Quem sou eu

Minha foto
A Renascer Produções Culturais organiza o Seminário Internacional de Crítica Teatral desde 2005 evento que reúne estudantes, profissionais e estudiosos de diferentes formações acadêmicas em um compartilhar de experiência, opinião e conhecimento dos mais diversos países, com o propósito maior de fazer avançar o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, em todo o mundo. O exercício da crítica de teatro como disciplina e a contribuição para o desenvolvimento das suas bases metodológicas constituem, assim, a prática do Seminário Internacional de Crítica Teatral, levada a cabo por críticos do teatro e uma gama de especialistas nas áreas de conhecimento que entrecruzam comunicação, história, filosofia, arte, literatura e teoria teatral, dentre outras. O Seminário Internacional de Crítica Teatral é um projeto que busca implementar no estado de Pernambuco um espaço permanente de debate sobre a estética teatral contemporânea. A edição 2011 tem como tema o Teatro fora dos Eixos. Todas as atividades desenvolvidas pelo seminário terão como base a discussão das poéticas cênicas que estão se propondo em produzir trabalhos que estão fora do cânone do teatro ocidental.

sábado, 3 de setembro de 2011

Leitura Crítica - Sobre-viver, viver, ver

I´M SURVIVOR


Dyego Albuck
É com uma encenação confusa que acontece a esquete Sobre-viver, viver, ver do Curso Avançado do Sesc de Casa Amarela dirigido por Adriana Madasil. Geralmente em cursos de formação continuada prioriza aqueles que desejam mergulhar no universo teatral numa forma de desenvolver suas habilidades, suas criatividades e sua expressividade. Em cursos de iniciação teatral, do qual já participei, veem-se em perspectiva panorâmica os diversos elementos que compõe a obra teatral. Ao me deparar com a apresentação do curso do SESC me atemorizei e sobreveio logo esta pergunta: O que é ensinado nos cursos avançados? A resposta deveria ser simples: A ARTE DO ATOR.

É batata quando entramos em um curso sempre somos ensinados que: “TEATRO É A ARTE EM QUE UM ATOR INTERPRETA UMA HISTÓRIA PARA UM PÚBLICO E O ATOR É AQUELE QUE CRIA, INTERPRETA E REPRESENTA UMA AÇÃO DRAMÁTICA BASEANDO-SE EM TEXTOS PREVIAMENTE CONCEBIDOS POR UM AUTOR.” Me desculpem as voltas, mas não é no trabalho do ator a que quero me deter, mas sim no trabalho de outra figura, não mais importante, mas essencial para um bom trabalho de representação, o encenador.

Quando entramos no teatro Capiba nos deparamos com um caixão, em que se encontra uma mulher vestida de branco no lado esquerdo do palco. Ao centro temos um casal dormindo, aqui já ressalvo o figurino confuso, visto que o homem estava de cueca samba-canção e a mulher estava de macacão e tênis. Ao lado direito do palco vemos um portal sem porta, em que se encontra um homem vestido socialmente com um buquê de rosas na mão.

A tentativa de montar um dos maiores autores brasileiros se mostra equívoca já que, segundo a sinopse, temos duas irmãs que sobreviveram a uma grande catástrofe e que são perseguidas pelo Poder Central. Uma se chama Carmem que vive trancada em casa em seu mundo paralelo com um amigo imaginário, a outra Vera que busca suprimentos em supermercados abandonados que reencontra um homem que lhe fala de um lugar além da Zona Contaminada. Essas duas irmãs representam a única possibilidade de redenção da Humanidade. NOTEM A COMPLEXIDADE DO TEXTO DE ABREU!

Ao estudarmos a vida e obra de Caio Fernando Abreu, adianto que sou um grande fã de suas obras, percebemos que em sua jornada como escritor já se podia notar alguns enfrentamentos como, a busca de uma identidade, suas inquietudes, seus comportamentos alternativos, suas vivências, em meio às drogas, entre outros. Suas obras falam, geralmente, de sexo, de morte, de medo e principalmente da solidão. Ele é apontado como um fotógrafo da fragmentação contemporânea. Caro leitor, veja a dificuldade de se montar um autor como este e volto a perguntar: Será que tudo isso foi levado em consideração na escolha desse autor? Voltemos ao papel do encenador.

Quero frisar, antes de tudo, que não quero aqui ofender o trabalho da arte-educadora, mas apontar caminhos, já que coube a ela às tomadas de decisões para chegar ao resultado visto na quinta-feira. O que vejo como ponto de partida para uma boa encenação seriam mesmo os princípios da arte do ator. Recordo-me de uma oficina que fiz com Samuel Santos em que estávamos praticando um exercício de interpretação, e no desenvolver da dinâmica, ele percebeu que não sentíamos o que representávamos mediante a isto ele disse uma frase que jamais me esqueci: NÃO FINJA QUE FAÇA, FAÇA! O trabalho do ator na concepção de Madasil era repleto de erros primários, tal qual exacerbação na interpretação, ultrapassando todos os limites dos clichês, palavras como orações verborrágicas sem sentido algum. Onde está o sentimento de que tanto se vê nas obras de Abreu? Por isso, ressalto a importância do encenador, visto que a falta de preparo tende a criar fracos resultados. O papel discutido aqui também é o de pedagogo do teatro, já que se faz necessária a segurança no tema que será abordado para que possa conduzir os alunos a processos de descobertas permitindo uma interpretação pessoal e do grupo a fim de auxiliar o fluxo da aprendizagem, pois que é o encenador se não um ator mais experiente ou melhor o autor de um espetáculo?





Um comentário:

  1. José Manoel Sobrinho3 de setembro de 2011 às 14:47

    Dyego...

    Infelizmente não tenho conseguido acompanhar o Seminário, minhas tarefas no SESC tem me impedido de acompanhar estas experiências.
    Mas estou acompanhando através dos escritos e, mesmo sem ver as apresentações posso afirmar que o seu comentário me toca com atenção. Tenho me preocupado muito com o que é que está ensinando os Cursos do SESC. Tenho, inclusive uma posição contrária a que sejam realizadas montagens com alunos dos cursos de iniciação e avançado. Não sinto pertencimento, não sinto que seja o momento. E a cada nova experiência vou consolidando essa minha posição. Há muitas variáveis, a principal delas é que nem sempre um bom professor de interpretação é um bom encenador. O contrário também procede. Na condição de professor experiente de teatro e na condição de coordenador de Cultura do SESC Pernambuco preciso e devo tomar posições, definir diretrizes e o seu texto me ajuda a pensar com mais severidade. E não me refiro exclusivamente a Casa Amarela, mas aos cursos do SESC em Santo Amaro, Santa Rita, Piedade, Caruaru, Arcoverde, Triunfo, Petrolina e onde mais o SESC Pernambuco estiver atuando.
    Espero contar com a análise desapaixonada dos professores de teatro do SESC, mas o certo é que deverei me posicionar com mais severidade.
    Grato. Um abraço.
    José Manoel Sobrinho.

    ResponderExcluir