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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Leitura Crítica - Bodas de Sangue

Encenação Fora do eixo
Por Vinícius Vieira
Encenação fora do eixo


A dramaturgia poética do espanhol Federico Garcia Lorca abriu a 6° edição do Seminário Internacional de Crítica Teatral nesse sábado (27) no Teatro Luiz Mendonça, no parque Dona Lindu. O grupo Arte & Fato de Manaus, que comemora 10 anos de vida cênica, traz ao palco pernambucano o espetáculo Bodas de Sangue, peça que integra as três tragédias rurais de um dos maiores poetas do século 20.

A trama gira em torno de um caso de amor mal resolvido entre uma jovem (a noiva) e Leonardo que é casado com outra mulher. Porém, ela está predestinada a um casamento com outro rapaz, que não lhe agrada. No dia do matrimônio a noiva e Leonardo decidem fugir desencadeando uma perseguição pelas terras espanholas em busca dos dois amantes. Lorca também utiliza em seu texto a fantasia, que aparece nessa obra através da personificação da lua e da morte, que juntos conduzem a um ritual de sangue em que o amor nem sempre triunfa.

O espetáculo começa com os atores distribuídos no palco cantando ao vivo, assim como toda sonoplastia é feita na presença dos músicos, com exceção ao choro do bebê que destoa do conjunto. A batida flamenca será algo marcante durante todo espetáculo. As passagens cantadas tornam-se enfadonhas embora o preparo vocal dos atores seja um ponto positivo. O elenco tem um bom trabalho de dicção, mas estavam presos a um mesmo registro vocal, gritado e bastante explosivo que cansava pela linearidade constante e quebrava o brilho das palavras poéticas, um exemplo desse aspecto é a atriz Vanessa Pimentel que exagera nas gritarias e na interpretação forçada.

Os atores pareciam estar ligados em um botão automático que inviabilizava o verdadeiro encontro e a troca com o parceiro de cena, restando à platéia assistir ações mecânicas carregadas de vícios e clichês, tais como, tremeliques nas mãos e viradas de rosto (este aspecto é bastante visível no ator Hely Pinto que faz o papel de Leonardo) que lembravam a interpretação melodramática e de novelas mexicanas.

A idéia de utilizar a dança flamenca em alguns momentos do espetáculo é interessante, mas não funciona. A parte dançada revela insegurança e precisa de uma pesquisa mais aprofundada nesse universo. Na abertura do espetáculo a atriz Beth Ghimel parecia estar totalmente desconfortável em tal atividade, perdendo até o tempo de alguns passos e, como conseqüência, não acompanhava o elenco. Um olhar mais compenetrado em sua personagem, também poderá ajudá-la a construir a mãe que carece de vida própria. Cheguei a pensar: será que a atriz foi substituída de última hora? A solução para a mudança de cena, realizada pelo ator que colocava ou tirava algum objeto do palco, sempre ao som da música espanhola e seguida de alguns passos, poderia ser repensada sobre sua real necessidade de existência. Será que a atual troca não revela um floreio?

Os momentos que mais funcionam no espetáculo acontecem quando as imagens são traduzidas em maior intensidade poética, como a cena de personificação da lua, as cenas que acontecem no fundo do palco, a morte do noivo e de Leandro e a entrada deles cobertos por um tecido vermelho significante do sangue e da morte.

E quanto ao mote do texto, um caso de amor impossível que a tudo se dispõe para que seja realizado, até que ponto dialoga com as relações líquidas do homem pós-moderno? Será que essa paixão tão fervorosa perdeu sua representatividade em nossa sociedade ou se espetacularizou com a mídia? Será que o amor se tornou inútil? Ou essa palavra está buscando outro significado diante de uma nova geração? Talvez remontar clássicos como Lorca tenha a importância, entre tantas outras, de nos fazer refletir sobre o que fomos e o que nos tornamos.

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