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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Leitura Crítica - A Inconveniência de Ter Coragem

Michelotto locuto, Causa infinita®


A INCONVENIÊNCIA DE TER CORAGEM

O texto de Ariano
Virou uma certa mania em Recife se esperar meu texto quando tenho que escrever sobre Ariano Suassuna.
Disse-se uma vez, nesse mesmo Seminário, há anos: (marcas dos personagens em itálico)
Bárbara Heliodora: (pensando ser súdita de Queen Elizabeth II, só por ter feito aquele estrupício de tradução da obra de meu amigo Shakespeare) Por São George!

Sábato Magaldi: (chateado com seu amigo Michelotto por ter sido rude com o autor, a peça, o diretor, os atores, o público que aplaudiu, e só não foi rude com o Fradim, que no caso era nosso incansável Leidson. Ai Sábato aproveita e diz para si: Vocês já viram Leidson em cena fazendo o Fradim? Eu choro de alegria! A indicação que ele ganhou de Melhor Ator em um Janeiro de Grandes Espetáculos, foi feita pelo meu amigo Michelotto na Comissão. Ele erra muito mas dessa vez ele acertou! Declamando com ênfase, se isso for possível ao Sábato) Não é, certamente, uma obra madura do Michelotto!

Bárbara Heliodora: (animando-se, aproveitando para sobressair por pensar, após a dica de Sábato para ela- que o Michelotto tinha uns 16 anos e usando uma exclamação final do tempo de Shakespeare]- Esse jovem não entende nada de teatro nem de Ariano, máder phócker!
Bárbara, cruel como sempre, onça pintada armorial & tigre de papel, tocou logo em meu ponto fraco: minha eterna juventude. Ô inveja da véia!
Então se é para alegria geral, vou falar de novo em Suassuna.
Do meu jeito me lixando para o que pensam os que não pensam, a arraia miúda, o povo devoto.

Vou falar de Suassuna:

Henri Ghéon foi um francês que escreveu de maneira muito muito muito bonita para quem é católico, usando moldes medievais, como os do Auto. Eu não sou, sou ateu praticante e devoto, mas confesso que sempre gostei de Ghéon. Acho que a poesia pode surgir em qualquer lugar. E eu a reconheço quando passei por entre as linhas de Ghéon.

Não me lembro quem, mas foi um desses nomões de lá da europa quem disse que Ghéon era um grande escritor mas que se perdeu perdendo tempo ao se enredar naquele discurso e universo – do qual nada ou bem pouco – restaria ao se avançar a modernidade. Em compensação, outro escreveu:
Ghéon não é um escritor menor e sua obra fala por si mesma. Se ele lembra Dickens, seu teatro não perde nada em comparação com Anouilh e Giraudoux. Foi apenas ele quem, na primeira metade do século XX, reviveu o burlesco popular e a verticalidade dos Mistérios medievais, antecipando assim a Dario Fó. 1

Acho um exagero da gôta serena colocar-se um crente como Ghéon ao lado de um ateu e maravilhoso escritor como Fo. O uso dessa literatura medieval muda completamente de sentido em um e em outro.

E aí chego em Suassuna.

Eu não tenho muito mais a dizer do que já disse sobre a maneira como e sobre o quê e com que técnicas esse povo todo da primeira metade do século passado resolveu escrever. Já disse que Suassuna, meu colega de departamento, poderia ter aproveitado para teorizar sobre o uso que ele faz da literatura de cordel. E não teria sido reconhecido apenas como um escritor de grande fé, católico. Pois foi como a P.U.F. piedosamente o classificou na orelha de seu Jeux de la Miséricordieuse, Auto da Compadecida, em francês, que chique. Se tivesse teorizado seu achado, além das glórias perecíveis da Academia B. de Letras e do título de catolicão sucessor de Ghéon, teria tido a glória eterna dessa vez da verdadeira academia, a de ter sido o antecipador de Julia Kristeva e do seu, agora de Julia, conceito chave de intertextualidade.

Mas infelizmente o destino nem sempre nos leva para onde os outros querem, não é mesmo?

Julia, minha comadre de esquerda, era de esquerda maoísta da pesada e isso é uma coisa que muito se temeu no Brasil daqueles anos bicudos: ela comia criancinhas. Tava difícil para a UFPE entrar nesse jogo nada misericordioso. Então meu colega ficava lá, naquele velho Auditório do CAC, discutindo Kant com o grande César Leal e outros colegas menores de Letras, enquanto esperava a aposentadoria. Meninos, eu vinha de João Pessoa só para assistir!

Confessei outro dia a Jorge Bandeira que tenho tido uma dificuldade imensa em separar meus ídolos. Não sei pensar mais sem Heiddeger, e o cara nunca largou aquela carteirinha de adepto do horror nazista.

Fiz teste pro filme A Pedra do Reino e NÃO passei – e tenho horror às posições políticas de Ariano (nem pensem que ele é próximo ao PSB, isso é invenção de Arraes). Em Recife posição meramente política – isso é se manter no poder – Leva o nome de “posição estética” nunca compreendi bem o por quê.

Que Ariano seja dos que saudaram com Gilberto Freyre a Gloriosa Revolução de 64 e se beneficiaram com ela – virou secretário, isso é problema dele e não meu.

Que Ariano, depois de um degredo e amargor, abandonado por Recife, coisa que nem sei se ninguém merece, tenha sido reabilitado por Arraes, deposto e quase arrastado pelas ruas da mesma revolução gerada no seio de um patriotismo mais aproveitador que pífio por esses mesmos aos quais estava se aliando, isso é coisa entre eles & a História & a Psicanálise (Síndrome de Koppenhagen?).

Que Ariano tenha a facilidade de declarar meras crenças reacionárias, como aquelas estórias de amor à Rabeca e ódio à Guitarra e mais uma centena de outras bobagens sem interesse para a cultura pernambucana – isso é problema dos pernambucanos e dele, que não o é, e não meu.

Que da grande obra dele na Cultura desses tempos o que restou foram alguns bons músicos e alguns bons dançantes, além de suas próprias e inesgotavelmente encenadas, enquanto ele estiver no poder, obras – isso é com ele, o punhado de DBO (Devotos Baba Ovo) e minha inveja.

Que a grandeza de todo esse período nefasto tenha sido exatamente os resultados gigantescos prometidos pela Revolução de 64, como usinas nucleares para engordar alemão em Angra, transamazônicas absolutamente ecologicamente incorretas, PIBs miseravelmente baixos, Delfins falastrões. Incapazes de segurar uma Inflação miseravelmente alta, gasolina em falta sábados, domingos e feriados, marchas e marchas de escolares ao sol causticante da pátria cada maldito Sete de setembro... O que foi mesmo que restou?

O esquecimento.

Como disse – me alguém no outro dia no Rostolivro, Facebook: “Ô michelotto pára de falar disso, pára de se mostrar, você é um trouxa, não estamos mais nessa era”. Estamos na era de quem? Ariano ainda é secretário que eu saiba e vai morrer no cargo, Sarney, ex líder dos militares, manda e desmanda em Brasília, na internet li um Jornal ou Revista dos Guararapes – começando com um artigo de Jarbas Passarinho – aquele que tentou livrar o MEC dos comunistas e ou ainda está vivo, passarinho vivo por aí, ou é seu pensamento que não morre nunca. Eram patrióticos militares furiosos, com toda justiça, com o sucateamento das forças armadas. Até eu ia apoiando quando reparei que o balacobaco esquisito é estarem alertando para o perigo do comunismo que apenas trocou de nomes, e toda aquela ladainha do coro dos descontentes, Meninos, como assustei!

Estamos mesmo na era de quem, então?

Aquela droga toda deles e nossa deu num rato. Um presidente rato. Mons parit mus. Talvez por que não era nem constitucional, nem função de exército algum. Não conheço na história um só caso de exércitos que tenham se erigido contra seus próprios cidadãos. Bandos sim, exército não. Mas sabe o papo de que os caras comiam criancinha? Assustou muita gente.

Nesse tempo não era inconveniente se ter coragem.

Estou velho e desamparado. Meu salário congelado pelos que pediram mudança. Gil já anunciara claramente o programa vindouro: agora é só Mu dança. Seja lá que piração psicodélica for Mu, dancei. Por isso também, deus nos livre de todos eles, esquerdas e direitas. Amém.

Prefiro hoje, senhores, cantar a canção desse nosso texto exílio de velhinhos, que nos abriga em paz, eu, Ariano, Jomard, e mais uns poucos. Canção que em breve nos naufragará completamente no esquecimento:

E outras vezes, numa melodia muito saudosa e tão medieval,
Era a Bela Infanta... Eu fechava os olhos outra vez, e em tudo isso era feliz
Ó meu passado de infância, boneco que me partiram!
Não poder viajar para o passado, para aquela casa e aquela afeição
E ficar lá sempre, sempre criança e sempre contente! [Fernando Pessoa]

Sempre acho que quando vemos uma bela apresentação como essa de Limoeiro, tenho a sensação que não foram eles, os artistas populares que seguiram o texto de Ariano. Todos sabemos que o texto de Ariano é que é retirado deles. É talvez essa sua grande grandeza.

Por que ser covarde é sinônimo de ser efeminado? Seria inconveniente ser preconceituoso, ao menos hoje, e dá cadeia, não? Talvez essa a miserável vocação desse texto: o esquecimento em breve.
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(1) Traduzindo pro original: Ghéon is not a minor writer and his work speaks for itself. If his novels recall Dickens, his theatre loses nothing in comparison with Anouilh and Giraudoux. It was he alone who, in the first half of the 20th century, revived the popular burlesque and verticality of the medieval mystery plays, thus anticipating Dario Fo.
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Os Artistas de Limoeiro

Tem alguém aí que ainda não viu uma apresentação dos cantadores, dos improvisadores, dos mamulengueiros, dos artistas de teatro, do maracatu de Limoeiro? Põe ainda ciranda e roda de côco nisso e é só felicidade e belezura. O Cenário é quase a shiminawa do DIG num chão de signos, o figurino puro bufão, atores duplo bonecos é meio Artaud meio Kantor, sei não como me lembrei da Classe Morta, agora Viva, o timing do espetáculo é um relógio suíço de perfeito (Ariano não usa relógio digital, né não?), a versatilidade, vou repetir, a versatilidade, vou repetir a versatilidade, vou repetir, a versatilidade, vou repetir a versatilidade, vou repetir, a versatilidade, vou repetir a versatilidade, vou repetir, a versatilidade, vou repetir a versatilidade, vou repetir, a versatilidade, vou repetir a versatilidade, vou repetir, a versatilidade, vou repetir a versatilidade, vou repetir, a versatilidade, vou repetir a versatilidade, vou repetir, a versatilidade, vou repetir a versatilidade, vou repetir, a versatilidade, vou repetir a versatilidade, vou repetir, a versatilidade, vou repetir a versatilidade, vou repetir, a versatilidade, vou repetir, a versatilidade, vou repetir, a versatilidade, vou repetir, danem-se meus leitores, não disse que no blog NÃO há recursos para a gente escrever bem e dizer o que pensa? A VERSATILIDADE DESSE GRUPO FAZ A GENTE CHORAR. Tá bom que eu choro até em propaganda do Governo quando aparecem aqueles pobres todos sendo ajudados, ô tadinhos, mas chorar por causa da versatilidade de um ator, nunca chorei não. Me comovi. Revirou minhas tripas, a gente anda tão longe aqui no Recife, tão fora do mundo, tão fora de Limoeiro, ô meu deus, me desculpem por todas as críticas que escrevi aqui se nelas não repeti o tempo todo: gente eu conheci uns caras lá em Limoeiro que eu não tenho palavra para definir bem. Puta que pariu, eles comem cu à bessa a mando de Ariano, eles são fodões à bessa, eles são nosso melhor teatro, eu quero ir para Manaus com eles, quero ser o Crítico Oficial deles mas antes vou passar um tempão em Limoeiro. Pô, vocês tem uma lista enorme de funções, é só olhar aí em baixo a ficha técnica, então, criem aí a de escravo sexual da companhia que eu topo, contando que eu possa passar um tempo aí com vocês aprendendo. Bom e depois, me levem dentro da mala para Manaus, escondido do organizador do festival, fechado? Então fecha essa mala aí que já tou dentro!

Mas antes, deixa eu também exercer a nova função que criei para a Companhia de vocês e que já estou ocupando: a de Baba Ovo Oficial, pois amei vocês todos e um por um. Então permitam-me fazê-lo ao som de um mote muito instrutivo. O mote é assim:

Manaus vai vos amar, tenho certeza,
Se puderem, me levem na bagagem!
Pro Amazonas seguir em correnteza...

O Homem do Pandeiro, Mano do Baé, o introdutor genial. Jorge Luiz Borges dizia admirado: o que não se pode escrever só com essas 24 letrinhas! O que não se pode tocar só com um pandeiro!- mostra Mano!

Mano, meu mano, apesar do papo sobre cultura popular já ter invadido Recife bem antes de Mestre Ariano- que não bate um côco- aqui quase que só se consegue aprender ciranda. Então um côco bem tocado e cantado é um prazer raro quando executado por um Doutor como você. Sua abertura é fenomenal, tanto na batida quanto no domínio do público. Em um minuto tu botaste todo mundo no bolso... quem é o ator brasileiro que consegue isso? Um Wagner Moura, um Léo Castro, uma Bruna Campello, um Gerrah, uma Carol Santa Anna, uma Polly e mais uns dois ou três por aí - que você irá encontrar em Metamorfose, lá em Manaus. Você é certamente o melhor de todos nós e Manaus...
Manaus vai te amar, todo janeiro,
Se puder, me leva na bagagem,
Que eu te dou até o meu pandeiro!..

Fábio André: na encenação e produção; eu não sei o que mais tu poderias fazer, não gosto de falar de encenador, diretor e essas coisas por que acho que a gente acaba empobrecendo o ator, essa foi a História do teatro após a modernidade. Mas quando a gente vê o que viu, tem que ser maluco para acreditar que tem algum ator empobrecido ali. Todos são de uma riqueza que só existe ali, naquele galpão, naquele projeto, naquela Limoeiro. Já preparou as malas para Manaus?

Manaus vai amar tua produção,
Se puder, me leva na bagagem!
E larga uns trocados em minha mão!...

Edna: apoio.

Manaus vai te amar, tenho certeza,
Se puder, me leva na bagagem!
Sem apoio isso é pura sacanagem!...

Ray Arruda, Sandra Fragoso e Maria de Lourdes: Figurino:

Manaus vai chiar, tenho certeza,
Se puder, me levem na bagagem!
Quatro é demais, mas só três é sacanagem!...

Diego Ramos e Luan Amorim: Design gráfico

Manaus vai nos olhar, tenho certeza,
Arrumamaí e ramo na bagagn!
Vós, dupla caipira; nós Trio de Design!...

Dilermando Alves: Criação de Cartaz

Manaus vai nos olhar, tenho certeza,
Só tem coisa bonita no cartaz!
Me desenha, Alves, e leva atrás!...

Cláudio Melo e Alex Gonçalves: fotografia

Manaus ireis fotografar, tenho certeza,
Se puderem, me levem na bagagem!
Cláudio mira, Alex clica e eu fico na moleza!...

Charlon Cabral: concepção cenográfica
Conceberás novos palcos com certeza,
Mas se puder, me leve na bagagem
Prá descobrir das índias a beleza!!...

Rosélis Alves: pintura dos tamboretes

Tu , Rosélis, tamburetes pintas
Pra Manaus me leve nesse passo
Que eu pinto, cozinho e passo

Fábio Santana: Adereço

Manaus vai te amar, é o que peço,
E, se puder, me leva na bagagem!
Que topo até ser um adereço...

Jadenilson Gomes: Maquiagem

Manaus vai te amar, tenho certeza,
Se puder, me leva na bagagem!
Rimar com teu trabalho é uma bobagem!...

José Roberto: Contra Regra

Manaus vai te amar, tenho certeza,
Se puder, me leva na bagagem!
Dos sete ofícios só tenho essa destreza!...

meus doces atores de Limoeiro:

Jademilson, Tarcisio, Charlon, Lucas, Kettully
O Mundo já vos ama e ele é um tule,
Sob ele, me levem em viagem todo ano,

Carái, já tô amando esse Ariano!1

(1)Saulo, já tô te copiando, copy, mano!



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