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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Leitura Crítica - Do Moço e do Bêbado Luna

Vinícius Vieira
CHUVA POÉTICA DO BÊBADO LUNA
Vinícius Vieira


De um lado a Igreja de São Pedro dos Clérigos, do outro lado o Afoxé Oyá Alaxé e entre esses dois universos alguns bares que enalteciam a boemia. Crianças, jovens e adultos preencheram o Pátio de São Pedro em plena mistura que integra o sagrado e o profano no mesmo espaço. Foi nesse cenário propício que a vida e obra do poeta pernambucano Erickson Luna ganhou contornos teatrais no último dia da Mostra Fora do Eixo, programação que compõe o Seminário Internacional de Crítica Teatral.
O grupo de teatro de rua Loucos e Oprimidos da Maciel foi quem  comandou o espetáculo Do Moço e do Bêbado Luna. Eles estavam tão a vontade que nem os contratempos que surgiram conseguiu ofuscar a apresentação, muito pelo contrário. A chuva que a primeira vista espantaria o público foi o ponto forte da noite que reafirmou a máxima do artista que diz: “o espetáculo não pode parar”. Dito e feito! Eles continuaram tirando proveito da situação que, aliás, tinha tudo haver com o contexto da peça. A figura de dois atores que cantavam protegidos por um mero guarda-chuva conquistou o público. Uma mulher, em alguma parte do abrigo em que a platéia se encontrava, gritou:
“QUEM SABE FAZ AO VIVO”.
Palmas, gritos e olhares de admiração aprovaram a atitude dos atores que não deixaram a peteca cair. Na rua não existe a proteção de um palco dividindo o espaço cênico da platéia, não há acústica, o ambiente é dispersivo e o risco de qualquer situação controversa acontecer é extremo, mas brincar com esses momentos é o que faz esse teatro flamejar.
A participação do público, não se contesta, é atividade garantida. Em meio aos poemas de Luna um espaço é aberto para quem quiser aproveitar “um minuto de fama”.  Surgiu duas figuras da platéia, cada um a seu tempo, e se colocavam a declamar palavras poéticas com um microfone na mão que ajudava na propagação da voz. Esse recurso mecânico causou microfonia em alguns momentos do espetáculo, talvez a passagem de som antes da apresentação eliminasse esse tipo de ruído.         
Os atores, com a projeção de voz prejudicada, cantavam e tocavam em uma arena. As vezes sentavam em alguns banquinhos alojados em círculo, andavam em direção a platéia pedindo para abrir passagem ou circulavam ao redor do público. O elenco parecia está bastante aberto para dialogar com quem quisesse entrar no jogo. As vezes aconteciam alguns esbarros entre eles e olhares inseguros que tentavam perceber se a “marca” havia sido bem executada. Apenas uma atriz parecia estar sempre desatenta, como se não soubesse ao certo o que fazer, ou fizesse suas ações de qualquer maneira. Os demais atores estavam íntegros no trabalho, atuando com a verdade do teatro, da rua, da boemia e de Luna.
E ao som do blues, essa conversa cantada, somos embalados ao passeio nostálgico de felicidade cinza que emerge na poesia marginal do último dos beatnicks. UM POEMA PARA CONHECER
CANTO DE AMOR
E LAMA I
Choveu
e há lama em Santo Amaro
nas ruas
nas casas
vós contornais
eu não
a mim a lama não suja
em mim há lama não suja
eu sou a lama das chuvas
que caem em Santo Amaro
Vosso Scotch
pode me sujar por dentro
cachaça não
vosso perfume
pode me sujar por fora
suor nunca
porque sou suor
a cachaça e a lama
das chuvas que caem
em Santo Amaro das Salinas
(Erickson Luna)
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