Quem sou eu

Minha foto
A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Painel Crítico / Paloma Para Matar

Duda Martins

Talvez seja mais fácil criticar um espetáculo dramático do que uma montagem cômica. Procura-se influências na crítica social de Bretch, na vida real de Stanislavski, nas comédias não tão conhecidas de Shakespeare, mas em Paloma para matar nem mesmo as sátiras de Molière se encaixam. Ao assistir a peça dirigida pelo potiguar Lano de Lins, somente uma fonte de inspiração vem a mente: a companhia pernambucana Trupe do Barulho. Quer tenha sido essa a intenção, ou não.

Em sua Arte Poética, Aristóteles diferencia a comédia da tragédia afirmando que esta última trata de homens superiores (história de heróis), enquanto a comédia aborda as questões dos homens inferiores, neste caso, pessoas comuns, da pólis. É basicamente isso que acontece tanto em Paloma para matar, quanto na montagem de Cinderela: a história que a sua mãe não contou, uma das peças de maior sucesso no Recife dos anos 90. As duas tratam de um universo marginal, associado à figura de travestis, tema facilmente absorvido pela mídia e de consumo massivo, principalmente no contexto nordestino. Não é a toa que Cinderela esteve em cartaz por cerca de dez anos e Paloma segue no mesmo ritmo, há um ano lotando o pequeno teatro Alfredo de Oliveira.

A peça narra a história das três irmãs Jurema Knowless, Natasha Spears e Dorelha Winehouse, que recebem uma carta do filho adotivo, Gabriel Timberlake, anunciando seu casamento com uma “moça” misteriosa chamada Lady Paloma Gaga. Acrescenta-se ainda a participação da “macumbeira” Severina Houston – personagem, aliás, quase idêntico ao Fada Macumba, da Trupe. Elementos do mundo pop são identificados no cenário (uma foto de madona pendurada na parede), nomes de personagens, e trilha sonora (os atores cantam e dançam versões de hits, compostas por eles mesmos). O texto de Luciano Costa serve apenas de orientacão para os atores que abusam do improviso (e bem), e de piadas calcadas no escracho. Seguem ainda diversos clichês preconceituosos em relação a classe social, religião, gênero, raça, além de muita escatologia.

O fato é que mesmo não apresentando apuro técnico, intenção de um teatro agente transformador da sociedade – pelo contrário, a peça reafirma ao espectador a realidade excludente (personagens falando um português incorreto, por exemplo) ainda presentes na cultura da cidade – o espetáculo tem cadeira cativa no gosto popular. Pais que levam os filhos, avós que carregam os netos e uma infinidade de jovens atraídos por um quadro tão comum. É curioso ver como as pessoas se identificam com a realidade mostrada ali na frente. Nunca a frase "seria cômico, se não fosse trágico" fez tanto sentido.

Sim, consegue arrancar gargalhadas, de tão ridículo. Consegue ser vendável, de tão apelativo. E se essa for a proposta, Paloma para matar, está indo no caminho certo. O argumento do “teatro de entretenimento” está aí para ser usado. Mas que saudade de O Auto da Compadecida.




Jorge Bandeira*


PINK FLAMINGOS NO MANGUE


A comédia teatral tem sido réfem de diversas linguagens, em especial da televisiva. Este tipo de comédia, fruto direto da imersão no besteirol, que surge de forma avassaladora e que hoje responde também pela nova visada da comédia stand up, na economia de poucos atores, deve ser encarada com algumas restrições e sem preconceitos muitas vezes colocados de forma apressada. Trata-se de uma filha bastarda do gênero teatral, com visíveis apelos comerciais e que tem a capacidade de lotar espaços teatrais e auditórios nos quatro cantos do Brasil. É uma tendência popular, ou popularesca como querem alguns.

Os clichês usados em PALOMA PARA MATAR, com direção de Lano de Lins, são fartos e bem executados, com atores de fôlego para aguentar a dinâmica de cena e com capacidade de improviso satisfatório, em um amálgama de situações que percorre a cultura pop norte-americana em sua vertente musical mais óbvia e referências aos filmes B de uma tradição que se inicia com JOHN WALTERS e sua emblemática atriz e travesti DIVINE, no hoje clássico PINK FLAMINGOS, que inaugura esta forma escatológica e exacerbada de atuação, isto no cinema. A fórmula cresceu e mantêm-se viva, com algumas variações, no Teatro de hoje.

PALOMA retoma muito desta tradição, e a capacidade de comunicação do espetáculo é instantânea, pois assegura-se das peculiaridades da cidade para fortalecer esta história cheia de humor e sem nenhum pretensão qual não seja a de divertir seu público pagante. O vocabulário inerente ao universo Gay, com seus adjetivos e termos coloquiais também fazem parte desta fórmula, garantindo o vigor do espetáculo do início ao fim.

A situação que se coloca, em termos teatrais, é que estes referenciais se esgotam com extrema facilidade, e tornam as diversas montagens que se apresentam com esta estética barroca gay, uma repetição de estereotipos onde a inovação da cena dificilmente se apresenta. Destarte a boa direção de Lano de Lins, da primazia de atuação do elenco que está seguro e dos elementos teatrais funcionarem a contento, eis que a impressão de um olhar atento retorna aos inúmeros casos em voga de um Teatro contaminado pela mesmice, e aqui posso deslocar a visada crítica construtiva para uma outra questão: o que se coloca em cena transgride ou pérpetua um preconceito sobre a opção sexual/estética de um segmento cultural importante no século XXI?

A partir do tema gerador desta crítica, inserido neste SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE CRÍTICA TEATRAL: ENCONTRO DOS CONTINENTES, em sua edição 2010, sobre SEXUALIDADE(S) E PERFORMANCE, reflito sobre a proliferação desta vertente teatral, suas potencialidades e limitações. Potencialidade no aspecto de facultar esta comunicação imediata com o público, e no caso de PALOMA o público adulto é o alvo, pois as situações sexuais escamoteadas, ou não, incluem sexo anal, oral e tudo que uma imaginação criativa pode conceder a um corpo. E aqui entra o humor desregrado, escatológico, com o já citado e repetido universo vocabular gay, para alguns os termos podem ser familiares, mas para outros é como se necessitasse, em aguns momentos deste espetáculo, do dicionário “Aurélia”, com os verbetes explicativos para cada palavra do “mundo do arco íris”. As limitações deste gênero são as já citadas acima como um enfraquecimento das sensações de novidades, de ineditismo, pois temos uma exacerbação que nos leva, inevitavelmente, a forjar uma gama de situações que se repetem ad infinitum sobre o palco, nos remetendo a situações já vivenciadas, a caras e bocas que tornam as máscaras repetitivas, que funcionam numa primeira e segunda vez, mas que se enfraquecem no decorrer da trama.

Mesmo com este final de Teatro Fórum a peça não inova. Lembrem-se, a crítica não anula o belo e dignificante trabalho dos atuadores de PALOMA, apenas relativiza sua abrangência como ponto de inovação do Teatro recifense. O sucesso de público não significa, necessariamente, que PALOMA segue uma trilha inovadora. A capacidade de público ao longo de quase um ano de temporada é o grande mérito desta montagem, e nisso, incontestavelmente, PALOMA é merecedora de nosso elogio, mantendo-se e mantendo a cena teatral recifense viva, para o deleite de entendidos e não entendidos.

*Crítico de arte, membro do Conselho de Cultura de Manaus, ex-presidente da FETAM, Federação de Teatro do Amazonas, Historiador, ator e diretor de teatro, dramaturgo, poeta, tradutor.

Recife, 16 de agosto de 2010.

Contatos com Jorge Bandeira: vicaflag@hotmail.com


Paloma para Matar

Sarah Monteath



[...] Acaso a fantasia cômica não nos informará sobre os processos de trabalho da imaginação humana, e mais particularmente da imaginação social, coletiva, popular? Fruto da vida real, aparentada à arte, acaso não dirá nada sobre a arte e a vida? (BERGSON: 1900, 11-12)

De acordo com o filósofo Henri Bergson, em sua obra O Riso, escrita em 1900, o efeito cômico de uma cena, ou de um palhaço, é suscitado através de uma sensação de distanciamento entre os personagens e o público. Distanciamento este que pode ser conseguido, sobretudo, através do exagero de atitudes e gestos.

Assim, a sociedade pune o indivíduo que age mecanicamente, podendo-se dizer que perde-se em seus hábitos, e por isso é punido através do riso que, essencialmente social, tem a função de corrigir tais atitudes. Ressaltando-se, ainda, que uma obra reflete a sua época, quando Bergson escreve o riso, sua época estava permeada pelo cientificismo, e conseqüente revolução industrial, desta forma, a sociedade evoluía a olhos vistos, e punia aquele que dela se distanciasse.

O riso suscitado pela peça, no entanto, não parece ter a função corretora, que afirmava Bergson, mas, no século XXI, tem-se outro contexto, mais envolvido com tecnologia, mais concorrente, e, consequentemente, mais angustiante. Desta forma, de acordo com Minois acerca do século XXI:

[...] O Mundo riu de tudo, dos deuses, dos demônios e, sobretudo, de si mesmo. O riso foi o ópio do século XX, de Dada aos Monty Pythons. Essa doce droga permitiu à humanidade sobreviver a suas vergonhas. [...] O Riso tornou-se o sangue e a respiração dessa sociedade humorística que é a nossa. [...] Tendo esgotado todas as certezas, o mundo tem medo e não quer que lhe digam isso; então ele fanfarreia, tenta ser cool e soft, ri tolamente de qualquer coisa, até para ouvir o som da própria voz. É neste sentido que o séc.XX morre de rir, e ao mesmo tempo, anuncia a morte do riso. (MINOIS: 2003, 553-554)

A peça em questão, Paloma para matar, ao utilizar-se de elementos presentes em nossa cultura, usa e abusa do recurso de distanciamento, para que seja possível suscitar o riso, que é essencialmente social, e, por isso, precisa de eco, como afirma Bergson, torna-se bem sucedido. O público não se identifica com o que está sendo apresentado, devido aos trejeitos exagerados, e possivelmente, não identifica-se com a realidade apresentada, por isso não há uma mudança de atitude do público através da peça.

A paródia com personagens famosos parece tornar-se o centro cômico da peça, e figurinha premiada ao se construir estruturas cômicas atuais. Assim, não se trata apenas de punir indivíduos caricaturados que moram em um local simples e cometem erros de linguagem, ou falam alguns palavrões, como ocorrem com as pessoas comuns, mas tal caricatura parece atingir mais o campo circense, assim, como afirmava Bolognesi acerca das peças circenses:

[...] Elas não se caracterizam, contudo, como comédias de costumes, pois não se propõem a passar em revista o comportamento dos homens, quer nas diferenças sociais e de classe, quer seja em relação ao meio. Elas também não se aproximam da comédia de caráter, pois não exploram as propriedades morais e éticas das personagens [...] Quando tomam emprestadas temas da vida cotidiana fazem que as intrigas se voltem para os próprios palhaços.

O que parece ser ridicularizado neste espetáculo são questões que, se observadas por outro ângulo, podem levar à uma certa reflexão: presença, influência e importância da música, seja ela estrangeira ou não, assim como seus respectivos artistas estrangeiros em um meio simples ( como o quadro da Madonna na sala, quem nunca entrou em uma casa mais simples, e não percebeu semelhança com posters de revistas, de artistas estrangeiros colados nos quartos ou nas salas?); as personalidades que foram “punidas”, como a Natasha Spears, caricaturada com roupas mais provocantes e cuja artista inspiradora foi conhecida por séries de escândalos, como se percebe na cena em que a personagem da peça chega em casa conduzida por um camburão de polícia.

Um aspecto a ser ressaltado, não obstante esta pequena análise do riso suscitado pelo cômico trata-se de uma questão que não pareceu ser resolvida na peça, e que pode suscitar um questionamento preocupante nos dias atuais. O filho adotivo dos travestis: Gabriel Timberlake, ao apresentar sua noiva Lady Paloma Gaga, tem em seu número musical uma frase em que cita a escolha sexual do seu pai, abstendo-se de ser homossexual, tal afirmação, no entanto, pode levar à questão suscitada há alguns anos acerca da adoção de crianças por casais homossexuais. No entanto, ao final da peça, descobre-se que a noiva, na verdade, é um travesti, o que pode acarretar ao levantamento da polêmica acerca da influência de pais homossexuais em uma possível escolha na homossexualidade do filho adotado. No entanto, enquanto fórmula cômica a peça atinge o final (considerando-se aqui o terceiro final, embora, infelizmente, os outros dois não tenham sido contemplados) necessário para uma comédia: no qual todos acabam bem e as intrigas são desfeitas.

4 comentários:

  1. Um artigo conciso e preciso de Duda Martins sobre Paloma.

    ResponderExcluir
  2. A parte desta critica esta equiviocada o trecho:O filho adotivo dos travestis: Gabriel Timberlake, ao apresentar sua noiva Lady Paloma Gaga, tem em seu número musical uma frase em que cita a escolha sexual do seu pai, abstendo-se de ser homossexual, tal afirmação, no entanto, pode levar à questão suscitada há alguns anos acerca da adoção de crianças por casais homossexuais. No entanto, ao final da peça, descobre-se que a noiva, na verdade, é um travesti, o que pode acarretar ao levantamento da polêmica acerca da influência de pais homossexuais em uma possível escolha na homossexualidade do filho adotado.mostra a falta de atenção esta tal música que é citada mostra um outro lado que foi massificado pelo pensamento popular "filho d epeixe peixinho é" neste caso vem para quebrar,deglutir e transformar o que paloma faz com todos os outros signos o humor aqui é ácido alias de todo o espetáculo.vide a palestra de Rodrigo Dourado: Bonecas falando para o mundo: transformismo e performance a (des)identidade pernambucana.

    ResponderExcluir
  3. A letra da Musica diz - EU TENHO UM PAI, QUE É FRANGO, EU SEI. - ISSO NUNCA ME PREOCUPOU - E AGORA EU VOU ME CASAR COM MEU AMOR - E TER PRA MIM UMA RACHA TODO DIA.
    Ou seja - o Personagem diz que nao se importa com a sexualidade do pai e mostra que sua HETEROsexualidade nao foi abalada por ter um pai HOMO.

    ResponderExcluir
  4. A letra da Musica diz - EU TENHO UM PAI, QUE É FRANGO, EU SEI. - ISSO NUNCA ME PREOCUPOU - E AGORA EU VOU ME CASAR COM MEU AMOR - E TER PRA MIM UMA RACHA TODO DIA.
    Ou seja - o Personagem diz que nao se importa com a sexualidade do pai e mostra que sua HETEROsexualidade nao foi abalada por ter um pai HOMO.

    ResponderExcluir