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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Leitura Crítica - A Inconveniência de Ter Coragem

A CONVENIENCIA DA QUALIDADE
Vinícius Vieira


O universo da cultura popular sai das feiras e invade o palco à italiana em apresentação contagiante no Centro de Criação Galpão das Artes em Limoeiro. Cores, sons e formas exuberantes atraíram a atenção do público que assistiu ao espetáculo A incoveniência de Ter Coragem na última quarta-feira (31). A peça é um exemplo claro de como esta cidade tem se destacado nas produções das artes cênicas em Pernambuco.

A dramaturgia é de autoria do paraibano Ariano Suassuna, conhecido internacionalmente pelo sucesso de O Auto da Compadecida. O enredo desvela a cultura do homem sertanejo nas figuras dos personagens Benedito, Pedro, Vicentão Borrote, Cabo Rosinha e Marieta, que durante 1h de espetáculo conduz a platéia a risos, palmas e cantorias próprias da música regional.

Benedito é um “cabra” esperto que se utiliza desse artifício para impressionar sua amada, Marieta. Para isso ele “enfrenta” Cabo Rosinha e Vicentão Borrote, donos de uma masculinidade imponente que é colocada a prova a todo instante em um jogo gostoso de ser e parecer, são as máscaras sociais que encontram terreno propício nos palcos e abre espaço para a reflexão de uma sociedade hipócrita. O protagonista, após desenvolver com requinte as suas artimanhas, espera conseguir lugar de destaque no coração de Marieta, mas para sua infelicidade, porém regozijo da platéia, mantém um caso de amor com Pedro.

A encenação sofre fortes influência da idade média, período em que as apresentações teatrais lotavam as ruas com seus autos, mistérios e milagres, como também da comédia Dell”Arte e, é claro, da produção artística do homem sertanejo. Qualquer aproximação com Mateus, Catirina e Bastião, figuras presentes no cavalo marinho, não é mera coincidência. O Bumba meu Boi também é um universo que fala sobre a vingança, a piada que surge na feira, algum problema que contempla a atualidade, um caso de amor e traição em que o negro tem papel relevante na construção dessas situações.

Os recursos interpretativos e a encenação busca pelo antiilusionismo, ou seja, pretende evidenciar o aspecto teatral e mimético. Os personagens são tipos identificados através da partitura corporal convencional que expressa as características físicas e morais. Um destaque nesse trabalho é o gestus do Cabo Rosinha que toca suas genitálias com as pernas escancaradas, levando a platéia ao delírio. O gestual e os deslocamentos são grandes e amplificam os atores, assim como a indumentária composta por múltiplas cores, fitas e botões que se aproxima do universo dos mamulengos. Os bonecos estão presentes tanto no corpo como também nas versões minimizadas das personagens que surgem no decorrer das cenas. O trabalho vocal dos atores é impecável, seja na voz falada quanto na voz cantada. A sonoplastia é produzida ao vivo utilizando brinquedos populares como reco-reco e apitos de madeira que imitam o canto dos pássaros. A música apresenta as personagens e narra ocasiões que seriam trágicas se não fosse o véu cômico que perpassa a apresentação.

Depois de entrar em cena pela platéia com muita intensidade energética, os atores permanecem no palco do começo ao fim. Quando não estão em ação caminham para as laterais, sentando em banquinhos trabalhados na xilogravura, estética presente na literatura de cordel que também aparece amplificado no fundo do palco.

O espetáculo, porém seria impecável se não fosse a maquiagem de Benedito que ao longo da exposição derreteu sobre a face. No ambiente da origem popular isso não teria problema algum, mas na unidade a que esse espetáculo se propõe, percebemos que os elementos cênicos comungam para outro tipo de cuidado estético que precisa ser solucionado. Esse “borrão”, evidente, não ofuscou o brilho radiante que o Galpão das Artes dirigido por Fábio André, levou ao palco em uma belíssima apresentação na noite limoeirense.



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