OS DOIS LADOS DE UMA FACA
Márcio Braz
Composta pelos textos “Febre que me segue” e “Sodomia Song” de Breno Fittipaldi e Wellington Júnior respectivamente, a leitura dramática intitulada “Faca de Dois Gumes” bebe no universo homoafetivo para falar de paixão, delírios, sexo e erotismo.
O primeiro texto tem como protagonistas Pedro e Lui. Uma relação, quase um fetiche de um com o outro até a consolidação do encontro e a declaração simples e direta do jovem Lui, de 18 anos, ao coração ansioso e desesperado de Pedro. O texto guarda muitas referências de Caio Fernando Abreu e o estilo de composição se assemelha a um conto narrado sempre em primeira pessoa. A narrativa é excessiva e com poucos diálogos; a impressão que se tem é que a transposição deste para o palco deverá exigir do encenador um poder de concentração e manejo na condução da história de forma a quebrar com a sonoridade uníssona do texto.
Já “Sodomia Song” trata dos delírios imagéticos de um jovem durante a prática da masturbação. No fetiche imaginativo do rapaz são fisicalizados todo o repertório de frases e vocabulários comuns a boa (ou alguma) parcela de homossexuais. Um brainstorm gay que finaliza com o gozo do rapaz em palavras delirantes.
Como situação dramática, o primeiro texto se integra mais ao exercício teatral, pois sugere diversas possibilidades de encenação – inclusive no acerto de problemas já apontados – alem de possuir uma trama definida e sensibilidade poética. Já o segundo se dirige mais à performance e à cena curta acompanhando o ritmo e a brevidade do ato masturbatório, com comunicação imediata da plateia e suas frases cheias de lugares-comum do dialeto gay.
Os atores responsáveis pela leitura dramática, a saber, Breno Fittipaldi, Nelson Lafayette, Rodrigo Dourado e Tiago Gondim, dirigidos pelo talentoso Wellington Júnior, se empenharam em performances inspiradas, com dicção e projeção corretas mas “mastigavam” o texto para a plateia se utilizando da mais comum e fácil intenção, sem perceber os entrechos, silêncios e ritmo que, sobretudo, a primeira obra exigia.
A leitura dramática dos textos enfeixados sobre o título “Faca de Dois Gumes” promoveu um encontro de possibilidades na noite do dia 30 na simpática Casa Mecane em Recife. Vejamos os próximos passos deste tango...
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