Literatura ganha a cena com o espetáculo Sebastiana e SeverinaPor Vinícius VieiraProfessor e jornalista
Em meio a escuridão e ao silêncio, surge uma turma cheia de energia e cor. As vozes invadem a cena em cantoria e a plateia, de imediato, é fisgada pelo elenco de “Sebastiana e Severina”. O espetáculo foi levado ao palco do Teatro Barreto Júnior, no domingo (27), dia de despedida do 18° Festival Recife do Teatro Nacional.A peça é uma adaptação do livro homônimo e de texto dramatúrgico feito pelo pernambucano André Neves. O habilidoso Claudio Lira, que também assume a direção da obra, compôs, então, um terceiro texto com base nos escritos anteriores para realizar a montagem.Uma marca das encenações contemporâneas é que elas têm se utilizado de textos não dramáticos como motivo principal ou pretexto para a criação de um espetáculo. Seguindo essa perspectiva, as duas últimas produções destinadas para a infância e juventude que pisaram no palco do “Barreto...” durante o festival também optaram por adaptações de livros. Foram as peças “Dois idiotas sentados cada qual no seu barril” e o encantador “O menino e a cerejeira”, ambos da atriz e diretora Stella Tobar.Com as carismáticas e divertidas Sebastiana e Severina, somos levados a Umbuzeiro, Paraíba. É lá onde se desenrola a história das duas amigas rendeiras. O imaginário do sertanejo é descortinado através de cores, músicas, casinhas, roda gigante em miniatura e até uma cajuína - refrigerante a base de caju, bastante consumido no interior nordestino. As personagens centrais ganham duplos e viram bonecas em assertivo jogo que mescla teatro de animação e a fisicalização de papeis ficcionais em humanos.Um dos momentos mais impactantes da encenação é a transformação das atrizes em Dona Zefinha, feiticeira da cidade, que ganha vida com a máscara vestida por mais de um intérprete. Nesse momento, há um fascinante magnetismo: a máscara se traveste de vida e ganha atenção plena. Os atores Luiz Manuel, Célia Regina e Zuleika Ferreira se revezam para assumir, com muita competência, esse papel. Eles não deixam a desejar e emprestam toda corporeidade pedida para a ocasião, ampliação de gestos, direcionamento do olhar a partir do nariz e dilatação da energia.A direção de arte é um mimo de Marcondes Lima ofertada a plateia que se deleita entre as cores e formas as quais preenchem o palco com harmonia e beleza. Sua maquiagem destaca os olhos do elenco com a cor branca, quase formando uma máscara, as feições têm formas que nos remetem aos bonecos e bonecas vendidos nas feiras de artesanato. Os vestidos das protagonistas são detalhados em fitas e têm estampas diferentes em algumas partes do corpo. Já os rapazes, usam calças e camisas em tons mais escuros, próximos ao marrom. A cenografia lembra cidade interiorana em festa com bandeirinhas de São João, gambiarra de luzes amareladas, e, ao fundo, uma espécie de oratório gigante com a imagem de São Sebastião no centro. Há uma verdadeira simbiose entre todos os elementos visuais da peça.Para contar a história das rendeiras que buscam um amor, Claudio Lira optou por uma encenação musicada. A direção musical ficou a cargo de Demétrio Rangel, que também entra em cena como músico/ator. As canções apresentadas são baseadas nos ritmos nordestinos como o cavalo marinho, a macha junina e as levadas de toque da cultura afro.Os atores se desdobram, ora narrando a história, ora vivendo as personagens. As transformações dos papéis são realizadas na frente da plateia, o que potencializa o jogo de faz de conta. O elenco é muito bem afinado quanto as interpretações. Há uma sincronicidade e generosidade entre todos em cena. Prova disso, é o prazer em realizar o ato teatral está impresso nos olhos dos artistas nos momentos em que procuram a plateia.A todo instante, somos surpreendidos por um elemento novo que surge no palco, um boneco, uma janela que se abre ao fundo, um tecido azul transformado em mar que conduz um barquinho. E quando o silêncio mais uma vez se estabelece dando sinal que o enredo acabou, somos convidados a seguir a cantoria e o cotejo que desfila pela plateia. “Sebastiana e Severina” é, incontestavelmente, um espetáculo para crianças de todas as idades.
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- A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.
sábado, 3 de dezembro de 2016
Sebastiana e Severina
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