OPEN CACOS - BODY AND SPACE
Vinícius Vieira
A companhia Cacos de Teatro (MA) apresentou na tarde do sábado (3) no teatro Hermilo Borba Filho seu Open Space, momento em que o grupo falou sobre seu processo de criação. Mas o encontro não relegou a platéia apenas a atividade observadora. Quem se sentiu à vontade pôde experimentar na prática como funciona a engrenagem criativa desses jovens que vêem na investigação e experimentação a mola propulsora da cena.
Embora os trabalhos atuais da Companhia estejam próximos de um teatro denominado pós-dramático, os integrantes não levantam a bandeira definitiva de nenhuma estética e seguem livres para levar à cena a verdade que o grupo quer comunicar em dado momento. O projeto mais recente da Cacos é denominado “Em Companhia de um Só”, título que acaba formando um paradoxo. Não são todos os componentes que entram em cena, alguns integrantes assumem outras funções. É uma idéia bastante interessante que mostra o amadurecimento necessário ao artista que se destina a trabalhar em coletivos teatrais. Assim, um ator pode ser um performer “solitário” no palco, mas continuar em conjunto com a equipe que dirige, ilumina, opera som, faz maquiagem... (Esse rodízio acaba explicando o título paradoxal).
A metodologia do Open Space usada nesse encontro foi a de manter uma conversa sobre a história e os procedimentos do grupo enquanto uma turma orientada por dois integrantes suava (suava mesmo!) a camisa no fundo do palco com caminhadas, saltos, giros e corridas, além da “bateria de abdominal” que deixava a platéia sem fôlego só de ver o que acontecia.
A Cacos tem uma pesquisa muito interessante de explorar o teatro físico em que o corpo se torna presente. O kung fu, as danças urbanas, a dança contemporânea e a técnica vocal fazem parte dessa imersão investigatória em que a corporeidade acaba entrando em conflito com a voz. O estudo nesse terreno de dúvidas fez o grupo entender que a voz integra o corpo, mas que ela não é objeto primordial, isso fica bastante evidenciado tanto em Trans quanto em Mãe in Loco.
O grupo além de pesquisar produz ainda o “Breves Cenas” em Manaus, que é considerado um dos festivais mais importantes de cenas curtas no Brasil. Perante a profusão teatral manauense que Recife pôde assistir nos últimos dias, como pensá-la fora do eixo? O próprio discurso da Cacos dialoga com as obras que acontecem no mundo. Ou ainda, como considerar alguém fora do eixo (diga-se à margem) diante de um mundo globalizado e cada vez mais interligado pela mídia e os avanços tecnológicos? O teatro de Manaus, representado pela Cacos, e outros artistas, mostrou que não deve nada a ninguém.
trans-
O QUE VOCÊ NÃO GOSTA EM SEU CORPO? A FOTO VALE 1 REAL.
A atriz-performer Ana Paula Costa constrói um discurso poético que problematiza as questões do corpo na esfera social. O homem pós-moderno precisa se modificar para se mostrar perfeito ao mundo e, assim, adquirir valor perante os demais. A questão, no entanto, não está na busca de medidas perfeitas, mas no sentido existencial que esse homem desenvolve sobre si. A sua vontade é atingir o ideal de beleza custe o que custar.
SERRA, TESOURA, MARTELO... CADA UM TEM SEU PREÇO E VOCÊ PAGA PARA USAR COMO QUISER.
Nós vivemos a banalização do corpo em função das modificações constantes realizadas por cirurgias plásticas, dietas loucas ou na utilização de adereços que prometem melhorar o aspecto fisionômico nos tornando belos e apropriados para sermos vistos na chamada “sociedade do espetáculo”. Esse ser carrasco da própria carne espera atingir a boa convivência social.
O resultado de toda a técnica usada para uma reconstrução corpórea é o prazer da mudança que não traz a satisfação genuína, o que leva esse corpo caótico a jorrar sangue.
O discurso não poderia ser melhor socializado se não pelo expressão corporal consciente e preciso de Ana Paula, que se utiliza de pouquíssimos elementos para produzir sua cena. As imagens falam mais do que mil palavras e constroem outro tipo de dramaturgia que precisa, e muito, do olhar atento e perspicaz de uma platéia seleta que não encontrará nada “mastigado”. É lamentável que o outro trabalho da Cacos (OFF Inferno ou Lave os Céus para que eu Morra) tenha sido cancelado na programação do Seminário. Aguardamos ansiosos que outras produções desse grupo retornem a Recife e motivem mais experimentações locais nesse campo estético. E como foi falado no debate, as possibilidades do teatro são múltiplas! Assim, esperamos que essa multiplicidade preencha de maneira mais significativa os nossos palcos pernambucanos.
SAIBA MAIS:
http://ciacacosdeteatro.blogspot.com/
http://www.brevescenas.com.br/ (INSCRIÇÕES ABERTAS!)
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