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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Painel Crítico / Fio Invisível da Minha Cabeça


ESSE FIO QUE NÃO SE PARTE

Duda Martins

O Fio Invisível da Minha Cabeça, da cabeça dele e da sua também. Breno Fittipaldi pega Além do Ponto, conto de Caio Fernando Abreu e joga no palco. Não, joga não. Coloca lá com todo o cuidado. Não mexe em nada. Em respeito, e até mesmo num gesto de precaução, foram mantidas todas as vírgulas, todos os pontos. E o que vem além do ponto chega através da interpretação de Henrique Ponzi. Um ator nu revelando o fio invisível da nossa cabeça.

Chovia, chovia, chovia e quem estava no pequeno Teatro Capiba na noite de ontem quase sentia os pingos molharem. Não, não haviam falhas nas instalações. Mas é que tudo nos fazia sentir mergulhados no cenário urbano de Porto Alegre, de Caio, e também de Henrique. A luz de Luciana Raposo e a sonoplastia de Sônia Guimarães trabalharam tão bem que impulsionaram o ator para fora do palco até que entrasse o personagem vivo, real. Beckett vinha e voltava à medida que seu niilismo se distanciava da realidade exposta ali, dilacerada e ao mesmo tempo tão escondida. Se o conto de Caio é verdadeiro, no palco ele foi ainda mais na movimentação de Ponzi. Preciso, ele vai até onde quer e pára. Chega no limite da emoção e não se permite transbordar. É um ator que segura firme as rédeas do seu personagem.

Ele queria entrar, mas não podia. A espera não valeu, a indecisão não valeu e era melhor que tivesse se embriagado com o conhaque barato. Nós também bebemos do conhaque barato. Nós também nos molhamos e nos sujamos na lama. Nós também sentimos muito frio e vergonha de chegar bêbados. Nós também batemos, batemos e não conseguimos entrar. Estávamos ligados por um fio invisível que me acompanhou até em casa. E até agora está na minha cabeça, chovendo, chovendo....

2 comentários:

  1. Eu tenho te acompanhado aqui de minha cadeira de balanço quando leio meu Jornal do Commercio.
    Nós também bebemos do conhaque barato, não é mesmo, minha querida Duda?
    Continue sempre, assim, carinhosa com nossos meninos.
    Um grande beijo.

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  2. DUDA
    ME DESCULPE PEGAR CARONA EM TEU COMENTÁRIO, MAS NÃO RESISTO e quero disponbibilizar para todomundo, POIS SÓ CONSEGUI LER HOJE A SAGA DE UMA JAPONESA E UM LEGÍTIMO ÍNDIO BRASILEIRO PERDIDOS NA NOITE MARAVILHOSA DE RECIFE
    (e foi escrito em minha homenagem, cacêta, isso é que é homenagem! eu amo o Bandeira!)


    SIM NÃO
    Jorge Bandeira
    Ao libertário Paulo Michelotto
    Personae Dramaticae
    Myiuki
    Jorge
    (Myiuki, oriental vestida de verde, estilo colsplay)
    (Jorge, índio, sem camisa, com cocar e de sunga estilo “índio no Globo Réporter”)
    (Ambiente cênico – No interior de um táxi, módulo claustrofóbico)
    (Ao som de uma porta de carro que se fecha, entram Myiuki e Jorge)
    (Estilo de representação clownesco, com mímica e pantomima)
    Jorge – Myiuki (balança a cabeça, afirmativamente)
    Myiuki - Jorge (balança a cabeça, afirmativamente)
    Jorge- Michelotto.
    Myiuki – Sim.
    (buzinas em off)
    Jorge – Hoje.
    Myiuki – Sim. (sorri)
    Jorge – Hoje sim.
    Myiuki – Michelotto
    Jorge – Sim.
    Myiuki – (tosse)
    Jorge – (tosse)
    Myiuki – (ri)
    Jorge – (ri)
    (carro para)
    Myiuki – Chegamos.
    Jorge – Não
    Myiuki- Michelotto.
    Jorge – Não
    Myiuki – Michelotto não.
    Jorge – Sim.
    Myiuki – Chegamos.
    Jorge – Não
    Myiuki – Não Michelotto
    Jorge – Sim
    (carro prossegue viagem)
    Myiuki – Carro veloz.
    Jorge – Sim
    Myiuki – Michelotto longe
    Jorge – Sim Não
    Myiuki – Michelotto perto
    Jorge – Não sim
    Myiuki – carro lento.
    Jorge – Sim
    Myiuki – Michelotto perto
    Jorge – Sim
    Myiuki – Sim
    (Jorge pergunta ao motorista invísivel algo, sussurrando)
    Jorge – Michelotto não
    Myiuki – Sim
    Jorge – Não Michelotto
    Myiuki – Sim
    Jorge- Michelotto não
    Myiuki – Não
    Jorge – Sim
    Myiuki – carro veloz, de novo.
    Jorge – Sim
    Myiuki – Sim
    Jorge – Michelotto perto
    Myiuki – Sim
    (Jorge pergunta algo ao motorista invisível, sussurrando)
    Jorge (espantado)
    Myiuki – Michelotto perto
    Jorge – Não Michelotto
    Myiuki (triste)
    Jorge – Michelotto não
    Myiuki – Sim
    (buzinas em profusão)
    (Myiuki e Jorge mudam de posição, caracterizando o retorno do carro ao início da viagem, da corrida perdida, do nada para o lugar nenhum)
    Jorge – Michelotto não
    Myiuki – Sim
    Jorge- Sim
    Myiuki – Michelotto
    Jorge – Não
    Myiuki – Carro lento, de novo
    Jorge – Sim
    (uma buzina, persistente, longa)
    Myiuki – Carro veloz, agora
    Jorge – Sim
    Myiuki – Michelotto
    (buzinas e buzinas)
    Jorge – Michelotto
    (buzinas e buzinas)
    (Myiuki e Jorge conversam algo ininteligível, devido ao barulho das buzinas, denotando uma viagem longa, com paradas ocasionais pelos semáforos, paradas bruscas pela negligência de pedestres e motoristas, e paradas normais, porém as buzinas imperam neste retorno ao mesmo lugar do início. Apesar da intensa conversa entre Myiuki e Jorge, é impossível saber minimamente sobre o que estariam conversando)
    (cinco buzinas diferentes soam. O carro para. Som de porta de carro que se abre. Descem Myiuki e Jorge)
    Myiuki – Michelotto não
    Jorge – Sim
    Myiuki – Sim
    Jorge – Não Michelotto
    Myiuki – Não
    Jorge – Tchau, Myiuki.
    Myiuki – Tchau, Jorge.
    (Myiuki e Jorge estão saindo de cena,som de desastre, colisão entre veículos. Myiuki e Jorge olham rápido para trás, simultaneamente. Quando um olha para o outro. BLACK OUT)
    FIM
    Recife, 22 de agosto de 2010.

    “Vai em silêncio
    O vazio de um cio
    Atmosfera de fera
    Na ânsia da espera
    Uma divisão da alegria
    Que jamais silencia”
    (poema dedicado ao Orleilson Monteiro, suicidado em 13.08.2010 em Manaus, Amazonas)
    Jorge Bandeira contatos: vicaflag@hotmail.com

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