QUE CLÃ É ESSE?
Dyego Albuck
O grupo Clã de Nós do Rio de Janeiro tem por filosofia um compromisso sério com a arte e o dever de deixar gargalhadas por onde passar. Nesse mês armam sua barraca em Recife no Seminário Internacional de Crítica Teatral com duas esquetes: a premiada esquete “Mais um”, que tive o prazer de criticar, e com “E se fosse você... aqui, exatamente agora?” que encerra o RECIFEFAZTTEATRO 2011.
A história é simples, um ator que se vê uma situação embaraçosa sem saber o que fazer em pleno palco e compartilha algumas histórias ocorridas em seu dia-a-dia. A fórmula é a mesma que “Mais um”, mas com uma leitura bem diferente e os papéis na encenação trocados. Lúcia Loser, ops! Bruna Campello assina a direção e Léo Castro se mostra em cena.
O figurino também é simples uma blusa branca, sapato e calça preta, gravata, mas será que tudo o que eles fazem é simples? Engana-se quem pensar isso. Já deu para perceber que os temas desenvolvidos pelo grupo comporta uma reflexão sobre a condição humana do ator e da sua relação com o palco. Não há divagações sobre psicologia ou moralidade, mas através do humor apresentam questionamentos dos conflitos vividos por um artista, ou melhor, por qualquer ser humano.
O recurso que eles utilizam para tecer a sua dramaturgia é o “teatro dentro do teatro”, mais conhecido como metateatro que na narrativa de Léo não se torna como um simples recurso narrativo, mas busca ampliar, através do bom humor, os diversos personagens encarnados na vida real de um ator em crise.
Quando ele entra no palco e faz a pergunta-título do espetáculo para o público presente, há um profundo silêncio. Aqui não sentimos mais quem é ator e quem é a plateia, todos se encontram em pé de igualdade ao não saber responder essa pergunta tão complexa. A não reposta alivia o ator que aproveita o ensejo para contar suas peripécias.
É no método “autorreferente” que o ator parece que retoma as origens teatrais, pois ao frequentar a um Encontro de Culturas Alternativas, de cara fazemos um link com os rituais gregos em homenagem a Dioniso, visto que nesse encontro havia danças, músicas e até bebidas de procedência duvidosa. Assim, de forma engraçada o ator nos leva a um universo de personagens como: Uma madrilena, uma galera insistente do hip hop, uma cobra com traços da crítica Barbara Heliodora, Inri Cristo, entre outros. A cada narração se ouviam risos constantes da plateia, vale ressaltar aqui uma menina que em nenhum momento conseguia parar de rir, fazendo o ator parar e dizer: “Você vai morrer, viu?”
O ator estava ali sem lenço, sem documento, sem dinheiro, nu num palco onde reinava tal qual um sacerdote do riso, um encenador da vida enfadado pela sua própria existência. Ali se encontrava o retrato metafísico do artista, em que um fio dava continuidade a outro e nichos de histórias se construíam embebedando aqueles que prestigiavam aquele bloco do eu sozinho do ator representado por Léo Castro. A concretude da presença marcante daquele personagem trouxe ao final de sua apresentação um coro de aplausos em que todos se faziam de pé extasiados. Ali se concretizava a filosofia do clã, já que partem sempre da premissa “ O que faz um ator se não provocar?” Petrificado fiquei com todo o ritual e ao parabenizar a diretora e atriz Bruna Campello perguntei no final do espetáculo: QUE CLÃ É ESSE? E ela na hora me respondeu: ELE É DE TODOS NÓS!
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