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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

sábado, 3 de dezembro de 2016

FISHMAN

O heterodiálogo em Fishman
Por Diego Albuck


O Grupo Bagaceira atraca em Recife com o seu mais recente espetáculo Fishman em comemoração aos seus quinze anos de existência. Com mais um trabalho autoral, marca já conhecida do grupo, a peça propõe uma reflexão sobre a complexidade da existência humana.

Dois homens sentados em um bote frente a frente à procura de uma palavra para estreitarem um diálogo essa é a premissa que nos apresenta os atores Ricardo Tabosa e Rogério Mesquita. Há um desconforto de ambos em tentar encontrar um vocábulo perfeito, dentre tantas coisas para dizer, o silêncio é cheio de palavras e aparece como uma privação involuntária dos seres. Nenhum assunto é fisgado, acabado, dito.

Os personagens ora se contradizem, ora se completam numa flutuação de ideias e pensamentos que transcendem qualquer racionalização mais precisa. Eis o complexo horizonte do diálogo e não diálogo.

Não é simples a relação entre aqueles seres, nem o tempo é exato. No entanto, há uma tentativa entre os dois de se reconciliar diante do abandono e da
solidão sofridos. Há também um desejo de se reencontrar, um esforço de reconstituir um laço perdido. Mas, não há fluidez no entendimento e no passar do tempo à fala se torna angustiante por parecer que nada ali se encaixa, nem mesmo um simples abraço.

Ao se colocarem de frente, os personagens se tornam espelhos de si mesmo, ambos os desdobramentos de si. Quando se veem, há uma perda da imagem do eu, de si mesmo, restando apenas a procurar quem se é. A relação se constrói na busca do ser no outro, tanto o outro, o diferente, quanto o outro de si mesmo, assim como os outros imaginários. Pois, sempre existirá o outro. E é nesse conceito de heterodiálogo que o espetáculo se sustenta.

A excelente dramaturgia de Rafael Martins traz uma estrutura não linear que apresenta múltiplos caminhos e destinos entre aqueles seres solitários associados à belíssima imagética que a direção de Yuri Yamamoto constrói a partir de imagens e sensações que permeiam todo o espetáculo.

A plasticidade do cenário cria cenas visualmente instigantes que, a princípio, podem causar estranheza, mas logo desperta empatia a quem assiste. Como por exemplo, o bote que nos traz uma sensação de pertencimento e segurança, mas também de medo e perigo. Ali se trava o embate do ser,
seres, onde a qualquer momento é mais possível se afogar dentro dele do que fora.

Em Fishman, o espectador é provocado, questionado e convidado a todo o tempo a mergulhar e navegar nas águas mais profundas do ser, trazendo umas das mais lindas reflexões sobre a vida.

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