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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Leitura Crítica - Círculos que não se fecham... Expermiento nº 1

CÍRCULOS QUE NÃO SE FECHAM – EXPERIMENTO N. 1


Márcio Braz

Embora, no Brasil, as iniciativas públicas para a cultura insistam na afirmação de Goebells de que uma mentira contada cinco vezes acaba tornando-se verdade, o espetáculo “Círculos que não se fecham... experimento n. 1” da Trupe Circus da Escola Pernambucana de Circo, apresentado no último dia 28 na Escola Pernambucana de Circo, nos deu a clara certeza de que o resto não é silêncio: é ação!

Apresentado sob um picadeiro do século 21 (um pavilhão de concreto) o espetáculo abordava o tema da juventude brasileira (somente?) e suas contradições explorando o que, para um desavisado, seria um lugar-comum: rap, drogas, passos de street dance e brigas de gangs. No entanto, a temática abordada não se submetia somente ao óbvio e outros quadros eram pintados como a comovente cena do triângulo amoroso sob o trapézio representado de forma sutil, bem interpretada, coreografia inteligente e bem dirigida. Mas penso que talvez outras contradições poderiam ter sido abordadas no espetáculo como a relação com dos jovens os pais, a morte e a Aids, pensadas, é claro, de modo inteligente e criativo como no musical “Angels in America”.

O que mais chamou a atenção foram os climas criados pela encenadora Fátima Pontes. A sequência dos quadros foi pensada de modo a produzir um ritmo, uma respiração. De momentos bruscos pintados ao som de rap e passos de dança de rua a outros de extrema singeleza e outros mais de humor, o espetáculo tornou-se agradável e sem inspirar o cansaço. A emoção “jogada” do chamado “velho circo” ou circo tradicional, deu vez a emoção concentrada e objetivada oriunda do “novo circo” envolvendo ainda mais a plateia já bastante entusiasmada pelas peripécias dos intérpretes.

A gestualidade destes, muitas vezes, era combinada com números de circo como cambalhotas, giros e técnica de equilíbrio. Em outros, como o pas de deux inicial – numa das primeiras cenas do espetáculo ao som de uma música popular – não foi solucionado de modo eficaz ficando gratuita a intencionalidade do jogo gestual e dos números circenses em se tratando de um espetáculo desta pretensão.

O espetáculo não pretendia contar uma história e os quadros apresentados bem como a sugestiva trilha sonora de clássicos do pop/rock já nos inseria no contexto temático pretendido pela trupe. A dramaticidade estava presente ao longo do mesmo, seja pela iluminação, pela interpretação dos artistas/criadores e pela sonoplastia. Talvez o figurino pudesse ser melhor ajustado tensionando o desenho da roupa às características dos personagens desta trupe-gang, afinal, os membros de toda trupe ou gang se diferem pelos seus universos cognitivos particulares.

É cada vez mais raro estarmos diante de uma catarse coletiva em espetáculos de artes cênicas no Brasil. Muitos se entregam ao apelo do melodrama, ao susto-espetáculo, a performers exacerbadas e a dramas cerebrais. Mas não foi o que vimos no espetáculo “Círculos que não se fecham... experimento n. 1” onde a emoção, a tensão e o calor do circo estiveram presentes num espetáculo bem dirigido, cheio de momentos instigantes, climas dramáticos e, principalmente, contagiante pela alegria de seus intérpretes.

Pois é Goebells... uma verdade contada cinco vezes vira isso: espetáculo!

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