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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

sábado, 3 de setembro de 2011

Leitura Crítica - A Outro

DIVA


Dyego Albuck

Se formos ao dicionário e procurarmos pela palavra, Diva é uma mulher excepcional do mundo da ópera e por extensão no teatro e no cinema. Entretanto, afirmo que: Saulo Máximo é um Divo e sua Luísa uma Diva na vida (risos). Deixando os exageros para lá, vamos comentar um pouco de “A outra” esquete apresentada no teatro Capiba. A história narrada é a de Luísa, um travesti que vive em sua vida ódios, amores, sexo e vergonha em uma prisão de si mesma encurralada por mentiras.

O cenário nos remete a um camarim das grandes divas do teatro e do cinema, um cabideiro com várias roupas e perucas penduradas, uma cadeira, um pufe , uma penteadeira e dois focos de luz vermelha, em Luísa totalmente maquiada e trajada e meia-calça, blusa de paetês brilhantes, peruca loira e sapato alto. Ih! Cadê o espelho? O espelho era a alma dolorida de Luísa, que desde criança já sofria as dores, preconceitos e repulsas de seu próprio pai e as molestações do próprio tio.

A proposta de Saulo vem aclarar e debater um dos assuntos mais comentados dos séculos XX e XXI - a homossexualidade. Não é de hoje que o homossexual é retratado como um ser de forma atrofiada, anormal, ou vulgarmente, conhecido como aberração da natureza. Alguns estudiosos tratam como uma formal alternativa da sexualidade, outros como doença e até mesmo uma síndrome neurótica. Não quero aqui discutir e levantar reflexões sobre tais assuntos, visto que muito já se tem debatido sobre isto, no entanto quero me deter a Luísa, que como tantos outros, são atingidos por esses malefícios.

A interpretação do ator mostra-se muito perspicaz, visto que aborda de maneira bem profunda os devaneios e as feridas dessa mulher, que sofre com esse ser que a faz tanto mal e até mesmo a sufoca. Luísa nos relata a sua vida, suas loucuras, confessando até sua renúncia a Deus e a essa sociedade hipócrita que a marginaliza. Será que existe algum santo para proteger gente como eu? Declara Luísa.

A vida de Luísa, assim como diz Tom Jobim, explode em sete cores revelando os setes mil amores que embaixo de toda a neve se encontra nela um coração. E é nesse coração em multicor e com a alma pintada que vemos a mulher que veio ao mundo para encantar e transformar as desventuras da vida em um delicado rosto sem gloss. Porque qual a graça de uma estrela que não brilha? Mas Luísa brilha... E brilha como um esplendor, um raio de sol que anuncia a esperança, que até mesmo em suas profundas loucuras, a Luísa sabe o que faz.

Termino com o poema que retrata bem a poesia encenada de Saulo, o texto é de Cecília Meirelles e se chama “A mulher ao espelho”:

 
Hoje que seja esta ou aquela,

pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.


Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz.
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.


Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?


Por fora, serei como queira
a moda, que me vai matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.


Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.


Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.




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