Márcio Braz
A viagem de Recife até a cidade pernambucana de Limoeiro foi permeada de muitas expectativas. Um delas diz respeito à encenação de “A Inconveniência de ter Coragem” do Pontinho de Cultura Galpão das Artes. A peça trata do empenho do protagonista em ganhar o amor da mulher amada criando um punhado de quiprocós de forma a afastar seus adversários. A peça do autor pernambucano Ariano Suassuna guarda muitas semelhanças com outras peças de sua mesma autoria como “Torturas de um coração” onde situações, personagens e expressões regionais compõem o enunciado narrativo.
Com a encenação de Fábio André, o espetáculo é permeado de figuras e elementos do folclore local, como o painel de fundo expressando em perspectiva uma rua rodeada por casas e a música que acentua ritmos regionais. Os figurinos de Ruy Arruda, Sandra Fragoso e Maria de Lourdes são sinuosos, competentes e bem acabados respeitando a característica física de cada personagem bem como a linha adotada pela direção na condução do espetáculo. Os adereços de Fábio Santana e a maquiagem de Jadenilson Gomes compõem o colorido da peça e se coaduna perfeitamente a iluminação e aos figurinos projetados.
A peça apresenta um elenco excelente que, além de representarem, se desdobram, ainda, como sonoplastas e manipuladores dos bonecos que atuam como personagens homônimos transmutados. Em relação aos bonecos, estes poderiam ser explorados em algumas situações; na peça, são pouco utilizados e pontuam apenas algumas ações. Talvez o encenador possa substituir algumas cenas feita pelos atores por cenas de manipulação de forma a enriquecer a trama e quebrar com a forma regular de apresentação das mesmas.
Em “A Inconveniência de ter coragem” o Galpão das Artes surpreende pelo vigor da cena oriundo do bom elenco, coeso e criativo. Com uma direção arrojada e um belo visual plástico, o espetáculo soube utilizar os vários elementos da técnica teatral, fundindo som e cena, cor e luz, num ritmo frenético impossível de desgrudar os olhos. Destaque para o trabalho corporal onde cada ator criou uma espécie de “gestus” característicos de seus personagens, de fácil leitura e bastante comunicativo. O bom texto de Suassuna sugere formas de abordagens diversas desde o uso de mamulengos e bonecos até a forma usual de competência do ator.
A peça que já circulou por diversos municípios pernambucanos recebeu do Presidente da Federação de Teatro do Amazonas, Nivaldo Motta, o convite para participar do VIII Festival de Teatro da Amazônia, em Outubro, em Manaus. Mais um passo importante no intercâmbio entre as duas regiões que cada vez mais vem se estreitando e estabelecendo relações, vitória sem dúvida, do Seminário Internacional de Crítica Teatral que promoveu este encontro. E que seja uma festa para o nosso público.
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