GIORGIA
Márcio Braz
Baseado nos contos Johann e Último Beijo de Amor de Álvares de Azevedo, a montagem de “Giorgia” é cheia de altos e baixos. A peça encenada no Teatro Capiba na última quinta tem como protagonista uma mulher (Giogia?) constrangida pela morte do irmão e pela preocupação com o futuro da família.
Pela plateia, surge a mulher trajando um longo vestido negro, entoando uma canção – uma espécie de réquiem – talvez pelo clima previsto de melancolia ocasionado pela morte do irmão a quem conheceríamos a história, em seguida. No palco, a narrativa desenvolve-se com a descrição dos quadros, intercalando momentos efusivos de alegria e outros bastante trágicos, e todo o repertório de sensações variam entre ambas.
Apesar de o texto construir de forma eficaz a junção dos dois contos de Álvares de Azevedo, a proposta cênica empreendida pelo diretor Jorge Féo guarda muitas ressalvas. A começar pelo figurino da mulher “vestida de negro” assinado por Paulina Albuquerque. O traço da vestimenta nos remete a um certo passado e o material utilizado (incluindo rodas de tule) talvez tenha contribuído para o monólogo contido e uníssono da atriz Hermínia Mendes. O figurino prejudica por sublinhar a interpretação da atriz cuja personagem não se trata apenas de uma mulher envolta numa tragédia e sim, reconhecer a coragem e a luta pela honra. O erro maior, a nosso ver, foi no desenho que indicou com muita ênfase uma fragilidade que não existe na personagem.
A direção de Jorge Féo acentua os climas já apontados e alguns detalhes como a movimentação dos braços, os constantes giros em torno de si mesma (mulher) e o ritmo acelerado ao circundar um foco de luz ao fim da cena, não tinham uma justificativa dramática para existir e pareciam produzidas sem a preocupação de que tudo o que é levado à cena é passível de interpretação por parte do público.
A interpretação de Hermínia Mendes não buscou os elementos climáticos presentes no texto apenas variando as intenções entre a terna alegria e o rancor, tristeza, às vezes. Fomos surpreendidos, na cena da briga do irmão (um dos pontos altos da cena), por recursos expressivos inexistentes e falhos no elemento vocal, onde a atriz balbucia frases num ritmo extremamente acelerado, sem dicção, entonação e ressonância. A atriz não dominou a histeria da cena e com algum esforço se pôde entender o que se passava, mas apesar destes problemas é possível reconhecer as qualidades expressivas da atriz que acertou mais do que errou.
A montagem de “Giorgia” ganha ao abordar os contos de Álvares de Azevêdo e, como sugestão importante, atentar para o uso da voz que deve utilizar os elementos técnicos (dicção, ressonância e timbre) em favor da dramaticidade.
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