OPHÉLIA
Márcio Braz
Uma das personagens mais queridas da dramaturgia universal ganha vida de forma inusitada na montagem da Companhia de Teatro e Dança pós-Contemporânea d’improvizzo Gang. A peça toma por base a personagem Ophélia da tragédia de Shakespeare “Hamlet” onde a pura e ingênua mocinha, filha do conselheiro Polônio e irmã de Laertes, se apresenta ora acentuando sua ingenuidade e delicadeza ora tracejando sua meninice de um jeito sapeca e brincalhão.
Mas Ophélia não está sozinha. No jogo dramático “um dia de corte” éramos todos participantes: da plateia/plebe surgem Hamlet, sua mãe, Gertrude, o pai de Ophélia, Polônio, o coveiro e o verme. Ao que tudo indica as peças deste jogo estavam lançadas e era possível prever elementos do teatro-jogo e influência beckettiana em alguns momentos.
No entanto, estas personagens não saíram do bloco das apresentações e toda a peça girava em torno do monólogo da atriz Pollyana Monteiro sobre fragilidade, trechos da tragédia shakespereana, sexualidade e feminilidade. As personagens escolhidas não participavam diretamente do percurso narrativo da personagem Ophélia e serviam apenas como digressão poética desta vez brincando com o humor em comunicação com a plateia.
Trata-se neste espetáculo da chamada dramaturgia cênica onde os intérpretes (neste caso, ator e diretor) se apropriam de um tema ou peça consagrada pela maistream e reescrevem sua versão geralmente buscando um outro elo de participação com a plateia e não mais o modelo tradicional de montagem teatral, seja pelo drama, seja pelo épico. Mas neste caso é justamente quando a peça se volta pro seu universo dramático contido na elaboração poética fora do jogo com a plateia que ela cresce em qualidade, basta citar a belíssima cena final onde a menina-sapeca Ophélia executa sua dança como a bailarina das caixinhas de música em movimentos singelos e sob uma iluminação sensível.
Os adereços da personagem como anéis e pulseiras pareciam representar essa Ophélia-mulher em contraponto a Ophélia-menina do fim do espetáculo. As pulseiras são atiradas sobre o círculo central no palco e os anéis são retirados de vários porta-jóias localizados no canto esquerdo. Uma menina-mulher talvez?
Bem, o certo é que “Ophélia”, de e por Paulo Michelotto e Pollyana Monteiro, se utilizou de recursos bastante sólidos na composição da peça que poderiam ser melhor explorados em favor da narrativa.
A peça foi muito bom. e vc está de parabens pelo texto!
ResponderExcluirObrigado, querido. Viva o teatro.
ResponderExcluirmárcio, grato pela crítica.
ResponderExcluirestamos repensando a narrativa.
se você tiver mais alguma indicação, por favor, nos envie,ok?
abração
mickey mausssss