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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Leituras Crítica - Bodas de Sangue


Bodas de Sangue
Por Paulo Vieira

O Grupo Arte&Fato de Manaus trouxe para o Seminário Internacional de Crítica Teatral, em Recife, o espetáculo Bodas de Sangue, com texto de Federico


Garcia Lorca e direção de Douglas Rodrigues.

Durante muito tempo no Brasil, mais precisamente no período militar, Garcia Lorca era montado se houvesse escrito esse texto sobre a terra, sobre a posse da terra, e não sobre a paixão de um homem por uma mulher, a posse de um homem por uma mulher, como de fato é o tema do texto, e esse desejo incontrolável e másculo

conduzindo os contendores à morte trágica em duelo. Aliás, Garcia Lorca parecia que

era muito mais nordestino do que andaluzo, graças a profunda influência de sua obra e do seu pensamento sobre Hermilo Borba Filho e outros de sua geração. Mas desde

que chegou a abertura política, Garcia Lorca, antes tão montado no nordeste, perdeu o posto de ser um autor admirado entre nós e, consequentemente, deixou de ser montado. Uma perda, do meu ponto de vista, de qualquer modo com que se analise a

questão, pois se trata de um dos dramaturgos mais importantes do último século para

o teatro ocidental. O Grupo Arte&Fato ousou montar um texto complexo em sua urdidura dramatúrgica, e o fez com bastante competência.

A primeira coisa a ressaltar nesta montagem é a uniformidade dos atores, todos com ótima qualidade, o que em um espetáculo teatral é quase tudo, se se considerar que o ator é o elemento dinâmico da cena.

Além do mais, a sonoplastia executada ao vivo por um grupo musical, com a direção de Mikelane de Almeida, ajuda a compor brilhantemente a narrativa do texto, vindo ela mesma a se constituir em uma narrativa à parte, envolvente em muitos momentos e, além disto, cria um ambiente sonoro que conduz mais facilmente o espectador para o universo proposto por Lorca.

Mas todas as virtudes não foram suficientes para encobrir um problema bastante sério no espetáculo que se viu no Teatro Luiz Mendonça, e este problema é muito mais externo do que propriamente inerente ao espetáculo, assim mesmo com potencial suficiente para causar certa estranheza no espectador. Falo sobre o tamanho do palco, grande e largo o suficiente para encobrir a qualidade dos atores, que, talvez por estarem quase sempre em enorme distância um dos outros, compense essa distância gritando um texto cujo efeito melhor se adequa a uma voz projetada, firme, máscula, recheada por afirmações fortes e duras, assim mesmo poéticas, trágicas, sanguinárias.

Nesse sentido a iluminação não ajuda a cena, pelo motivo de que a luz permanece todo o tempo iluminando a vasta área do palco, o que faz com que os atores tomem tamanha distância um dos outros com o objetivo de ocupar todo o espaço, desperdiçando uma energia que, do meu ponto de vista, seria mais funcional

se estivesse concentrada numa área menor do palco. Uma energia de atuação eu quero dizer. Nos momentos finais a luz cria um desenho dinâmico para a cena, contrastando com o que ela foi anteriormente. E são as cenas finais que recuperam a beleza do espetáculo, essa que se perdeu pela permanência insistente de uma luz que chapa a cena.

Bodas de Sangue trás para o nordeste o teatro da Amazônia, pulsante, forte, envolvente, na montagem do grupo Arte&Fato, que há dez anos vem se dedicando à

construção de um repertório, montando autores amazonenses e não amazonenses,

produzindo espetáculos de dramaturgia própria e espetáculos infantis, de autores como Ilo Krugli e Silvia Orthoff. O resultado desses dez anos de trabalho fica evidenciado no elenco maduro que se mostra em cena.

Desse elenco vale destacar a atuação de Ednelza Sahdo, atriz convidada para o papel da Sogra, que ela conduz com a segurança de quem aprendeu com o tempo e a prática que o teatro não necessita de pirotecnia para revelar a beleza, mas da simplicidade, da força e da sinceridade de quem sabe que o teatro só acontece quando o ator está inteiro em cena, de corpo e alma, de energia e luz.

Não se pode também deixar de chamar a atenção para o diretor, Douglas Rodrigues, que se mostra um artista multifuncional, pois, além da direção, assina a iluminação e a operação da luz, a cenografia, os figurinos e a confecção dos figurinos, e tudo isso somado não é pouco para uma mesma pessoa, principalmente se se considerar que tudo está feito com bastante capricho.

Bodas de Sangue é um espetáculo que mostra um teatro de excelente qualidade, e, dessa maneira, afirma e confirma que não há um centro produtor do bom teatro, mas que ele, felizmente, está em toda a parte deste país que mal conhecemos.




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