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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

sábado, 3 de dezembro de 2016

O menino e a Cerejeira

A poética humanista do Menino e a Cerejeira

Por: Diego Albuck


Com uma montagem inédita no mundo, a Borbolina Produções e La Rô trazem a Recife o belíssimo espetáculo “O menino e a Cerejeira” adaptado do livro homônimo do autor japonês Ikeda Daisaku.

A obra conta a história de Taiti, um garoto que vive em meio aos destroços deixados pela Segunda Guerra Mundial. Com a perda do pai para a guerra, sua mãe trabalha numa estação de trem engraxando sapatos. Por sua mãe trabalhar o dia todo, o menino fica sempre sozinho em casa e sempre desobedece a mãe saindo para brincar fora do seu barraco. Em uma dessas saídas, conhece um senhor que cuida de uma única cerejeira sobrevivente. Assim, nasce uma amizade entre o garoto e o senhor que encaram a missão de cuidar da árvore que não dá flores.

A adaptação, direção e idealização de Stella Tobar é espetacular em tudo o que se propõe. Se o texto já traz uma riqueza poética através de mensagens humanistas para jovens e crianças, a transposição para o palco transcende ainda mais o propósito da obra literária.

O espetáculo é divido em inúmeras metáforas que conduzem o espetáculo com maestria e leveza que emocionam a quem esteja assistindo.

No começo do espetáculo os atores contam a estória do pássaro e da gaiola. A fábula narra a primeira experiência do pássaro em voar em que a ave fica presa em uma gaiola esperando o momento exato para voar. Tal simbologia pode ser comparada com o personagem principal que vive preso em casa por conta dos perigos da rua após a guerra.

“A gente já nasce sabendo a voar, só precisa relembrar”, Taiti sabia voar, mas também compreendia os limites desse voo. Tanto que tinha plena consciência que estava desobedecendo às ordens de sua mãe em não sair de casa. Mas, o desejo de voar era mais forte e para voar era preciso correr riscos e o garoto estava disposto a cruzar todos eles.

Ao se perder de seu amigo, Taiti encontra um senhor que logo percebe a tristeza iminente no menino. Ambos sentem uma empatia inexplicável que fazem com que os dois não se separem mais. O velho, todos os dias, cuida da cerejeira que não floresce, na esperança de que esta venha a florescer novamente.
Essa fé é desprezada pelos moradores da vila que não acreditam que a cerejeira prosperará. Mas, a persistência do senhor é inabalável tanto que a
mesma fé é depositada no garoto que começa a nutrir o desejo de ajudar o seu “avô” naquela empreitada.

Todas as cenas parecem ter sido feitas sob medida. A singeleza e o olhar de Stella Stobar e a interpretação magistral de Alle Paixão, Cleber Tolini, Guiliano Caratori e do ator pernambucano Paulo de Pontes dão o tom mais que exato a poesia do espetáculo. É de embasbacar a preparação dos interpretes, tanto no quesito vocal, corporal e também musical, já que todos tocam instrumentos em cena.

O cenário e figurinos de Paula de Paoli também são de uma delicadeza magnífica, com a indumentária que se assemelha as ornamentações dos orientais. Outro ponto positivo é a facilidade com que o figurino se transforma à medida que os atores mudam de personagem.

A iluminação de Giuliano Caratori é de uma naturalidade belíssima que quando imersa no palco ajuda a dar as nuances precisas de cada lugar e espaço. Como por exemplo, a chegada do inverno onde o foco de luz azul é inserido no pano branco que cobre a árvore refletindo uma das uma das imagens mais emblemáticas do espetáculo.

E depois do inverno a cerejeira finalmente floresce e renova a esperança daqueles que a aguardavam. Esse evento é cultuado pelos japoneses há mais de mil anos, pois eles veem nos frutos da cerejeira a representação da renovação do espírito e a efemeridade da vida. É nesse momento que temos o momento mais lindo do espetáculo o abraço de Taiti e seu avô, o que causa comoção e aplausos da plateia. O menino ali tinha aprendido o valor da esperança e estava pronto para seguir seu destino.

A forma lúdica e a riqueza em detalhes de cada profissional envolvido fazem com que a peça seja inesquecível. Assim quando entrei ao Teatro Barreto Junior fui bem recebido pelas produtoras que estavam entregando os programas e o livro para as crianças. As duas me trataram tão bem que me senti como criança novamente, espevitada e espirituosa. Vale ressaltar que ambas estavam desobedecendo às ordens, pois aqueles materiais eram para ser entreguem somente as crianças. No entanto, tinha pedido para elas, pois queria saber um pouco mais do espetáculo para escrever minha crítica. Escondido, elas me entregaram e ali fazíamos nosso pequeno pacto de silêncio.

O espetáculo é inspirador em vários sentidos e se torna imprescindível para todas as pessoas de qualquer idade, pois traz uma beleza poética que necessita ser vista e apreciada. No momento em que
estamos passando em nível de Brasil e mundo, “O Menino e a Cerejeira” se torna um acalanto em nossos corações onde a poesia é pulsada, sentida e exalada por todos os poros.

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