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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Leitura Crítica - Faca de 2 Gumes

FACA QUE RASGA A TRADIÇÃO
Vinicius Vieira


Para ler ao som de Lady Gaga e, se preferir, se masturbando.

Dramaturgia linear, personagens como centro psicológico tradicional, texto com diálogos cotidianos...

Quem saiu de suas casas para assistir a leitura dramatizada Faca de Dois Gumes e esperava encontrar uma história de começo, meio e fim de maneira tradicionalista encontrou uma outra forma de escrita cênica que dialoga com as tendências do teatro pós-dramático. A Casa Mecane, nova alternativa de centro cultural no Recife, foi quem abriu espaço para a apresentação do Grupo Cênico Calabouço, nessa segunda-feira (29).

A leitura foi dirigida pelo professor de teatro Wellington Júnior que há muito namora a estética performática, quem assistiu o espetáculo Psicoses, da dramaturga Sarah Kane, sabe muito bem do que estou falando (quem não viu pode assistir o vídeo abaixo para ter uma idéia). Esse traço, é verdade, faz parte da assinatura desse encenador que também é pesquisador da obra de Noberto Cardozo. A atitude de desconstruir a normatividade do texto dramático tradicional está presente com muita intensidade também na escrita de Wellington Júnior. Sodomia song é de sua autoria e junto a Febre que me segue, de Breno Fittipaldi, compõe a dramaturgia da leitura. O texto revela-se em crise, assim como a identidade do homem pós-moderno que está fragmentada em meio a globalização, a realidade midiática e o universo virtual, elementos que contribuem para uma reconstrução dessa dramaturgia que contemplou as relações homoafetivas.

O texto de Fittipaldi lembra literatura e explora a possibilidade do eu-narrador, eu-personagem e do eu-personagem-narrador, recurso interessante que dá um colorido especial a forma de contar a história de Pedro e Lui que não podem viver uma paixão, mas decidem pelo sim. Sodomia song é mais explosivo, díspare, retalhado. Aglutina idiomas como o francês, português e inglês. Da arquibancada, ocupada pela platéia, podemos visualizar imagens que integram o (hiper) texto dos atores, caracterizado pela pluralidade de linguagens. A obra constrói uma estética não representacional e iconoclasta (podemos exemplificar o instante de quebra de um ícone quando um ator grita “JESUS É GAY!”, revelando o conflito desse ser que está em colapso com as normatividades arcaicas e religiosas). A teatralidade explorada ao extremo é de suma importância para se constituir a cena.

Falando em cena, quatro atores, ora sentados em quatro cadeiras, ora em pé preencheram o espaço levando o público da ternura à excitação badalada ao som de Bad Romance da pop Lady Gaga. Gritos e palmas chegaram ao ápice quando o ator Tiago Godim fisicalizou os impulsos sexuais simulando uma masturbação, ficando de costas para a platéia, enquanto os demais atores enlouqueciam de tesão arrancando risos histriônicos de todo mundo. Quando Godim virava para frente essa ação era realizada de maneira velada para não mostrar a “punheta mimética”. Fica o questionamento, em meio a tantas quebras convencionais: por que não experimentar o ato de fato? As batidas na parede e os gemidos nesse instante de prazer não convenceram soando forçado e como tentativa de chamar a atenção para um momento que já era de impacto. O texto (o papel impresso) se tornou ao longo da apresentação um recurso decorativo, pois por muitas vezes os atores proferiram as falas sem ler. Seria esse um sinal de uma nova montagem em Recife? Porque a leitura parecia já não satisfazer esses atores que, por sinal, estavam à vontade em cena. Não sabemos se haverá uma montagem de Faca de dois gumes, mas fica o questionamento sobre o objetivo da apresentação: realizar a leitura. Os atores poderiam se debruçar um pouco mais nessa atividade sem perder as construções imagéticas inerente ao teatro.

Apresentações como essa mostram que a cena recifense só tem a crescer quando ousadia e talento seguem sem medo de experimentações que tentam interagir com a realidade social e psicológica do homem plural e em rede.



Um comentário:

  1. Mais uma vez o parabenizo pelo texto. Por conseguir sintetizar tão bem ideias e sentimentos antagônicos que senti ao ver essa leitura. Parabéns. Gostei mais do texto, entendeu? kkkk

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