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A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Leitura Crítica - @.com e Mais Um

George Carvalho
@.com - (AM)
Reality (no) show

Um homem casado, tira sua aliança e se aventura em salas de bate papo, em sites de relacionamento. A máscara dá a ideia de que nem tudo na rede é real. O cenário, uma mesa, um cabide com algumas peças como perucas e uma coleira, computador e internet. Sem roteiro e sem propósito claro, a não ser expor ao ridículo os internautas que se utilizam da rede mundial de computadores para buscar companhia. Assim pode ser definido o @.com, que a Cia. de Ideias, de Manaus, apresentou na última terça-feira, no primeiro dia do RECIFASTEATRO, dentro da programação do Seminário Internacional de Crítica Teatral.

A ideia da cena é bem interessante. Por ser de Manaus, esse mérito pode ser potencializado, visto que o acesso aos conhecimentos das artes cênicas aí é restrito – como já foi pontuado por um conterrâneo amazonense na abertura do evento, no último sábado. Mas @.com se perde da própria ideia que acaba virando um fim em si. Não se percebe um conceito de dramaturgia clara, o roteiro é vulnerável aos desdobramentos de uma sala de bate papo e o objetivo do espetáculo parece ser tão somente expor alguém na web cam – o personagem mascarado insiste muito nisso.

A plateia ri em alguns momentos, como se desconhecesse o que acontece nesses ambientes virtuais; se entendia em muitos outros, e aí, parece bem clara do que realmente ocorre na rede de papos virtuais; ao fim da obra, o que permanece é a exposição escrota de um pobre rapaz que estava conectado no horário infeliz em que a cena estava sendo apresentada. No início, parece que tudo é armado e que a pessoa que responde no msn é integrante do grupo de teatro. Isso gera uma falsa expectativa de que @.com possa ter algo a apresentar.

Ledo engano! Impossível não pensar o processo judicial ao qual esse grupo de Manaus seria submetido se o rapaz do outro lado da cam soubesse da situação ao qual foi exposto. Alguns minutos de conversas online, vídeos, corpos à mostra, pedidos atendidos... E o homem casado coloca a aliança e se despede do público retirando a máscara que usara durante todo o processo de ‘encontros virtuais’.

Numa época em que se discute o conceito de pós-modernidade e em que os avanços tecnológicos permitem contratação e até mesmo vínculo empregatício online, é estranho que o uso da rede mundial computadores para se buscar companhia para finalidades sexuais (e essas finalidades sempre foram buscadas de alguma forma) seja tratado de uma forma tão irresponsável e com tamanha fraqueza de questionamento. As relações virtuais podem render muita reflexão e isso pode muito bem ser revertido de uma forma mais saudável e, de fato, questionadora pelas artes cênicas, sem quaisquer preconceitos ou falsos moralismos – algo que o espetáculo CORRA (PE), por exemplo, fez muito bem, uns anos atrás, quando levou à cena um bate papo no msn de forma muito mais criativa e inovadora.


Mais Um (RJ)
Luz na Lúcia!

Após uma séria de experimentos cênicos que variaram entre o clichê e a estranheza, o encerramento da primeira noite do Recifasteatro, dentro da edição 2011 do Seminário Internacional de Crítica Teatral, reservou ao público uma grata surpresa. No palco grudado do Teatro Capiba, Bruna Campello deu vida à Lucia Loser e esnobou competência com um texto leve e ao mesmo tempo reflexivo, pleno de referências a outras linguagens dramatúrgicas, como a telenovela e o cinema.

Mais Um, da companhia Clã de Nós, do Rio de Janeiro, é uma prova de que não se precisa muito para fazer um bom teatro. Basta um trunfo de cabelo! Divertido sem ser apelativo, e trazendo ainda uma mensagem sobre o contexto social de cada indivíduo, a cena consegue prender a atenção da plateia utilizando-se das próprias contradições do teatro ao expor um personagem viciado em testes para atuar, sem nunca conseguir um papel, ao ponto dele próprio se questionar o porquê dessa busca incessante.

Durante a cena, Lúcia dialoga com a voz de um diretor, que não aparece. A trilha sonora, inspirada no programa Big Brother Brasil, da TV Globo, reitera o questionamento sobre o papel social do indivíduo. O cenário é o próprio espaço cênico e a iluminação também se adequa a este fim, evidenciando a suposta e questionável habilidade da atriz que está pleiteando um papel quando exposta a esse recurso cênico.

A certeza de que ainda há muito a ser explorado no contexto de Mais Um, apesar dos inúmeros clichês em que se pode cair – e a linha do stand-up comedy pode ser apontado com um desses, deve motivar a equipe de concepção cênica desta obra a buscar outras situações, ampliando o leque de histórias de Lúcia Loser. Vale a pena botar luz nela, porque ela ainda pode ter muito a contar!

Um comentário:

  1. Acho pouco provável chamar de crítico alguém que se dispõe a falar daquilo que não conhece. Questões pessoais sempre estarão presentes em críticas (sejam elas bem feitas ou não), porém falar equivocadamente daquilo que é de conhecimento público e ainda assim o tal crítico desconhece é no mínimo falta de inteligência. Manaus é uma das maiores cidades do país e tem um indice de desenvolvimento humano praticamente igual ao da região metropolitana do recife além de ter um pib per capita muito maior que o nosso. Caro George, antes de críticas busque conhecimento (esse é o segredo de um bom crítico, já que acabo de ter a confirmação de que você não sabe disso). Abraços e melhoras.

    Antônio Duarte. (Alguém que sempre busca informação pra não errar nos comentários)

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