POP-ULAR
Paulo Bio Toledo
“Oh, oh, oh, oh, ohhhh, ohh-oh-e-ohh-oh-oh”
(GAGA, Lady. Poker Face. In: Pós-Pop-
Dialectical Reason. Iraq: God save us, 2010)
“Eh, eh, eh, eh, eh, eh... Stop telephoning me
Eh, eh, eh, eh, eh, eh... I'm busy
Eh, eh, eh, eh, eh, eh... I'm busy
Eh, eh, eh, eh, eh, eh... Stop telephoning me
Eh, eh, eh, eh, eh, eh...”
(Idem. Telephone. Op Cit.)
Este era o imbróglio original... “coisa poca”, diriam alguns, por isso – não satisfeitos – os atores e o diretor Lano de Lins resolveram rechear o enredo assemelhando cada uma das personagens a um ícone pop atual: Beyoncé, Britney Spears, Lady Gaga, Amy Winehouse, Whitney Houston, Justin Timberlake e, por fim, na parede do barraco a foto da Deusa-anciã: Madonna.
A peça então é entremeada com números musicais – adaptações cômicas das famosas paradas de sucesso dos respectivos ícones pop na atualidade. O que evidencia, talvez, um aspecto do espetáculo: a sua disposição em ser um show de variedades humorístico. Ou seja, ser uma descarga de piadas, paródias musicais e situações de humor escrachado com o objetivo de gerar um acontecimento de entretenimento “popular”. De modo que as situações e o desenrolar de trama no espetáculo tornam-se apenas pretexto para o desbunde. A situação serve ao humor e não o contrário. Isto é, o desenrolar da peça é reduzido a uma justificativa para o show cômico-trash do grupo.
O procedimento não é novo, basta ligar a TV no sábado a noite – no programa Zorra Total, por exemplo, (entre tantos outros) – e veremos ali uma eterna imagem deste tipo de operação humorística. Inclusive com as mesmas linhagens temáticas e recursos cômicos: pobreza, sexualidade, ridicularização física, paródia a “mitologia” pop, escatologia etc. (exemplo http://www.youtube.com/watch?v=vDHDmTgN4Do).
Este alinhamento a cultura de massas traz a tona uma confusão conceitual em torno do que seja popular – conceito extremamente controverso com dezenas de possíveis acepções. O termo popular pode estar associado tanto a manifestações espontâneas e/ou tradicionais de um povo ou de uma região como a um processo social de democratização do acesso a arte; pode significar tanto a arte feita pelo próprio povo – sem distinções significativas de critério entre criador e receptor – como a arte pensada para o povo. Todavia, uma comum acepção do termo é aquela que hoje é mais bem definida com o vocábulo inglês abreviado: pop. O pop refere-se, fundamentalmente, à cultura massificada ao extremo; às manifestações ligadas a indústria cultural que se alastram mundialmente com uma velocidade incrível movidas a combustível publicitário e pela imposição cultural construída pelas grandes mídias, distribuidoras, produtoras, lobby empresarial etc. – para estes, as fronteiras entre arte e mercadoria já não existem mais (ou nunca existiu).
Em Paloma para Matar a impressão é que há uma tentativa de, através da cultura pop, atingir uma popularização da arte, pois o espetáculo se vale da referência (mitificada) dos ícones pop, mas os apresenta na patética situação da miséria extrema e com alto grau de regionalização (tanto no vocabulário quanto nas referências cômicas – ambos ligados a Pernambuco e, especificamente, a Recife) como que “abrasileirando” a referência pop. No entanto, o problema é muito mais complexo. A começar pelo fato de o universo pop explorado não ser visualizado de forma crítica – ou seja, o espetáculo se utiliza do imaginário pop como elo de ligação com o público supostamente popular, só que ao proceder assim a peça se alinha a todo o aparato perverso da cultura de massas, vira difusora da mesma. Ao invés de perceber criticamente que esse “elo” comum (cultura pop) é algo imposto, alienante e socialmente construído pelos meios dominantes, o grupo aceita este universo como língua naturalmente universal.
Assim, o seu humor torna-se uma versão underground (terceiro-mundista) da própria indústria pop. Tenta-se popularizar o teatro se valendo da parafernália ideológica mais do que disseminada na TV, música, cinema (Hollywood) etc., mas só o que se consegue é massificar o teatro.
Curiosamente, antes de assistir Paloma para Matar, assisti Os Fuzis da Sra. Carrar, com direção de João Denys. No texto, Brecht demonstra a fragilidade da posição de neutralidade. E, em certa altura do espetáculo sobre a Guerra Civil Espanhola, alguém proclama referindo a luta contra o fascismo de Franco:
“se você não está contra eles, você está colaborando com eles”
Talvez esta seja a sina de todo artista, ontem e hoje.
FECHOU!
ResponderExcluirSeu comentário estará visível depois de ser aprovado.
ResponderExcluirõ porra de censura, do tempo do Franco!
quando se quer acabar com uma coisa tem que se acabar com as raizes dela.
cortem esse negócio de "aprovação" daí!!!
( já sei, não podem etc etc...e assim mataram meu amigo Lorca, aqueles pôrras!!!!)
.. mas só o que se consegue é massificar o teatro.
ResponderExcluirTÕ COM PAULO E NÃO ABRO!
o maior problema de Paloma e do besteirol é talvez que deva cair fora do palcão, do teatrão.
EU SOU COMPLETAMENTE A FAVOR DE MASSIFICAR O TEATRO!
VOLTAR PARA O NEGOCIO DE ONDE ELE SAIU, ONDE ATÉ ESCRAVOS FICAVAM LIVRES PARA SE DIVERTIR...
O POP NASCEU LÁ, NÃO? TRASH- TRASH AQUELA LINHAGEM DE REIS ( DE ORESTES A CREONTE...), NÃO?
PAULO ESTÁ LEVANTANDO UMA LEBRE RÁPIDA E FUGAZ, MAS PODEROSA, QUE NOS DEU MUITA DOR DE CABEÇA NOS ANOS 60/70 e talvez nos dê ainda: a história do popular ( que em inglês de Ian é:pop...).
Hoje o Mercado de Escravos vira shopping center, ou seja, o passado retorna, agora as mercadorias continuam andando vislumbrando prateleiras...
ResponderExcluirCuriosamente, Paulo e Michelotto, dois paulos, estão antenados com esta armadilha da indústria cultural. O Mickey do Paulo tem a cara do Iggy Pop (um sobrevivente!). O Paulo Bio é o que é: Bio+vida= crítica teatral de categoria/propositiva. (Jorge Bandeira)