Paulo Vieira
O grupo Cia Cacos de Teatro, de Manaus, por exemplo, escolheu o palco, e no palco, o silêncio. Foi o que se viu no segundo espetáculo do dia, Mãe – in loco, performance com Carol Rodrigues e a direção de Francis Madson, de Manaus.
O silêncio. Teatro físico. Em tese, o oposto da palavra. Mas mais do que isso, a atriz posta diante de uma situação desagradável ou no mínimo incômoda: representar dentro de uma piscina de gelo. Realizar ações, códigos que não são de fácil percepção, espetáculo que é mais para ser sentido do que compreendido, pois quem disse que teatro tem que sempre ser lido de maneira linear, racional, cada coisa no seu tempo e o clímax no final?
Há espetáculos que são feitos como uma recusa a razão. E está bem, não há nenhum problema nisso. Até porque problematizar o que não se pediu para tanto significa recuperar algo que somente faz sentido nos bancos da academia, e isto unicamente porque a academia lida com a formação de jovens atores que precisam saber como se relacionar com a teoria, Aristóteles e a sua poética, e depois dele quantos escreveram sobre o fenômeno da teatralidade.
Uma performance como a que foi mostrada no Seminário Internacional de Crítica Teatral tem, suponho eu, o objetivo claro de ser uma porrada no estômago dos que esperam no teatro a mensagem. Este é o segredo: não há mensagem, mesmo que esteja escrito no programa que Mãe “é uma palavra carregada de exímio sentido”, há de ficar a pergunta no espectador: Que sentido será esse? Eu não o vejo, não o vi, não sei onde ele está.
Vendo uma atriz disponível corporalmente, realizando coisas que me fazem pensar em se há limite para a criatividade, eu me pergunto se faz sentido a palavra naquele instante, mesmo as poucas que são ditas pela atriz, faz sentido a palavra? Se as imagens já falam por si mesmas, se provocam vertigem ao ver uma atriz se autoimolando, num sacrifício algo ritualístico em nome da não razão, tenho para mim que de certa maneira tudo volta ao princípio: teatro como representação de sacrifício, o ator (a atriz, no caso) enquanto animal em um ritual pagão, o bode expiatório, até porque, antes de tudo, a atriz com o rosto coberto remete para um animal, e dessa maneira o público é o sádico espectador das dores que sofre a atriz com os pés imersos no gelo. O prazer pela dor.
POSTA AÍ O MEU TEXTO, Ó ROBERTO..
ResponderExcluirO SEMINÁRIO NÃO ACABA NUNCA, VOCE SABE DISSO POIS QUEM O CRIOU FOI VOCE MESMO...