Quem sou eu

Minha foto
A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Leitura Crítica - @.com

Michelotto viu   @.com 1
Michelotto pensou:

Desde pequenininho- e eu já o fui, creiam-me- eu nunca tive tanto super-herói.
Ao Kill, ao SuperMárcioBrotherMan, ao Jorge Bandeira vem se juntar o JF.
Quando jovem eu tinha ainda o JFK.
Depois abandonei, que aquilo era mesmo um safado dum imperialista.

João Fernandes, o JF daí de cima e daí de baixo, veio a Recife dar uma aula, além de um espetáculo e uma reflexão.
Sua Companhia de Idéias tem um nome já em si instigante, pois EIDOS é imagem, não necessariamente reflexa, mas também.
A tela é apenas fundo, quase parede da caverna de Platão e o palco é nau. Talvez, por isso, navegar seja o melhor signo da Geração Tendinite. Desculpem-me, criar palavras é ofício da gente em crise, em estado crítico. Não sei só usá-las.
Ele veio sem muita conversa sem muito explicar e cheirava a coisas do mar,
veio para bater papo-chat sem o final.

Porto 1.
(Descendo lentamente escadarias dizendo para si, e para quem mais)2
E na aparente imobilidade quase deserto da cena, apenas uma árvore, pediria Beckett. JF obedece e nos coloca sob uma árvore de disfarces. Sob o signo de Saussure e sua dupla face, significante e significado: árvore. Aquele simples e maldito troço – cabide? nem sei o nome - onde se penduram nossas roupas apressadas, fantasias personagens de nossa máscara: nossa dupla face.
Aliquid pro aliquo, retomaria meu mestre Ferdinand os medievos, agora sim duca.
Vem em cena Ninguém - qual é seu nome, perguntou-lhe Polifemo, o de um olho só, o que via o futuro - e sai nu. Coisa feia, Michelotto, essa mania de contar logo o fim!
Agora que você já sabe tudo do pré- texto, vamos fazer uma pausa por que eu preciso bater um papo virtual aqui com meu amigo Saulo, que estará em cena com A Outra e que com o qual fui meio apressado, mas juro que tratei com o mesmo carinho que estou com o JF. Saulo querido, olha aí uma belíssima escritura de cena, lotada de sub - textos, caminhos possíveis, veredas, com tão pouquíssimas imagens, tão simples, tão perfeito diria o Ockam. Escritura a se copiar, colar, roubar, intertextualizar. Roube tudo do JF - e quem aconselha é Aristóteles que manda copiar os bons, mimetizar, breve: tacar a mão! “NÃO há propriedade privada de bens culturais” (Paulo Michelotto in Aula Magna).
O JF tem um palco praticamente nu, digamos um palco com um pijama- samba - canção, duplo dele mesmo, uma árvore fantasiada de Esperas por Godot, um fundo projetivo, por onde nós filósofos brechamos o escravo em sua moderna caverna da caça, o Google. Só falta tirar o anel, essa corrente apenas elo, link.

E ele tira.
Tamos dentro.
Falei “brechamos” aí acima não foi para falar bunitinho não. Estou só citando Barthes, meu amigo e mestre na mais lúcida, brilhante, inteligente, perfeita, completa, sensacional, terrível, análise do teatro ocidental: “todo o teatro do ocidente se constituiu apenas por cima desse ato de olhar a vida privada pelo buraco da fechadura do palco”. Citado a meu modo, pois a gente tem mesmo é que ler o original e não vim aqui para facilitar a vida de cabra preguiçoso. Temos que ler Japão, esse o lugar de onde Barthes brecha o Ocidente.
E estou citando por que ontem vi Barrela e tudo que vi aqui AINDA entra nessa categoria ocidental. Sei que tem gente aloprada, feliz com migalhas, que dirá Ah, mas Barrela... pela ousadia daquele local maravilhoso lá em Caruaru e pela temática da peça, mas vocês notaram que a gente - mesmo em Plínio tão supostamente maldito - só brecha? 3
Então, filhinhos amados, ainda não saímos do século XIX, né não?
O que não quer dizer que não façamos coisas interessantíssimas. Só não podemos nos chamar de pós-contemporâneos4.
JF passa essa notação de Barthes em nossa cara, sem piedade.
@.com é quase só apenas essa notação de Barthes sobre nosso teatro fóssil. Texto crítico por que corta, separa, o papo fóssil do contemporâneo papo.
Tou tendo um troço por ter que cortar meu papo aqui contigo. Tempo. Eu ando meio fora do tempo.
Mas antes vou confessar o inconfessável. Depois que JF inicia a teclagem eu me postei em angústia rápida me dizendo, cara, e se o menino NÃO conseguir linkar com ninguém? E se a internet der pau. E se.
Queria eu por um breve instante ouvir ou ver no palco a historinha ocidental fóssil, queria brechar viciosamente o papo dos outros, eu que sou um voyeur de carteirinha com aquela tarjeta vermelha o portador desta é maior de 65 anos.
E nada.
Tecla, tecla, tecla.
E nada.

Porto 2.
(Até o dia enfim)
Meu pensamento é em terabite, rápido que nem o raio da silibrina sobretudo quando entro na nuvem, aí me disse, Michelotto, quê importa o funcionamento do link, prá quê esperar pelo papo virtual na real, meu! Teatro não é apenas SOBRE algo, tu não diz isso toda hora? O sobre é pré-texto. Teatro é apenas o link entre o ator e um público. O privado e o público, mora na filosofia? E se houver SOBRE e for esse teatro aí do JF, é sobre busca, meu, o homem que tecla é um homem - em- google, sacas, tá na caça como um troglodita, sacas, tá sozinho da pôrra, sacas, ele e a porrada de seus desejos, sacas! Tás sozinho, cara! Sozinho na nave, cara! Teclas, teclas e teclas e nadas, navegas, isso é um barco, bro, tás focado nessa tela toda grafitada lá na frente do timoneiro mascarado que balança o pau, balança a vela que leva hoje o nome de solidão, meurmão?
Fossilizou geral, foi ô meu?
Não tem que ter papo algum!
Vais ficar aí na ignorância pensando que o essencial, o que o JF queria transmitir, a mensagem, o conteúdo, as idéias que não são imagens, era fazer tu entrar num teatro para te deixar ficar ali com os olhos grudados no mastro e na popa de um cara caçado, dependurado lá no cesto da gávea de seu distante apê, só tendo a foto de um cão, a árvore de um cão, a coleira de um cão, o pinto de um cão, a bunda de um cão , breve, só água à vista, tu acha mesmo que tudo isso era só para isso e para tu sair do teatro meditando tá de bom tamanho mas ô pena que só caçamos um hoje?! Ou meditando acabei de ver uma obra prima tu acha que teatro é para essa tua mesquinharia é, ô michelotto? Olha pro Samuca, cara! Não teclou nem num Vaio, teclou numa Remington, dois Atos sem Palavras, cara, que tu já encenou mil vezes, e tu aí bestando fossilidades, meu!5 Numa REMINGTON, cara!!! Te lembras desse protozoário ainda?!?!? Tu já tá aí sozinho, tu já é só uma cadeira em balanço, como tu sempre foi, ao correr pros books de romances ou prás Remington, ou pros Face, chats e tais. Agarradaí nas gavinhas em letras do teclado tu já estás em plena cadeira de balanço, tu já és ela, a que se balança, tás em balanço, se balançando,
fim de uma longa jornada
em que ela disse para consigo mesmo
e para com quem mais
já é tempo de parar
parar
de vagar daqui para ali,
de um lugar para o outro,
à busca de um outro
de um outro ser vivente
um outro semelhante
um pouco semelhante a ela6.
Etc. 7

_________________________________________________________________
(1) @= monkey tail plant, planta rabo de mico, planta com gavinha, torcidinha como a arroba, estou tentando evitar a palavra trepadeira, que pegou uma conotação mais sexual, sacas. Nada a ver com o chat que a gente viu. Árvore se agarrando. Ou. Araucaria araucana , conhecida como “ fóssil vivo”.
@ significa "em" ou "a", no sentido de endereço ou localização.
isso é uma gavinha!
Não parece com o rabo de macaco que enrola o a (petit,dizia Lacan) na arroba???
Arroba = do árabe الربع; "ar-rub"= ¼, um quarto.
Um quarto de hotel, sacas?!!!
(2) (Berceuse/Samuel Beckett)
(3) O único que não, foi meu amigo Jorge Bandeira, impedido cruelmente de brechar Barrela, por um troglodita Hell´s Angels que postou o bundão bem na cara dele e perguntou...
Bem, isso eu conto depois quando for escrever a saga de Barrela, ok?
(4) Ophelia é uma concessão do Dig ao século XIX, pois não?
(5) A cannabis sativa que consumiram ontem no Barrela teve, como vocês estão presenciando, um imediato efeito curativo e terapêutico sobre mim. Basta a fumaça no ar. E pronto, meu. A dureza é eu, na larica, e o Roberto Carlos comendo sozinho & o Luciano, toda a pizza de cartola! Como gosta de cartola esse minino!
(6) Samuel Beckett, Berceuse. Tradução nossa.
(7) Recado besta: vocês sabem qual a origem da arroba @? Instrutivíssimo para quem gosta como eu de deslizar nas significações: http://www.blocosonline.com.br/literatura/servic/sernet12.htm
Recado legal: JF, a vela/tela rota não funciona. Cansa paca. Seja aonde for que tu faças de novo, obriga o povo da casa a consertar aquilo antes de começar, tá? Quem estava de lado como eu estava, mas acabei saindo para a frente, não consegue seguir bem as tecladas. Claro que como você insistiu e eu também aqui, aparecer um cara ali, aparecer um texto ali, NÃO é essencial a teu texto. Se só acontecesse a busca, o espetáculo teria sido perfeito também. Conseguir bater papo é o de menos. O insuportável essencial que suportamos tododia é a falta de papo, a miserável solidão anônima desse seu texto. Mas o público não precisa se cansar à toa, inda mais que não foi um efeito querido.
Deixe as velas pandas, que assim é teu texto e navegação.
E obrigado pela lição!

Nenhum comentário:

Postar um comentário