A CRISE DOEU
Dyego Albuck
Com apresentações de 11 cenas curtas de vários grupos teatrais do Brasil, o Seminário Internacional de Crítica Teatral promove o RECIFASTTEATRO no teatro Capiba no SESC de Casa Amarela. Dentre as performances apresentadas, ficarei com a responsabilidade de refletir sobre duas delas: @com da Cia das idéias de Manaus e Mais um do Clã de Nós do Rio de Janeiro.
1. @.COM
Com a busca do não convencional para atingir seus objetivos, a perfomance abre espaços na arte para problematizar e contestar de forma interdisciplinar a dinâmica teatral. É dessa forma que a apresentação de João Fernandes caminha, visto que em um bate papo de um site de relacionamento, o seu personagem inicia uma conversa on-line com pessoas propondo um encontro. Antes de entrar na questão da proposta de fato, ressalvo o cenário que era composto por uma mesa e cadeira de plástico, um notebook, um cabideiro com perucas, roupas e máscaras e um telão onde projetava a tela do computador. O ator trajava uma cueca samba canção e uma máscara.
Mais caracterizado com “happening” a proposta da Cia de idéias em mostrar um homem “casado” que ao navegar pela internet busca relações sexuais, confirmando que com o advento da internet a maneira de como se vê e se pratica o sexo mudaram. Chegamos a nossa primeira questão: Será que a internet, hoje, se resume a sexo?
A proposta processual mostra, num jogo de arte e vida, um personagem que entra num palco de teatro e navega pela internet, em sites de relacionamento, ao vivo expondo pessoas “reais”, o que desperta uma estética interessante e deixa a platéia ora solicita ora repulsiva com a atitude do personagem.
As conversas entre o ator e os “nicks” envolvidos partiam de triviais à ofertas de strip-tease pela web cam, o que ocorre gratuitamente, sem ônus. É interessante ressaltar que, em uma das conversas, um homem do bairro de Beberibe chega às vias e fica nu se expondo pela web, além disso, também fornece seu telefone para o ator. Com isso indago: O que faz uma pessoa dar informações íntimas a um estranho virtual? ´
Nós nunca vemos o rosto das pessoas, apenas o rosto, inclusive o ator que sempre está caracterizado com a máscara. O ator, alguma vezes, se mostra acanhado com a situação, visto que pede as pessoas para se expor, entretanto ele se exibe de maneira tímida. O limite da identidade é ultrapassado, pois a aparência exerce, nesse caso, uma posição que o ator está exercendo socialmente no momento, ou seja, a construção de um personagem fake, na linguagem da internet, criando uma idealização de características que busca representar certo tipo de papel expondo uma “intimidade” se valendo de uma identidade de que não se define pelo que é, mas a partir do que ele diz e na forma como se relaciona com eles. O que o ator mostra aqui é que essas pessoas, freqüentadoras de redes sociais, quebram com sua própria identidade, ultrapassando limites de confiança e lealdade na tentativa de obter uma relação sexual passageira. E aí deixo a seguinte pergunta: Até que ponto vai essa identidade instantânea nas redes sociais?
2. Mais um
Com o espírito de “todo mundo merece um lugar na mídia!” é que o Clã de Nós embasa sua esquete “Mais um”. A cena conta a história de uma atriz viciada em testes que busca um papel para se consolidar sua carreira. Esse tipo de personagem lembra o que chamamos de “celebridade instantânea” que surge no final do século XX, pessoas que adquirem a fama de forma repentina, graças aqueles “quinze minutinhos de fama”.
A dramaturgia do espetáculo, ou melhor, dizendo, o roteiro da cena é baseado no stand-up comedy, visto que as histórias são construídas a partir do cotidiano da personagem. A atriz se encontra desarmada em cena, sem acessórios, cenários e caracterização, o que é comumente chamado “humor de cara limpa”.
O começo da cena inicia com a música tema do reality show Big Brother Brasil, onde no palco surge uma atriz vestida como maratonista e uma blusa indicando seu nome, idade e tipo sanguíneo, o que já causa risos na platéia. Lucia Loser, 25 anos, A positivo é uma atriz cujo sobrenome foi batizado pelos seus colegas de escola, o que é para ela motivo de orgulho, já em sua crença/suposição é que a cantora norte-americana Britney Spears, em sua adolescência era chamada de “Spears” por seus amigos.
E Lúcia agradou... Agradou muito o público que se divertia com suas histórias de testes, seus dramas pessoais e sua caça incessante por uma oportunidade em sua carreira. A voz off do diretor que dialogava com Lúcia também ilustrava a realidade de um diretor que se mostra a todo custo interessado em descobrir novos talentos. A parceria flui de tal delicadeza que Bruna Campelo se mostra uma grande “mestra de cerimônias”, demonstrando ser entendida do gênero, já que esse estilo é considerado um dos mais difíceis de executar e dominar. Sua perfomance vem criticar com muito bom humor que, nos últimos anos, a sociedade brasileira tem passado por inúmeros realities que objetivam mostrar pessoas sedentas por uma fama fugaz e passageira, não medindo escrúpulos para conseguirem suas ambições. Deixo a mais óbvia das perguntas: Até onde vai a busca pela fama?
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