*Jorge Bandeira
A Tradição circense na sua vinculação com o processo de aprendizagem e perícia contínua é a tônica desta Trupe Circus da Escola Pernambucana de Circo, sediada no Recife. Como experimento de número 1, CÍRCULOS QUE NÃO SE FECHAM, sob a direção de Fátima Pontes, Maria Luiza Lopes e Anne Gomes costuram temas relacionados diretamente ao universo da juventude, suas forças incontroláveis que buscam a mudança, mas que também vacilam em seus propósitos, em suas indecisões encontradas neste período da vida.
A juventude é este vulcão, mas neste exercício triunfal de superações, na dinâmica dos números e no acabamento dos figurinos, no uso adequado dos equipamentos circenses, na organicidade das coreografias das danças de rua e suas variantes, além de objetos que ganham significados dentro da intrigante estrutura espetacular da Trupe Circus da Escola Pernambucana de Circo. Bandeiras que se movimentam, malabares e equilíbrios, contorcionismos, atuação teatral e elementos performáticos e a dança ligada à cultura pop são eixos primordiais que se amalgamam com os temas recorrentes da juventude, e nisso a função da escola repercute a cidadania, como essência desta função artística.
A técnica adquirida pelos intérpretes-atletas, artistas circenses não se condicionam apenas em demonstrar suas habilidades, onde o eventual erro não significa erro, mas superação, e aqui podemos refletir sobre o trabalho de equipe, sobre esta fonte permanente de criatividades mil advindas deste trabalho de sinergia, nos mais variados estilos, e até a dramatização deste cotidiano juvenil é colocado a serviço desta visualização espetacular circense, onde o corpo é um vetor de geometrias espaciais e jogos cênicos. Importante destacar que não se utiliza neste trabalho a figura do veterano, do que melhor executa sua função, mas o trabalho grupal, sem protagonistas, onde todos são importantes ao êxito da função.
Os limites devem ser superados por todos, o trabalho é de uma organicidade precisa, e quando ocorrem excessos eles interagem com a noção coletiva do erro eventual, erro que será superado por todos. A sonoplastia como suporte musical está bem costurada neste roteiro “social”, e aqui o viés é o da contemporaneidade, onde se apresentam o eletrônico do grupo alemão Kraftwerk ao manguebit de Chico Sciense e Nação Zumbi, com destaques também para sonoridades retrabalhadas a partir de sucessos populares da música brasileira, tudo fluindo de forma eficaz, e onde os corpos demonstram a letra e as histórias e personagens ganham vida neste momento de sonoridades múltiplas.
A escola em seu cotidiano, de forma exacerbada e com um tom caricato da situação de sala de aula, conflitos entre professores e alunos, a rebeldia dos jovens, serve como momento de maior desconstrução do elemento taciturno e gritante dos momentos de choque, sempre na colocação da cena como suporte alegórico dos exercícios da Escola de Circo.
A relação entre os jovens, as diversas formas deste amor, caracterizam a atualidade da pesquisa da Escola Pernambucana de Circo, que também utiliza os mais diversos instrumentos para a função cênica espetacular, além de jogos de luzes e sombras, luz negra, tudo buscando o lúdico dentro de um roteiro que flui naturalmente, e onde este cotidiano da periferia fica bem perto de nós, e da melhor forma possível, pelo caminho deslumbrante do circo, uma fábula constante no século XXI, isso considerando a etimologia desta palavras como narração, destes círculos que não se fecham e que nos colocam em seus interiores inquietantes.
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