de ontem, de Caio, por certo mudou de lugar – terá ido mais adiante? Voltado alguns passos?

Certo é que as linhas de Caio e sua definição de gênero (E... e não A) não parecem hoje aparecer do mesmo modo. Talvez a solidão e o amargor de lidar com a homossexualidade sejam tão ou mais intensos que ontem, contudo há um contexto político e moral (geralmente bastante hipócrita) em que há um “status” de aceitação da homossexualidade – seja “festiva”, como nas grandes demonstrações nas paradas gays pelo mundo todo e nos ícones da sociedade assumindo publicamente sua homossexualidade, seja na institucionalização política e jurídica dos direitos cívicos do homossexual (cujo maior exemplo é a boa notícia da legislação positiva – em efeito dominó pelo mundo – sobre o casamento gay), etc.

O que não significa, de maneira alguma, a desatualização histórica do tema. Pelo contrário, coloca-o na ordem do dia. A grande força da obra de Caio Fernando Abreu é justamente lidar com o contexto castrador de uma época, portanto, parece exigir que ao nos valermos de seu material literário tenhamos que lidar também com o contexto histórico em suas variantes e continuidades.

Assim, ao escolher levar ao palco, hoje, a referência pontual à situação proposta pelo conto, sem considerar as mudanças no contexto, a peça não consegue chegar ao mesmo lugar que o texto original: não possui o caráter político escancarado de outrora ao lidar com as questões da homossexualidade marginalizada, da dureza amargurada (por vezes sem saída) de um mundo masculino e opressor. De modo que o aspecto político que a obra exala, de maneira sufocadoramente bela, fica em segundo plano, pois não é confrontado com a transformação imensa que a questão da sexualidade sofreu nestas quase três décadas – a contar da escritura do conto. Então, o que fica verdadeiramente em evidência na peça é o puro lirismo... Concreto e incisivo, porém puro lirismo; destaca-se apenas a beleza avassaladora do texto catalisada com a potência de representação narrativa que o ator possui. Mas o contexto político (de confrontação, de subversão individual, da dor anárquica) que grita o conto de Caio Fernando Abreu é submerso, afogado pelos tempos... E o espetáculo parece fechar seus olhos a isso...

“Estou farto do lirismo namorador
[...] De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo
[...] – Não quero mais saber do lirismo que não é libertação”

(Manuel Bandeira)

Um comentário:

  1. TU VISITOU A CASA DE BANDEIRA AQUI EM RECIFE?
    OS RECIFENSES SÃO MEIO loucos e sempre apaixonados pela pessoa errada, ENTÃO A CASA JÁ GANHOU ATÉ UM ANEXO "SUASSUNA"!
    SÉRIO!
    Bandeira odiaria saber que SUASSUNA botou seus ovos de serpente na melhor sala de sua casa!
    Bandeira fez um slogan para as eleições de sei lá que ano, contra Arraes que ele detestava- e portanto Dudu e seu Secretário de (in)Cultura Ariano - que dizia:
    MAIS ARROZ E MENOS ARRAES!
    Grande Poeta!
    PS>
    quando falo essas coisas pensam que sou, ou fui, de DIREITA!
    Tás brincando!!!
    Só não quero que botem a nosso lado na história gente que viu Julião- e outros mais- serem arrastados pela Conde da Boa Vista e depois assumirem seus cargos, sem mandato nenhum do povo.
    O Caso preciso de Ariano.
    Também, com um nome desses!!!!!!
    Suassuna, ninguém sabe o que é: dizem os dicionários e toda iconografia Armorial, ser um jaguar, coisa que aqui nunca houve, ou o famoso veado campeiro brasileiro.
    Coisa também que aqui houve bastante.

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