A obra de Shakespeare sob o olhar do Teatro Popular de Ilhéus
Por: Diego Albuck
Com a incumbência de representar Shakespeare, o grupo baiano Teatro Popular de Ilhéus traz um espetáculo baseado em uma peça trágica do autor inglês – Medida por Medida. O texto retrata o abuso do poder na Administração Pública e temas como traição, sexo e moralidade.
A história se passa em Viena, lugar onde a luxúria se tornou prática em todos os membros da sociedade. Ante a tal prevaricação, o Duque resolve extirpar esse mal. Com medo de ser mal interpretado, coloca Ângelo como seu substituto, um homem correto e que não teria problemas de aplicar a lei contra a imoralidade. Dessa forma, o bom homem ao colocar em prática o que fora ordenado condena Cláudio por engravidar Julieta. Inconformado, ele pede a Lúcio, seu amigo, que convença Isabela, sua irmã a defendê-lo. É com esse quiprocó que o grupo baiano conta a sua versão da história através de um espetáculo comediante.
Com o propósito de transformar a tragédia inglesa em literatura de cordel, gênero literário popular originado em relatos orais e rimado, os atores nos contam a história através de causos, cantos e muita música. Viena é transportada para o Nordeste brasileiro e ficamos com a impressão que a história realmente aconteceu aqui.
A plasticidade cênica da peça é algo magistral, os figurinos e adereços de Shicó do Mamulengo e de Justino Vianna são um espetáculo a parte, pois apresentam peças impecáveis onde parece que cada tecido conta sua própria história. Como por exemplo, a indumentária da Julieta que traz uma barriga que acende e nela contém um menino dentro. É importante ressaltar que a presença de Julieta causa gargalhadas do público.
A criação da maquiagem de Justino Vianna, também é impecável. Os atores se transformam em figuras escultóricas que servem de referência para nos situarmos acerca dos costumes da época.
Num espetáculo com tantos acertos, um dos maiores problemas do espetáculo se dá justamente na transposição de tragédia para a comédia. A adaptação da obra shakespeariana para o gênero popular feita pelos diretores Romualdo Lisboa e Fernando Yamamoto (Clowns de Shakespeare), peca por querer popularizar demais a obra. A fala, muitas
vezes, parecia estar mais em serviço de uma rima do que na função de contar propriamente a história, fazendo com que a narrativa ficasse confusa e perdida.
A direção musical de Eleiton Cabeça e Marco França (Clowns de Shakespeare) também se mostra equivocada quanto a sua execução. Com um repertório belíssimo, parte das músicas ficava ininteligível por conta da altura dos instrumentos diante da projeção de voz dos atores. Em muitos momentos se fazia dispensável o uso do microfone, este que se tornara um inimigo mortal para o entendimento da música.
Creio que todos os problemas citados são sanados através de pequenos ajustes, estes que se afinar com o restante poderão fazer a direção de Romualdo Lisboa crescer e abrilhantar ainda mais.
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- A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.
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