CLÃ DE NÓS
Márcio Braz
Há muito que as discussões em torno do besteirol e do stand up comedy vem acontecendo no Brasil e o coro de desavisados insiste na afirmação de que este último, importado dos Estados Unidos, é um gênero menor destinado a divertir as massas e, sobretudo, a classe média, seu público predileto. Já se sabe da importância do besteirol no início dos anos 1980, no Rio de Janeiro, responsável pelo retorno do público aos teatros e cujos principais mentores são Mauro Rasi e Miguel Falabella.
Mas a comédia stand up gira em torno de algumas características básicas geralmente advindas do histrionismo do ator e movida pela técnica do improviso, do tempo de comédia, da crônica (sobre algo que aconteceu ou está acontecendo no mundo) e, ainda, recursos da expressão corporal. São estes os principais elementos do gênero e que Bruna Campello da Cia Clã de Nós do Rio de Janeiro não deixa de usufruir. O trabalho foi apresentado no último dia 31 no Teatro Capiba.
O sketche trata de uma atriz que nunca passou em testes de elenco e se prepara para mais um onde, diante do diretor do teste, procura mostrar sua verve em situações diversas, seja no cômico ou dramático. Campello mostra segurança no texto e incrível disposição pro improviso. Mas nem sempre a situação improvisada é correta e acaba por sujar a narrativa e os climas sugeridos pelo texto. Como exemplo basta citar a cena em que a atriz tenta mostrar seus dotes dramáticos num clima envolto por silêncio e um enunciado insinuando seriedade. No entanto, o tênis da personagem Lúcia, em contato com o chão, provocava um ruído estranho que já havia sido explorado pela mesma em outra situação, mas a atriz não se conteve e repetiu a dose. Resultado: quebra na intenção dramática que poderia ter sido revertida pela atriz para conduzir a plateia em direção ao drama e não a comédia.
O sketche “Mais Um” obteve boa repercussão no público presente o que comprova a destreza com que Bruna Campello se evidencia no palco. Em relação às críticas quanto ao “baixo nível” das comédias stand up e, também, do besteirol, basta dizer que o humor sempre fez parte da identidade brasileira e é fruto direto de nossa formação. Cada vez mais as experiências teatrais voltam-se para o próprio umbigo mascaradas com o nome de “processo”, “investigação” e “pesquisa” enquanto o público fica sendo alvo fácil desses manipuladores de experiência (até porque a categoria “público” hoje em dia não interessa já que os fomentos já garantem alguma renda para os grupos que não precisam mais depender do sucesso de bilheteria).
Mas a Cia Clã de Nós guarda muitos projetos futuros e façamos votos que continuem em sua empreitada no ramo da comédia brasileira orgulhando este Brasil de Coelho Neto e França Júnior, mas também de Bruna Campello e seu diretor (também comediante) Léo Castro.
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