DIVA
Dyego Albuck
Se formos ao dicionário e procurarmos pela palavra, Diva é uma mulher excepcional do mundo da ópera e por extensão no teatro e no cinema. Entretanto, afirmo que: Saulo Máximo é um Divo e sua Luísa uma Diva na vida (risos). Deixando os exageros para lá, vamos comentar um pouco de “A outra” esquete apresentada no teatro Capiba. A história narrada é a de Luísa, um travesti que vive em sua vida ódios, amores, sexo e vergonha em uma prisão de si mesma encurralada por mentiras.
O cenário nos remete a um camarim das grandes divas do teatro e do cinema, um cabideiro com várias roupas e perucas penduradas, uma cadeira, um pufe , uma penteadeira e dois focos de luz vermelha, em Luísa totalmente maquiada e trajada e meia-calça, blusa de paetês brilhantes, peruca loira e sapato alto. Ih! Cadê o espelho? O espelho era a alma dolorida de Luísa, que desde criança já sofria as dores, preconceitos e repulsas de seu próprio pai e as molestações do próprio tio.
A proposta de Saulo vem aclarar e debater um dos assuntos mais comentados dos séculos XX e XXI - a homossexualidade. Não é de hoje que o homossexual é retratado como um ser de forma atrofiada, anormal, ou vulgarmente, conhecido como aberração da natureza. Alguns estudiosos tratam como uma formal alternativa da sexualidade, outros como doença e até mesmo uma síndrome neurótica. Não quero aqui discutir e levantar reflexões sobre tais assuntos, visto que muito já se tem debatido sobre isto, no entanto quero me deter a Luísa, que como tantos outros, são atingidos por esses malefícios.
A interpretação do ator mostra-se muito perspicaz, visto que aborda de maneira bem profunda os devaneios e as feridas dessa mulher, que sofre com esse ser que a faz tanto mal e até mesmo a sufoca. Luísa nos relata a sua vida, suas loucuras, confessando até sua renúncia a Deus e a essa sociedade hipócrita que a marginaliza. Será que existe algum santo para proteger gente como eu? Declara Luísa.
A vida de Luísa, assim como diz Tom Jobim, explode em sete cores revelando os setes mil amores que embaixo de toda a neve se encontra nela um coração. E é nesse coração em multicor e com a alma pintada que vemos a mulher que veio ao mundo para encantar e transformar as desventuras da vida em um delicado rosto sem gloss. Porque qual a graça de uma estrela que não brilha? Mas Luísa brilha... E brilha como um esplendor, um raio de sol que anuncia a esperança, que até mesmo em suas profundas loucuras, a Luísa sabe o que faz.
Termino com o poema que retrata bem a poesia encenada de Saulo, o texto é de Cecília Meirelles e se chama “A mulher ao espelho”:
Hoje que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz.
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.
Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?
Por fora, serei como queira
a moda, que me vai matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.
Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.
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