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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

sábado, 3 de dezembro de 2016

NÓS

A última ceia do Galpão

Por: Diego Albuck



Em sua 23ª montagem o grupo Galpão traz ao Recife um banquete recheado de questões atuais que recriam o nosso cenário político atual.

O espetáculo se torna tão coevo quanto às discussões que escuto em transportes públicos, praças e no meu local de trabalho com temas como: intolerância, democracia, partidarismo, violência, dentre outras questões que convivem com os brasileiros.

Enquanto preparam a sua ceia, uma sopa de legumes e verduras, sete vozes heterogêneas e polifônicas travam um grande debate tomando como ponto de partida o existencialismo humano.

Por mais que estejam compartilhando de um mesmo local, percebemos as angústias individuais de cada personagem que se veem solitários e impotentes a tantas atrocidades que os envolvem como, por exemplo, o fato de um negro ser humilhado em um ponto de ônibus, um menino-bomba e negros sendo fuzilados pela polícia.

O protesto do ser humano em poder decidir em função da sua própria vontade isenta de qualquer
causa determinante, a partir da ausência de um ser superior que nos julga e castiga se errarmos moralmente, é visto em forma performática na interpretação da música Lama de Paulo Marques, interpretada por Núbia Lafayette. A liberdade de fazer o quer e o que deseja está na essência humana, assim como diz Sartre o homem sempre pode escolher entre aceitar a sua sorte ou revoltar-se contra ela e isso é permeado nas falas e interpretações de cada personagem que, sem identidade definida, colocam suas questões ante a realidade que os cerca.

A atriz Teuda Barra protagoniza uma das cenas mais icônicas da peça – a recriação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Por meio de votação, os personagens decidem a saída da personagem do palco, sem o seu o total consentimento. Se negando veementemente a sair, ela é expulsa de maneira brutal, o que nos faz rememorar os últimos meses que ficarão registrados nos anais da história do nosso país.

É importante ressaltar a importância da atriz que, no auge dos seus setenta e cinco anos, dá vida a um personagem vivo, intenso, questionador que sofre todos os tipos de humilhação por ser mulher, idosa e a não aptidão para o mercado de trabalho. Mesmo assim a figura dramática se mostra forte, decidida frente as suas convicções ideológicas.

Já prestes a coroar a celebração da comunhão em que os personagens compartilham a sopa com o público, eles reconhecem que não há caminho para ir, a não ser seguir, sendo a única alternativa é de apostar na criação de uma nova realidade.

A ceia de Márcio Abreu consegue, principalmente para quem acompanha o espetáculo no palco, a representação das reações físicas e emocionais mais profundas dos personagens com uma maestria espetacular, trazendo experiências sensoriais magníficas tal qual inalar o bom cheiro da alimentação.

O espetáculo é belíssimo em todos os âmbitos que se propõe, seja na representação de seus personagens, no discurso ou na encenação. A utopia de vislumbrar um mundo onde todos possam compartilhar e conviver com suas diferenças independentes de suas crenças religiosas ou políticas e nos desatar dos nós que nos prende é mais um sopro de que ainda existe esperança para a humanidade.Consegue representar as reações físicas e emocionais mais profundas com uma perfeição espetacular.

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