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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Leitura Crítica - Brincadeiras

RITOS COLORIDOS


Diego Albuck

Se contar histórias não é uma arte, o premiado espetáculo “Brincadeiras” da Cia amazonense Metamorfose pode-se dizer que sim. Com o texto de Raimundo de Matos e a direção de Socorro Andrade, a montagem põe no palco uma trupe de atores saltimbancos viajantes que contam histórias que vão do folclore brasileiro até o teatro.

Mesmo sem a mítica das cortinas fechadas, quando entramos no teatro já nos deparamos com o cenário aberto com vários guarda-chuvas pendurados no teto, uma arara com vários figurinos e penduricalhos, e espalhados pelo palco temos bancos, caixas entre outros objetos, o que já atiça a curiosidade de quem fita toda aquela parafernália.

É com o verso “Para brincar e cantar e a vida melhorar” que os saltimbancos anunciam a sua entrada. Com o figurino e a maquiagem que remetem as trupes circenses, Ciranda, Milinha, Luciano e Zé Magela apresentam seus números, suas histórias, suas poesias no palco do Teatro Barreto Jr.

É notável que cada detalhe do espetáculo tenha sido estudado e revisado pela equipe, Jonatas Sales, por exemplo, compõe um belíssimo trabalho de maquiagem que, através das máscaras pintadas no rosto, caracteriza o universo amazonense, com traços que lembram o folclore da Amazônia. Cada traço realçado nos dá um efeito de encantamento onde elucida a magia, a alegria que transcendem o embelezamento e ainda causa um efeito na fotografia dando mais vivacidade a expressão ao artista.

Assim como Jonatas, a própria Socorro Andrade, que também assina à indumentária do espetáculo, desenvolve figurinos que representam o universo de cada saltimbanco, o que permite uma liberdade na interpretação dos personagens, tudo isso combinado com adereços, que ao entrar em cada história, ajuda a compor toda a estética, esta construída de muito bom gosto.

Os adereços também são um espetáculo a parte, pois se tornam imprescindíveis e essenciais para a construção das imagens narradas pelos atores. Chapéus, vestidos, sombrinhas, cachecóis, enfeites eram suportes para cada ação dos personagens. Vale ressaltar aqui a criação simples, mas de forma bem lúdica quando os personagens decidem viajar pegam uma corda que representam um ônibus, e dentro dela os atores invadem a plateia buscando e convidando passageiros para embarcar na sua viagem. Ai que vontade de viajar também!

A iluminação é mais um componente de criação que intensifica e auxilia no conceito do espetáculo. A mudança das cenas demarca vários efeitos de cores em diferentes focos tanto no palco, quanto na plateia que transformavam os climas, as cenas e as figuras. A luz revelava também a plasticidade ao iluminar cada adereço que, em alguns momentos acentuava e em outros configurava a sua materialidade.

A pesquisa musical de David Almeida e Socorro de Andrade é outro ponto alto do espetáculo, pois em todo o espetáculo tínhamos cantigas amazonenses, do nordeste, de roda, sonoplastia do oriente em um repertório bem escolhido e colocado acertadamente em cada história apresentada.

Os atores eram brincantes, dançarinos, palhaços, manipuladores de bonecos, bonecos, contadores, criadores, construtores e em cada história que contavam despertavam a sensibilidade, a emoção mesmo num domingo de manhã e para um público reduzido no teatro. Cada história surgia da vontade de brincar, de se expressar daquelas grandes crianças que pareciam voar no palco. Histórias e personagens como o Papagaio, Vendedor e Comprador, Fada da Natureza, Raposina, D. Rosita e o gato invadiam o imaginário dos adultos e das crianças em que todos os sentidos eram aguçados através das expressões corporais, faciais, dos gestos, da entonação da voz e do ritmo que os atores conduziam o espetáculo.

Sabemos que a literatura oral se compõe dos elementos trazidos pelas três etnias: indígena, africana e portuguesa e “Brincadeiras” consegue num grande mosaico de cores, luz e movimento unir essas vertentes culturais que formam a nossa cultura brasileira. E essa herança era, a todo o momento, compartilhada com o público, por meio de cenas que necessitavam de sua participação.

Partindo em direção a Olinda, os viajantes se despediam com ovações do público e com uma forte missão cumprida. Vale ressaltar a importância desse espetáculo para o cenário teatral recifense, pois é notável que a leitura de Socorro de Andrade e sua equipe mostram uma postura diferenciada, visto que seu espetáculo mostra a presença de cada criador, não só como artista, mas como ser humano. A obra de arte apresentada leva à reflexão sobre as infinitas nuances da vida e da nossa cultura, além disso, incentiva a formação crítica e cultural do adulto e da criança. O autor mostra que é possível criar um discurso poético sem colocar uma lição de moral ou mensagens pedagógicas, mas sim deixar que a criança se identifique com cada história contada e que ela as vivencie por ela mesma.

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