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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

sábado, 3 de dezembro de 2016

MedeiaPonto


Augusta, augusta




Paulo Vieira





Augusta Ferraz é uma atriz na plenitude da sua arte em Medeia ponto. Já não há muito o que se acrescentar ao tema apresentado pela atriz. Sabemos a história. Por isso mesmo ela pouco interessa. Mas esse pouco não é menoscabo ao texto. É porque diante de obra tão magnífica, somente uma magnífica atriz seria a novidade de qualquer montagem de Medeia, seja no texto grego, seja nas diversas leituras e releituras que se tenha feito deste texto imortal, testemunho de que a poesia dramática é capaz de superar o tempo e a história para falar ainda hoje à nossa sensibilidade.

            Augusta é Medeia. A louca. A bruxa. A matricida. Mas não é a Medeia personagem que chama a atenção, é a atriz. Ela é o espetáculo. A fortíssima presença de Augusta tem a força de catalisar todas as atenções para ela, Augusta Medeia. Quando entra em cena, vem com a atriz uma carga de energia, de experiência, de vitalidade, acumuladas nos muitos anos em que o palco e a sua magia ficaram impregnados em seu corpo, em sua alma. Augusta Medeia, um poema teatral que se movimenta em cadência lenta, reflexiva, tensa, a tal ponto que a vibração em seus músculos torna-se visível em seu rosto, a Medeia saltando em sua pele Augusta. Dá gosto. Dá gosto de ver tanto talento vivo numa mesma atriz, que canta, que representa, que apresenta a sua personagem para que possamos gozar momentos de pura teatralidade num palco limpo como uma folha em branco na qual a desmedida Medeia traça o desatinado destino de sua vingança. Sabemos a história. Mas o que interessa neste espetáculo não é a história, mesmo que matizada por projeção de imagens, por vozes mecânicas que fazem as personagens que faltam na cena, por pequenos objetos cenográficos, adereços com os quais a atriz vai tramando o diálogo da Medeia, não é a história, não é o espetáculo, é a atriz que seduz, é Augusta Ferraz neste espetáculo solo, é Augusta que é Medeia mas é Creonte em determinado momento, mesmo que a passagem de uma a outro fique cantada depois do segundo movimento, encanta o homem na mulher, encanta o corpo da atriz que se transforma numa e noutro num átimo, desmedida Medeia, na exata medida do palco, augusto, Augusta, sinônimo de elevada, venerada, sagrada na arte de representar, e ela o faz, apresentando a sua Medeia com a imponência que a personagem pede, mesmo que humilhada, ainda que ofendida, Medeia é a indignada e louca que contesta a condição em que se encontra. E tudo isso é Augusta. E tudo é o espetáculo em sua simplicidade técnica. Mas atenção com esta palavra perigosa, simplicidade, por que o que ela esconde não é a falta de pretensão que lhe denota o sentido, nem limitação de conhecimentos teatrais para a execução da cena, mas a qualidade de caráter de quem é franca e sincera com a sua arte. E tudo isso com a direção sem arroubos nem apupos de Marcondes Lima a partir do texto de Sofia Brás Andersen de Melo. Desmedida Augusta, apenas precisa atentar para o ritmo da sua interpretação, que muitas vezes, por lento, terminar por se perder e se perde igualmente a musicalidade da sua voz, sonora, brilhante, sem gritos.

           

           

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